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quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

AS SETE ONDAS...

Um de janeiro. A primeira onda veio. Olhei aquele mar imenso, senti-me dentro. No ondular tenso desse ano inteiro. Vaivém de esperanças com incertezas. De janeiro à dezembro. Brasil da ressaca, dos arcabouços, orçamentos. Maré no começo. Pulei sem receio!

A segunda onda chegou, com águas que vinham do outro lado do mundo. Trazia os mesmos sentimentos. Onda de extremos. Guerras por terras, atos absurdos. Chorei. Eu não sabia russo, nem árabe ou mandarim. Pulei rapidim.

A terceira onda chegou. Trouxe as queixas e o troco da natureza. Vieram plásticos, tampinhas, além das flores brancas e garrafas de cachaça. De tanto que me calei, que não gritei e me envergonhei. Pulei também.

A quarta onda era virtual. Não fui fundo. Nem pesquei. Apenas curti e pulei!

Na quinta onda vieram os peixinhos. Conversamos rapidinho. Era raso. Dei um aceno rápido, abrindo os meus braços e eles tiveram que partir...

Na sexta onda eu entrei de corpo inteiro. Sem receio. Queria o sal grosso limpando o corpo e a alma. Tirando o ranço desse ano grosseiro.

E a última onda chegou enfim. Era onda pequena. Miúda. Mas foi crescendo. Tinha uma crispa branca de espuma e esperança. Dobrei os joelhos. Olhei para as estrelas. Fiz o meu pedido e voltei pulando feito criança. Ah, essa onda chamada esperança...

Ainda hoje recomeço. Novinha em folha. Com força e sem avatar. Temos um mundo real pra consertar! 

 

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terça-feira, 14 de novembro de 2023

TROMBA DE CALOR!


O mapa de atrações do Parque temático era um labirinto. Ao invés do musical de sereias cantantes, paramos num mini Zoológico com animais sonolentos e entristecidos.
Um espaço grande e com animais alimentados. Mas o calor escaldante do dia deixava os bichos lentos e entediados. Os maiores, jogados por sobre as pedras, como o urso e o leão, tinham um ar de melancolia naquele enjaulado dia. Eu apertava meus passos e meu coração.   
Avistei os flamingos, os macaquinhos e os nada pacatos suricatos. Muito alegres, um barato! Quem me encantou de fato foi a elefanta, ou aliá. Eu prefiro “elefanta”, o som do “anta” parece combinar com o movimento alongado da sua enorme tromba. Bem longa. De grande e boa milonga. À procura de água para encher a tromba e se refrescar...

Ela começou um lento caminhar em nossa direção. Havia um fosso, mas não era distante e pudemos acompanhar o desfile monumental. Uma massa grossa de fina graça e elegância vindo mansamente com suas centenas de quilos e pele enrugada. Balançado a tromba e a pênsil cauda. Parou em frente do grupo e vaidosa, ajeitou-se para posar.

Cabeça enorme. Olhinhos pretinhos e miúdos. Virou para um lado e para o outro, moveu a tromba, coçando delicadamente suas patas, esfregando a direita na esquerda, num movimento leve feito balé. Senti ali a poesia de Drummond, que dizia se fantasiar em frágil elefante de papel crepom e sair às ruas, desmoronando todos os dias...

Meu coração de algodão quase se desmanchou ao ver o desalento e a solidão. E no meio daquele mini zoológico escaldante veio a vontade nada poética e delirante de dar uma patada gigante em quem prendeu os animais ali. 

Tirem já esses bichos entristecidos... daí!




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VEM NOVIDADE POR AÍ...

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AGUARDE!

quarta-feira, 25 de outubro de 2023

A VILA QUE CHAMAVA FLOR...

A placa lembra o lugar. Vila Flor. Onde ele nasceu e conheceu seu grande amor. Mas sua flor tinha espinho. Maria Emília era dura de conquistar. Partiu para o Brasil. E o coração dos jovens enamorados foi separado por dois anos, por um grande e impiedoso oceano.                

A placa lembra o navegar. Sua aventura de cruzar o mar. Até Emília reencontrar. Agora dona da venda. Comércio em expansão. Continuava dura feito pedra do porto. Dona de um singrado coração. Mas o Henrique veio da Vila Flor, vila de nome lindo. De clima umedecido, campos verdes e limbo. Cidade feita de pedras. Um vilarejo de poucos habitantes. Distante daqui, em Portugal. 

Os passos de Henrique que ecoavam em Portugal chegaram enfim ao Brasil. Com a Emília insistiu, casou, formou família. Um filho e duas filhas. Henrique de amor "Henriqueceu", como nunca se viu. 

A placa lembra o lutar. Sentava ao contrário na velha cadeira e ficava na porta da venda. Vendinha antiga com sacos de cereais a granel. Tocava bandolim. Espantava a clientela assim. Não foi fácil a jornada. Vida dura. Trabalho na madrugada. Um acidente de carro que invadiu a calçada e sua memória doente aos poucos se apaga. Foi-se aos sessenta e seis. Deitado feito flor, na cama, ao lado do seu único amor.

A placa Vila flor lembra sua passagem. Minha linhagem. Vila Real, Portugal. Vi recentes imagens que mostravam uma espécie de carnaval. Fila de portugueses seguindo um tambor ritmado. Um som triste e desolado. O povoado de Vila flor desce as ruas de pedra lembrando o antigo povoado. Homens, mulheres, crianças. Meus olhos úmidos do passado desceram a ladeira. Tudo terminava em feira, num mercado, como Emilia e Henrique num velho encontro enamorado.

O amor que cruzou o oceano veio dar em mim. Tem Vila Flor no meu sangue. Meu coração tem flor. Nestes dias perfumados de primavera mandei fazer a placa e prendi na parede ao lado da janela. Olho com ternura para ela.

A placa do meu avô! Que por amor... veio da Vila Flor!

 

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quarta-feira, 4 de outubro de 2023

UM DIA SEM SALTO ALTO...

O tio Toninho tinha uma Kombi de duas cores. Branca e azul clarinho. Era o sonho da criançada. Servia para levar as mercadorias da fábrica. Atendia os clientes que moravam mais distantes. Às vezes, em cidades vizinhas e fazendas gigantes.
Nas férias, ele resolveu atender o pedido da garotada. Momento raro. Decidiu nos levar até Amparo, visitar um antigo cliente alemão. Fomos em cinco. Os três primos, tio Toninho e a sofisticada tia Zilda, para tomar conta da família.
Tia Zilda era chique. Vestidos longos, salto alto e um cabelo que saltava quinze centímetros da cabeça, sustentado por um laquê duro e perfumado. Frequentava os lugares mais finos de São Paulo e descia a serra para comer no Gáudio, o ponto mais nobre e atraente no litoral de São Vicente.
Na ida, o de sempre. Cheiro de óleo queimado e quente dentro e fora do carro. E as crianças se divertindo com o sacolejo destrambelhado. Lombadas inesperadas levavam nossas cabeças ao teto, afundando o lindo cabelo da tia Zilda em dez centímetros. Que dó. Mas ficava melhor!
Duas horas depois, na venda do alemão, tio Toninho deixou os produtos e pegou o pacote de dinheiro. Ganhamos queijo da fazenda e um pote de mel pro ano inteiro.
A volta que complicou. Um prego enferrujado na pista e o pneu da Kombi furou. Com o carro parado, os três pequenos endiabrados e o parafuso que não queria sair, tia Zilda resolveu sair da pose! No meio da pista ergueu de lado a saia fazendo sinal para algum santo homem parar. Pararam cinco. Só um, com a intenção de ajudar.
Depois do auxílio e da troca demorada, tio Toninho seguiu até o borracheiro. Uma bimboca suja a dez quilômetros dali. O estômago das crianças roncava e a tia Zilda não teve receio. Pegou o facão do borracheiro, passou umas três vezes no vestido azul de veludo e cortou grandes lascas de queijo, colocando mel por cima de tudo.
Foi melhor que um banquete. Lembro do gosto até hoje. E da elegância da tia Zilda, com uma finura maior que a fineza. Nem todo dia... é dia de princesa!


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segunda-feira, 18 de setembro de 2023

PASSARINHOU, FLORESCEU, FLORIU...



Abelhinhas fartas e meladas entraram valsando pela janela aberta como se tivessem cumprido seu grande papel. E pelas asas de alegria, devem ter produzido um ou dois baldes de mel. Chegaram as borboletas azuis, amarelas e pretas. Sabiam de alguma novidade. Largaram, amarrotadas, seus escuros casulos e pela primeira vez, experimentaram voos mambembes e inseguros à luz da liberdade.  
      

Os curiós, curiosos, foram os primeiros a saber. Não deram um pio. Um deles fingiu que não me viu. Comecei a desconfiar de alguma notícia mais quente. Os bem-te-vis bem-te-viram bem antes de todos que as paisagens estavam diferentes e entoaram notas de terças numa eloquente harmonia sertaneja.

 

A grama estava mais verde. Sapos pulavam. Insetos voavam. Nos cantos, bichinhos doidos se embolavam. E sem pudor se amavam. Que raios acontecia ao redor? Quem espalhava esse tanto de amor? E sacudia poléns afrodisíacos nas florações?

 

O bem me quer não bem me quis estragar a surpresa. Melhor perguntar à mãe natureza. Fui até o pé de milho. Sussurrei ao pé do seu verde-amarelo ouvido... quem é que arrancou o terno cinza e vestiu todo mundo com traje florido? 

O milho pipocou e não falou. O dente de leão rugiu, mas não contou. Nem o vento quente que bateu, me soprou. Alguém pode dizer o que foi que rolou? Tudo desabrochou. Explodiu de amor...


E debaixo da janela, a Maria sem vergonha, tagarela não se segurou... ainda não sabe?

A primavera... que chegou!



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terça-feira, 5 de setembro de 2023

NO MEIO DAS ÁGUAS...


O rio Una desce a serra para desaguar no cantinho do mar. Escuro. Quase preto. Una. Como os indígenas o batizaram. Suas águas, negras, chegam penetrando lentamente o oceano em faixas escuras e disformes, sem contudo se misturar no verde claro do mar.  

Do alto, as diferentes cores se distinguem. É fácil enxergar. Claro aqui. Escuro acolá. Mas é de perto que o entremeio nebuloso aparece. Ponto turvo. Onde as águas se entranham... Onde o rio não é mais rio. E o mar, ainda não é mar. Nem doce, nem salgado. Meio termo. Sal adoçado. Meio limbo. Meio aflição. 

Que tipo de peixe vive lá? Dizem que as tainhas sobrevivem. Suportam as maiores mudanças. De ambiente. De pressão. Aguentam firmes a exaustão. Certamente irão mais longe desse jeito... Sardinhas à direita. Robalos à esquerda. Homens a pescar.  

Lisas, as tainhas acenam pra cá. Escapam pra lá. Para duramente chegar ao seu verdadeiro habitat! Fico imaginando quantas vezes fazemos esse mesmo trajeto  turvilíneo. Quantos mergulhos em águas nebulosas. À procura do nosso lugar. 

E seguimos, peixes urbanos, contra fortes correntes e sob pressão. Por paisagens que não gostamos. Lugares que não pertencemos. Gentes que não reconhecemos.

Feito tainhas, atravessamos. Ligeiros. Sem nos deixar contaminar. Pois o maior risco dessa travessia, talvez seja se acostumar. E viver, eternamente, no líquido insípido. 

Daquilo que não é rio. Daquilo que nem é mar!     



*                                 *                                                                       


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quarta-feira, 30 de agosto de 2023

VOVÓ É UM ANJO!

Vó Emília virou uma espécie de anjo pra toda minha vida. Eu tinha só seis aninhos quando ela se foi. Tão pouco. Tão muito.

Vó entrei na escola! Seu sorriso se abriu naquela hora. Quando a mente já não lhe dava mais entendimento, entendeu com o coração. Não falou meu nome. Apenas me pôs no colo e eu segurei sua mão. Tudo ali nos bastou. 

Depois da sua partida, uma presença volátil me rondou. Nas horas de angústia eu falava com ela no meu silêncio. Na água do banho sob o chuveiro. No vão dos pensamentos. Na exaustão dos medos e das preocupações. Eu imaginava seu colo e o meu repousar sereno. Era o sopro que me empurrava. Luz que acalmava. Alma que sem eu ver me confortava.

Herdei coisas da vó Emilia que demorei um tempo pra entender. Ela gostava de comprar casas e depois vender. Comprei algumas. Coisa de português. Segurança ou apego talvez. Com os anos fui me desprendendo. Vendi as casas, apartamentos. Agora me basta um lugar. Apenas um lar para descansar. Herdei seu queixo, sua caixinha de surpresas. Sua força e seu grau de dureza. Vó Emilia trabalhava sem tempo de sossegar. Também tenho esse tanto de ferro. Difícil relaxar.

No entanto eu dormia suave em seu colo abraçante. Ninho quentinho. De seios fartos e grandes. Sentia seu perfume. Ouvia seu cantar me ninando...  Hoje ouço sussurros e palavras ao vento. É na voz dos anjos que ela entoa seus conselhos.

Eu tinha seis anos. Tão pouco. Tão muito. Sei que a Emília me olha e sempre irá me guardar.  Não sei se a estrada é longa ou breve para lhe encontrar. Passe o tempo que for, nossa conversa vai terminar...

Porque aquele dia, vó, eu só queria contar como foi o primeiro dia de escola... será que você ainda se lembra? Posso te contar em silêncio agora?

 

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terça-feira, 22 de agosto de 2023

JOGO COMPLICADO DO AMOR?


Às vezes está em nossas mãos o tempo inteiro. Às vezes, nas mãos do parceiro. Começa a trama. Feita de barbante, a delicada cama. Entramos para brincar. Depois o jogo começa a esquentar. Dedos por baixo. Dedos por cima. Num balanço ágil e solto. Fácil de realizar. Com o tempo, as mãos vão mais devagar.

O polegar ajuda. Às vezes se inclina. O parceiro reflete e imagina. Olha pelos lados. Pelos cantos e por cima. Faz o movimento com desenvoltura. Criando nova figura. E passa sua vez...
O jogo vai ganhando dificuldade. Não importa a idade. A experiência conta mais. Os pais passam para os filhos. Mas os filhos, muitas vezes ensinam os pais. O lance é estar sempre pronto. Para sair das ciladas. Inventar outros laços. Sair dos embaraços. 

Tão lúdica essa brincadeira. A mais provocadora dos jogos e brinquedos que já tive. Mais amável que War ou Detetive. Mais complexa que dominó ou ligue-ligue. 

Eu não sabia o seu significado. Sigo compondo o aprendizado. Eu e meu parceiro atados. Nossos dramas. Nossa trama. Nossa cama. Cada qual com seus enredos e anseios. Às vezes ganhamos. Em outras, perdemos. Nem sempre achamos saída. Mas de algum jeito aprendemos. 

Esse jogo engenhoso e sedutor, com erros, acertos e ilusões, bem poderia chamar...
amor a dois!



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foto @soudessaépoca

Para saber mais sobre a brincadeira "Cama de gato"
https://www.coisasdojapao.com/2019/06/ayatori-cama-de-gato-e-brincadeira-com-barbante-tradicional/

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sexta-feira, 11 de agosto de 2023

A ESCOLHA DOS IRMÃOS...


A cachorra era branca. Mas quase nunca estava assim.
Andava sempre cinzenta, da poeira que se depositava no quintal. Naquela época não havia pet shop e banho de cachorro era no tanque mesmo. Com direito a água de torneira e um bom sabão... Antes de terminar, ela pulava, magricela e ensopada, escapando de nossas mãos! Chacoalhava os pelos por todo o quintal. E depois rolava no chão feito um cão vagabundo...
Era a nossa Sissi. Uma lulu toda branca com um olho preto. Lembro do dia que ela fugiu de casa. Talvez por rebeldia, para curtir a liberdade. Ou, o impulso instintivo da maternidade que já latia...  
Eu e meu irmão passamos dias em desespero até que, depois de exatos sete dias, ela entrou correndo pelo quintal abanando o seu rabo feliz e felpudo. Voltou! Agora, cinza chumbo. E prenha!
Depois de algum tempo, nasceram Brisa e Brasa. Um era preto com focinho branco e o outro todo branco. Lindos bebês alegres e chorões derrubando tudo por onde passavam. Era comida, potinho, latinha e xixi por toda a casa.
Passada a euforia e no auge da nossa alegria, o poder materno decretou a sentença - Não dá para ficar com os três! Vocês terão que escolher...
A escolha é sempre dura. Vem com culpa e amargura. Escolher um, é deixar o outro. É comparar amor. Jamais saber o que teria acontecido, se o outro tivesse escolhido. A escolha corrói. E dói... Ainda mais, para dois irmãos pequeninos.
Naquele momento de angústia, já em prantos e desespero eu falei baixinho: - Brisa! Meu irmão, esperto, disse rapidinho: - Brasa! E minha mãe retrucou meio brava: - Não é essa a escolha. Ou ficamos com os filhos ou com a cachorra!
Sorrimos aliviados, abraçando fortemente a doce Sissi que sacudia o rabo em nossos braços! Quanto aos filhotes, doamos os dois para a vizinha ao lado. Todos os dias, a família se reunia. A mãe, os filhotes e os dois irmãos.
Crianças pequenas, encontram grandes soluções!   
                                                                   *                           * 


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quarta-feira, 2 de agosto de 2023

MAMMA MIA, CASO DE FAMÍLIA!


"América, América, lá se vive que é uma maravilha. América, vamos ao Brasil com toda a família"... Eles chegaram ao som da canção do imigrante italiano, depois da longa jornada de vinte e tantos dias num navio carregado de gente e sonhos embarcados.

Juntaram-se no bairro do Belém, numa vila pequena onde todos se conheciam e participavam com alegria da vida alheia... A nona Rosalia falava alto que saltava a veia. A Bela e o Giácomo não se importavam. Jogavam buraco, cacheta ou tranca na mesa de toalha branca e belos bordados. No prato ao lado, pedaços de queijo, vinho tinto seco e o baralho. 

O tio Bepo tinha fama de muquirana. Nunca apostou a dinheiro. Passava o dia ocupado filando algo no bar ao lado. Sempre na cozinha, a Zia fazia talharine ou penne, “Mangia che te fá bene”, e empurrava um doce da tigela pela nossa goela. Tio Dante reclamava de tudo. Se alguém dizia que sim, ele apostava que não. Sobrava palavrão em italiano e gestos com “le mani”! Caspite, Figlio di un cane. Ao meio dia na janela, a família parava para ver a prima Estela. Loira, alta e bela que acenava com sua mão de luva branca e seguia pelo Belenzinho, espalhando sorrisos pelo caminho. O nono se derretia. A nona reclamava. O capo maldosamente sorria.

Tudo na mesma vilinha, em casas vizinhas, mais dois cachorros, uma macaquinha, um pombal e galinhas. Eu não falava ainda. Só ouvia e mal compreendia aquela família engraçada, italo-brasileirada de coração grande que sentava as tardes na calçada e se emocionava ouvindo novelas e velhas canções. 

O retrato da grande família resta na parede. Na foto, estão calados e serenos. Seriam os mesmos? Olho cada um deles, lembro a voz e acho graça. Casei, formei nova família. Juntei outras gentes. Gerações diferentes. Agora mais tecnos, quietos e gentis.

As festas são mais comportadas. Na mesa não se joga nada. Ninguém atropela ninguém. Bebemos água e comemos saladas. A casa é mais tranquila e equilibrada. 

Evoluímos a raça? Ou... perdemos a graça?

 

 

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domingo, 30 de julho de 2023

COM QUE ROUPA EU VOU?


Era uma mala grande e vazia. Aberta em frente de casa. Deixada numa noite fria...

O que eu coloco na mala? O vazio me cavocava. Vou pegar duas calças e uma saia. Colocar bem espaçadas. Ainda vai sobrar espaço. Posso colocar uma jaqueta e um casaco. Não sei pra onde vou. E quem me convidou.

Coloco escova de dentes? Cremes? Sabonetes? Coisas de higiene pessoal? Alguns hotéis oferecem. Que hotel será esse? Não há um bilhete, voucher, nem sinal de estadia. Nada além da mala vazia.

Vou colocar livros. Meu vinho favorito. Acho bom colocar bombons. De licor. E se escorrerem pelos tecidos grudando os vestidos? Levo sabão. Tesoura. Linha e agulha. Alguma coisa que faça costura e remende qualquer estrago. Não sei que horas eu parto.

Que tipo de roupa levar? Será sério o lugar? Vestidos longos, sapatos altos, colar. Ou melhor sandália, camiseta velha e uma almofada de sentar. A mala vazia me olha pedindo pra repensar. Coloco perfumes? Ou sementes naturais? Não sei nada mais. Aonde vou? O que vou precisar?

A mala é muito grande. Cabe grandes travesseiros. Devo levar dinheiro? Cheques, cartões? Ou cartas guardadas de amor? Ninguém a meu lado para dizer. Só a agonia da mala vazia prestes a me enlouquecer.

Vou encher de coisas sem muito pensar. Misturar trecos. Objetos. Uns sem sentido, outros de valor. Um secador, um coador, um diploma, uma nota de cem. Meu coelho de pelúcia também. Roupas íntimas! Pode ser que eu fique muitos dias.

Agora sim, a mala está lotada. Abarrotada. Deixada no mesmo lugar. Eu sigo com o vazio de não saber como e quando vou viajar.

Vida e morte. Ambas são assim. Uma mala que a gente carrega e não leva no fim...

 

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domingo, 23 de julho de 2023

ANTES DA BARBIE...

Não era uma boneca vestida de rosa. Eu gostava da geniazinha que entrava numa garrafa e se confinava entre carpetes e almofadas rosa-lilás. A sala cheia de mimos e conforto. Ela poderia trazer livros, presentes caros e tudo que quisesse num cruzar de braços. Mas ficar presa com uma rolha no topo da garrafa era inaceitável. Muitas vezes, colocada de castigo pelo amo! Que gênia atual quer um amo? Eu gostava da Jeannie. Não pensava naquele argumento insano.         

Se os personagens das séries antigas saíssem para um bate-papo hoje em dia, quanta discussão daria... Daniel Boone amigo, curto você e seu rancho. Suas frases antigas são tão puras. -Te encontro no paiol, daqui a seis luas! Mas esse seu chapéu de pele animal. Que ideia cruel. Anos na sua cabeça que até cheira mal. Tire o chapéu, Daniel! Sua virilidade continua. Os bichos agradecem. Continue seguindo a lua.

Eu vibrava com os Pofs, Zapt, Vupt, Boing do Batman e Robin. Sabia que era uma luta fajuta. Mas daria um conselho. Todos sabem quem é Bruce Wayne. Cara de um, focinho do outro. Arranja outro óculos ou uma cicatriz no rosto. Na verdade, Batman, até minha vó sem lentes sabia sua identidade!  

Para Samantha, a feiticeira, também daria uns toques práticos. James é chato. De vez em quando, faça um feiticinho inofensivo e barato. Um prato pronto pro almoço, sem ter que cozinhar. A casa limpinha sem ter que arrumar. E aquela orquídea rosa seca no vaso, faça num torcer de nariz, novamente florescer. James não precisa saber.

As mulheres saíram da garrafa! Jeanny e Barbie tem novos formatos. Anti modelos. Mais libertários. Nenhum major poderá mais prender. O mundo mudando lá fora. Ressurgimos mais humanas e sem escolta. Só se a gente quiser... pra garrafa a gente volta!

 

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segunda-feira, 10 de julho de 2023

O TERCEIRO AMOR...


Anos de convívio. Filhos, conflitos. Rosas, risos, espinhos. O velho casal de amigos com trinta e tantos anos de caminho percorrido resolveu se casar. Com troca simbólica de alianças e uma mesa com toalha branca servindo de altar. Juntos na festa, a família completa, primos, primas, tios, pets e netos. Festa de improviso. De bate pronto decidiram!

Na cerimônia pequena e modesta, conversas dispersas entre goles de champanhe e licor, quando o locutor, que não era padre, muito menos pastor, profetizou o amor. Para mim, eles são três! De onde veio a graduação não sei... 

primeiro amor é feito um bólido. O amor da paixão. Tórrido. Chega com gana e fúria. Mistura sexo e aventura. É o amor impulsivo, compulsivo. Uma atração sem juízo que não sossega. Depressa se vai, assim como chega.

O segundo amor, completou, é o amor sólido. Construtivo e concreto. Tempo de comprar o terreno e erguer o teto. Ganhar dinheiro. De lamber a cria. O amor que enfrenta crises, noites em branco, deslizes e solavancos. É amor maduro e sereno. Resiste, se não for pequeno.

Vem o amor terceiro... O derradeiro. Chega na idade da contemplação. Muito já se fez. Muito aconteceu. Os filhos casaram. A dor nos joelhos veio. O terceiro neto nasceu.

A casa ficou vazia. Os remédios juntos, numa vasilha. Sobrou somente, o você e eu. O último amor apareceu. Maior e mais profundo. Amor que cresceu. Do outro, o incompreensível compreendeu. Nada mais surpreende. Nada mais julga.            
É o terceiro amor... o amor que cuida!


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quarta-feira, 5 de julho de 2023

AVE SOZINHA. AVE MARIA!


Sozinha na praia. Branca e emplumada caminhava calmamente fitando o céu e o mar azul enevoados. Deve ter escapado do bando e veio dar umas bandas pelo chão. Pisava delicada nas areias fininhas e em algumas migalhas de conchinhas. Ia devagar, mansinha. Marchando em contemplação. 

Eu era aquela ave solitária na praia. Mirando a imagem de silêncio e beleza. Seguia com ela mar afora e sozinha. Retilínea. Pernas em marcha, esticadinhas. Água e sal entre os dedos, sentindo o nosso prazer egoista em segredo.

Seria uma garça, gaivota, albatroz ou pelicano? Às vezes me engano com as aves que voam sobre o oceano. Era um ser alado somente, na solitude da contemplação, sem maior classificação. Batizei-a Maria. A ave Maria. O divino ali cabia.

Naquele momento sem gente, o vento guiou minha mente por mares distantes e verdes. Eu velejava sem velas, na suave atmosfera. Um balanço manso da minha alma em terra. A ave não me via. Eu me via nela. 

O sol ardente de repente apareceu. A ave solitária abriu suas asas, agora aquecidas, mergulhou no mar e depois e num ímpeto rápido emergiu. O seu arrepio espantado de penas me sacudiu.

Cheguei mais perto sem ela perceber. Tinha ar de contente. Vi um bico sorridente. O breve momento foi suficiente. Desmontou a cena. Voltamos a ver gente, gente e mais gente.

Ela voou. Eu voei também.

 

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domingo, 2 de julho de 2023

ME DÊ UM JARDIM...

Se pensar num presente para mim... me dê um jardim.

Não hesite. Acredite. Um jardim seria o melhor presente. Pode ser pequeno. Mas que tenha flores suficientes. Coloridas. Pode ter orquídeas, sem vergonhas ou margaridas. Um ou dois arbustos, pedriscos e musgos. Mas que venha com boa terra. Pode ter húmus. Adubo animal. Evite aqueles pozinhos artificiais.  Minhas flores costumam usar coisas naturais.

A grama não tem muito que pensar, escolha a São Carlos ou a esmeralda. Fácil de tratar. Basta sol e água. De vez em quando tirar um bocadinho de praga.

Se for me presentear com um jardim... Não pense duas vezes. Vai alegrar meu coração. Se for pequeno, levo na mão. Se for muito grande, eu trato de arranjar um caminhão. Não rejeito jardins de modo algum. Sempre sei onde colocar. E não precisa ter pomar. Bastam as flores e as abelhas já virão. Junto com elas o beija flor, os grilos e muitos insetinhos escondidos na grama pelo chão. Quero o combo completo com tudo que for e flor.

Quando for me dar um jardim. Fique à vontade. E muito tranquilo. Sei da responsabilidade. Rega, poda, conversas ao pé do ouvido. As plantas entendem o que exala, além da fala.

Se for me presentear com um jardim, não esqueça que meu aniversário é em julho. Inverno, de céu cinzento. Um frio intenso de trincar os dentes dos anões do jardim e colocar paletó nos gnomos e querubins. Então aproveita na hora da compra e traz um pouquinho de sol concentrado pra mim. 

E um outro tanto, entre duas nuvens... pro meu jardim!


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segunda-feira, 26 de junho de 2023

NÃO VOU ESTRANHAR O CÉU...


Não vou estranhar o céu. Está ficando parecido com o paraíso. Tem chegado gente de muito prestígio. Pelo menos, pelo meu crivo, cultural, pessoal e esportivo.

Já tinha um bocado de gente fina. Em cada canto, alguém por quem eu derramei meu pranto e ainda tenho tanto a agradecer. Alguém por quem rezei e chegou lá celebrando. Senna, com a bandeira na mão tremulando. Pavarotti, estremecendo as nuvens com seu fortíssimo canto. Elis Regina, Cazuza, Cauby, Elza, Ângela Maria.

Não vou estranhar o céu... imagina! Tem numa esquina Clarice, Drummond, Suassuna, Coralina. Coisa de Deus, pura poesia. Tem Cecília, Machado, Graciliano, Manoel de Barros. Veríssimo pai. Ah, terei infinitos dias para ouvir suas boas histórias que agradam agora... a Nossa Senhora.

Na praça de esportes celestial, Garrincha, Zito, Carlos Alberto e Telê. Cruyff, Euzébio, Puskas e Pelé. Só olé, e lá a palavra não enrola. Falam a língua dos deuses da bola. Chegou também Kobe Bryant, veio com a filhota e ficam encestando nos arcos da glória.

Não vou estranhar o céu... Tem até nuvem de samba com Carmem Miranda. Depois veio Beth Carvalho e foi recebida por Clara, Ataulfo e Noel. Chegou Marília Mendonça. Chegou de avião, antes da hora prevista. Inezita cuidou de receber a jovem artista.

E vem chegando gente todo dia. Músicos de primeira linha. Erasmo. Ritinha. O último baiano que eu lembrava era Moreira. Depois chegou Gal, no mesmo dia que o caipira paulista Boldrin. Quantas noites eu ficaria sem dormir, ouvindo os dois cantando e proseando nos bancos dos celestes jardins.

Agora foi a vez do velho maluquinho Ziraldo. Boa praça. Deve estar caricaturando os amigos. Ilustrando o céu com sua graça.

Não vou estranhar o céu... Está ficando muito familiar. Já tem meu pai, mãe, tios, tias, avó e irmão, que estão por lá! E aquele meu receio de bater com as botas? Ir pro beleléu?

Isso já foi também. Não vou estranhar o céu. Aqui é que ando deslocada... nesta cada dia mais desvairada torre de babel!


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terça-feira, 13 de junho de 2023

LISTA PARTICULAR DE PERFUMES...


Dona Helena abriu a porta e pediu que eu subisse as velhas e gastas escadas de madeira do sobrado com cheiro de óleo de peroba impregnado. A máquina de costura com velhos tecidos e o aroma da alfazema me levaram à uma antiga cena. Os abraços perfumados nas festas de aniversário. Aroma fresco e familiar da essência da no ar. Às vezes, um tio ou tia aparecia com uma ou outra fragrância conhecida. Violeta ou almíscar. 

O olfato provoca memórias antigas. Desafiei Dona Helena a saltear comigo uma pequena e perfumada lista. 

Comecei com cheiro de mato cortado. Capim-cidrão esmagado. Cheiro de hortelã fresquinha. Casca ácida de tangerina. Folha de limão cravo!   
Ela rebateu no ato. Cheiro de bebê no quarto! Cheiro de talco. De lavanda leve. Pomada Hipoglós na pele.

Cheiro de fruta madura. Cheiro de manga. Pitanga. E todas as frutas misturadas na quitanda!

E o cheiro de pão quentinho? Cheiro de café passando? Cheiro de omelete. Bacon fritando. E assim continuamos. Eu ia puxando... Cheiro de fogueira. Pólvora no ar. Madeira queimando.

Nem sempre o cheiro agrada, dizia ela, tem o cheiro de água parada. Cheiro de gás metano. Estrume de vaca. Borracha queimada. 

E tem cheiro que regenera... cheiro de chuva na terra. Cheiro de tinta aquarela. E cheiros inquietantes. Cheiro de incenso indiano. Cheiro de livros não lidos na estante.  

Seguia a tarde perfumada e solta, com a lista voltando vez ou outra. Cheiro de dar fome e desejo? Cheiro de queijo. De baton no beijo. Fondue de moçarela. Pipoca estourando na panela...

E o cheiro mais divino, falei provocando? Cheiro de Lírio no campo. E da dama da noite, aberta de amor, exalando...          

Foi aí que Dona Helena respirou mais fundo e sorrindo... O que entra vivo pelas narinas, minha filha, são memórias afetivas... de toda uma vida.


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sábado, 10 de junho de 2023

A ÚLTIMA CHAMA DE SÃO JOÃO...

Noite de fogueira. Depois da chuva forte da semana inteira. Sacamos do armário nossos chapéus de palha e roupas remendadas, aquecidos pelas lembranças das festas da infância. A nossa chama estava viva.

Os vizinhos da rua recolheram as toras de madeira nos terrenos vazios, deixando numa espécie de quintal de teto coberto. Três dias seriam um bom tempo para o secamento.

As bandeirinhas em papéis de seda lembravam Volpi nos postes, nas árvores, num alegre ziguezague. Rua fechada. Carro nenhum passava. Havia um clima de interior. Divisões de tarefas nos pratos da estação. Maria, caldo verde, Tereza, o milho, Tio João, o quentão.

Sábado veio e o céu anoiteceu. A noite caipira foi se enchendo de estrelas. São límpidas as noites frias de inverno. Brilhantes, como se Deus tivesse lavado as estrelas e pintado a lua de branco fosforescente.

No meio da rua, a fogueira armada. De quatro em quatro, as toras empilhadas e ligeiramente úmidas davam certa apreensão. Só o fogo ardente daria vida à calorosa atração.

Começaram as tentativas. Um fogo pálido surgia e sucumbia. Álcool, abanos, gravetos fininhos. Nada adiantava. As crianças decepcionadas começaram a brincar de bola. Outros não ligaram, bebiam e conversavam. João pegou a viola.

Às duas da madrugada não havia mais nada. Nem gente ou comida. Nem fogueira e criançada. Sentamos resignados na frente das toras ainda inteiras e a viola tocou a última moda seresteira...

De repente um clarão de arrepiar. Estalos, crepitar. A chama forte começou levantar. A luz do fogo que hipnotiza. Ígnea viva. Que queima os afoitos. E acende os sonhos dos poetas e loucos.

Ficamos olhando a fogueira até o dia clarear.

Muitos não viram. Dormiram...


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segunda-feira, 5 de junho de 2023

PONTINHOS EM SEU OLHAR...


Olhei seus olhos. Vi pontinhos.

Seriam três de reticências? 

Desviei o olhar com receio de não ver a certeza. 

Lá dentro, não me encontrar.


Olhei seus olhos. Vi pontinhos.

Seriam passarinhos? 

Voando. Voltando pro ninho? 

Debandariam assustados com um olhar arregalado.  

 

Olhei seus olhos. Vi pontinhos.

Pretinhas jaboticabas. Ou sementes de maracujá?

Lançadas na pupila côncava que me acolhe 

e semeia em seu doce curvar.

 

Olhei seus olhos, Vi pontinhos.

Agora eram estrelas. 

Planetas. Meteoritos. 

Meus olhos ficaram perdidos 

no vão incompreensível daquele infinito...

 

Por fim moveram-se os pontinhos. 

Loucos elétrons a girar 

numa órbita de amor particular. 

Vi dois seres juntinhos. Iris e Osiris. 

Prestes a colidir e se reintegrar.

 

Olhei seus olhos. Vi pontinhos.

Ávidos e divinos.

A pupila apaixonada se dilatava.

E nossas almas se amavam...

na beira do seu cristalino!



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