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quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

O UNICÓRNIO VIOLETA

                                                                                                            
 Quando ele descobriu que tinha um só chifre e era violeta, seu mundo desabou. Já não era criança. Nem adolescente. Estava todo em transição. E deu até dó! Anemia. Bulimia. Disritmia e outras ias...
Não se sentia confortável entre os equinos, muito menos, caprinos... Tão pouco se enquadrava entre os demais animais de dois chifres.
Restava sempre sozinho, embora fosse o alvo principal dos demais grupinhos. Para piorar, seu pai lhe deu as costas. E sua mãe, não dava respostas.
O tempo foi passando e ele foi suportando até quase adoecer.
Seu violeta escureceu. E o chifre, dentro de um chapéu, escondeu... Foram anos e anos restrito aos quintais, na cidade dos bichos iguais.
Quando enfim virou adulto, preferiu sentir dor, mais do que a solidão. Cortou seu único chifre, duro e azulado, e seus pelos pintou de marrom.
Arrumou depressa um emprego. Casamento. Conta no Banco e cartão. E assim viveu por muitos e muitos anos...
Só depois de velhinho, quando a internet naquele vilarejo chegou,
é que ele foi descobrir... 
Há poucos quilômetros dali, numa cidade grande, de prédios gigantes, luzes, teatro e cinema ... viviam livres e felizes, milhares de unicórnios! Dourados, vermelhos, verdes, amarelos, violetas...
Que triste. Que tarde...




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quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

AUSENTES PRESENTES


A saudade é sorrateira. É fera. Vem quando a gente menos espera. É feito criança malcriada que passa e abre a gaveta que estava lá dentro, trancafiada. Depois sai correndo deixando escorrendo a saudade e as lembranças profundas e empoeiradas.

Muitas vezes me emocionei com a música que meu irmão mais velho gostava. Era uma dos Beatles, que ele muito mal cantarolava. Com todas as notas semitonadas. Soava linda nos meus ouvidos. Agora, é só uma saudade desafinada... 

Do meu pai lembrei ontem no meio do almoço pedindo um pedaço de pão. Seu sotaque italiano insistia em falar “pon”.  Entalou minha garganta e meu coração. E assim a saudade vai pegando a gente. Pega no caminho. Pega no cantinho. Pelos colarinhos...

Este ano, foi no canto final da sala, montando a árvore de natal. Com as mãos hesitantes e a voz meio rouca. Em cada bolinha presa, uma lembrança solta... O sorriso da vovó e seu vestido florido. O presente repetido que a tia reembrulhava e trazia todo ano. O drink azul da cunhada, com curaçao, quanta magia... E as risadas, exageradas, da criançada. A gente não se dava conta como era boa aquela zorra toda!

E no final da nostálgica montagem, a árvore ficou pronta! Mas antes de ligar as luzes, depois de um suspiro profundo da alma, veio um instante de calma e a constatação. Doída e reticente... 
A cada ano, mais lembranças, menos entes... Mas, ainda tão presentes!


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quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

NEM LENÇO, NEM DOCUMENTO...

 
 
Tenho pavor de documentos. Procurar documento. Perder documento. Tirar segunda via de documento. Ou precisar de um documento urgente, do qual nunca imaginei precisar na vida.

Pavor, sim! E pelos mesmos motivos, tenho um certo pavorzinho de orgãos públicos... Nunca consegui nada de primeira. Sempre falta um documento! Geralmente antigo, que vem do nada e nos pega despreparados. Como assim? Comprovante de endereço do primeiro emprego do meu pai? Começo a estremecer...

Eu já passei por INSS, Receita Federal, Poupatempo e mesmo com muita experiência no assunto, ainda me bate o desespero. Só depois de semanas em agonia, sem saber por onde começar, é que volto ao local para pedir mais informações. Em geral, um outro funcionário, agora gentil,  me diz que existe uma alternativa mais fácil...

Já chorei de raiva e de alegria. E também já desisti de tudo. Por esta razão, também não sou fã de crediários. Esses das lojas famosas. Basta uma comprinha parcelada sem juros e pronto. Lá vem o cadastro malfadado. Com todos os documentos desencavados.

Mas não foi nada disso que aconteceu semanas atrás. Aliás, foi bem diferente. A loja era de portas e guarnições de madeira. Há uns cem quilômetros de São Paulo. A porta cobiçada era  maciça. Linda. Bom preço. Mas não aceitavam cartões.

O dono da loja percebeu nossa situação. Pegou uma caneta esferográfica e perguntou onde ficava o condomínio. Pode falar o endereço. Eu mando levar... Mas não temos como pagar. Paga depois! Semana que vem não vamos vir...  Paga daqui a quinze dias. Quer os nossos documentos?  Nada. O telefone basta.

Voltamos para casa maravilhados. No dia seguinte, o pedreiro nos informou que a porta chegou e que até já estava colocada. Passamos na loja quinze dias depois para agradecer o gentil dono, tomar um café e fazer o chequinho. Ao invés de preencher 2016, deu vontade de trocar para 1916!

Quem podia imaginar... Nem lenço, nem documento.
Foi no fio do bigode!      

          
 
 
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                                   Crônica  do livro Inesplicando Vol.1