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quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

EU ACREDITAVA...


Eu bem que tentava. Não conseguia ficar acordada. Às oito em ponto a nossa ceia de Natal começava. Pedido do meu pai, metódico e pontual. A mesa ganhava enfeites, frutas e toalha especial. Vermelha e branca, com margem de renda e desenhos natalinos. Renas, trenós, árvores e sinos. Em cima da toalha, taças cor de cereja! Diferente dos copos americanos que a gente sempre tinha na mesa . 

Os pratos especiais ficavam em exposição em cima do aparador. Geralmente frango, maionese fria e uma farofa que eu roubava na colher de pau e lambia escondida.

Havia arranjos com frutas frescas, pêssegos, uvas e cerejas. As secas, nozes, tâmaras e amêndoas. E as cozidas, castanhas portuguesas, de uma saudade ancestral, todas ajeitadas sobre a mesa.                             

Era tanta energia gasta ao longo do dia, que perto das dez eu desabava no colo de minha mãe e adormecia. A entrega dos presentes ficava para o outro dia. 

Durante a semana, a dúvida se repetia... Será que ele vem? Ou não vem mais? Papai Noel deve me achar grande demais... Minha mãe sorria! Eu fechava os meus olhos, deixando as janelas e a alma abertas para o trenó de sonhos entrar..

No dia vinte e cinco o despertador cedinho tocava e meu coração disparava no caminho até a sala. Os presentes estavam todos lá, reluzentes, colocados um a um estrategicamente. A casinha, a boneca, o palhaço de madeira, o indiozinho com apito... 

Eu acordava o mundo com meu grito! Ele veio! Ele veio!

Era a lenda, viva, saltando das minhas pequenas pupilas...  


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FELIZ NATAL!!!!!!!

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MUITA PAZ, SAÚDE, E VIVA O ANIVERSARIANTE!



 

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

SEGURA A LUA...

Segura mais um pouco a lua... Só meia hora. Para que não anoiteça agora. Os raios de sol rebrilham as flores e os galhos mais altos. Ainda se vê o horizonte, as montanhas distantes e a linha que separa o céu e o mar.

Segura a lua mais um pouquinho... Recolhe e esconde em sua mão. Mas não devolve agora. Espere só meia hora. Um final de luz ilumina o fim do dia e há um resto de chama acesa em meu coração. Vou sair a céu aberto e me despedir de mais uma jornada. Dar adeus ao azul e às nuvens alaranjadas. Aos sonhos sonhados, mesmo não consumados. Ao amor revelado, mesmo não compreendido. Adeus aos últimos raios de sol que já vão se pondo descolorindo os meninos, vultos cinzentos ao longe sumindo...

É estranha em mim a sensação do entardecer. Um tom de lamento. Das coisas lindas e findas. Do resignar pelo dia, único, que não vai voltar. No lusco-fusco confuso do entardecer, eu sempre me confundo. É dia ainda? Ou já é noite? Espero mais alguns instantes. As coisas vão se apagando de vez. Os telhados das casas, as ruas e as calçadas, até que os primeiros faróis começam a iluminar. Não há mais como adiar.

Os passarinhos voltam, todos em revoada para suas árvores e para os seus ninhos... Pode trazer a lua agora. Que venha a noite com seu brilho e encantos. Nada de entristecer. Apenas mais um entardecer! E antes que a noite se instale de vez, eu volto voando pra casa e me recolho sonhando com o sol da manhã, mais uma vez... 



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quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

UM NATAL DIFERENTE?


Este ano... eu queria um Natal diferente. Com o jeito leve, de antigamente. Crianças barulhentas e amontoadas abrindo os presentes. A árvore de Natal caindo pelos cantos e o gatinho se esgueirando e sumindo, com cara lavada de quem nada teve a ver com isso. Traquinagem e malabarismo natalino dos felinos ...

Queria pratos fartos e gente roubando azeitonas com dedos lisos. Enfiando escondido, uvas ou cerejas na boca e sorrindo. Entornando um gole de cerveja do copo esquecido sobre a mesa, como fazia Tereza saindo depois à francesa...

Este ano eu queria um Natal diferente. Com as coisas tradicionais de sempre. Um Papai Noel de araque, amigo da família, de roupa alugada chegando à meia noite para alegrar a garotada. Identidade nada secreta. A melhor parte da festa. Momentos de magia. O perpetuar inocente, de geração em geração em geração, da lapônica fantasia...

Eu queria um Natal diferente. Com as músicas de sempre. Na tevê, no rádio ou qualquer mídia atual. Pois, mesmo que não pareça, chegou o Natal. Aceito ouvir harpa paraguaia, contanto que a gente não esmoreça. Que o silêncio e o temor dos novos tempos não prevaleçam!

Este ano eu queria um Natal diferente... Tudo muito simples, igual àqueles que um dia a gente fez. Não faço questão de presente! Este ano, eu só quero um Natal.... com abraços e gente!


Foto : Thinkstock

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quarta-feira, 25 de novembro de 2020

PÉ SUJO

Era tão bom! Durante o dia, corria e brincava. Subia e descia. As ladeiras e as escadas, na frente da casa... Depois, comia correndo e de novo pra rua voltava. Rodava, pedalava, empinava...
Ás vezes, brigava. Chutava e chorava. Descabelava e sorria. E finalmente, cansava. No começo da noite, quase desmaiando, em qualquer lugar a gente desabava. A mãe, com pena, nem banho dava. E a gente, com os pés sujos, dormia um sono só. Sono profundo. Com pés imundos...

Quem não dormiu com pé sujo uma vez na vida, não sabe o que é bom. Pé de infância cascuda. Pré-digital. De jogos com bola, amarelinha, mãe da rua... Rolimã, bola de gude ou bafo na calçada. E a bicicleta entre os carros, num ziguezague perigoso e acelerado. Um risco danado... 

Na chuva então, chapinhando de poça em poça. Nem parecia uma moça! E o pé cada vez mais sujo... - Menina, moleca! Vem se lavar! E a gente por fim obedecia... Mas era um pé de gostosura. Aventura. Inocência. Poeira pura! 

Hoje as crianças tem pés com rodinhas. Tênis com luzinhas. E a sola do pé bem lisinha. De quem não pisa no chão, no quintal, na areia... e nem na grama do vizinho! 
Eta infância sem graça, de pé de anjinho...                                                                                                                     
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 Crônica inspirada na música de Dorival Caymi... Quando durmo...
                                                                                 youtu.be/zs1J7CLG9ss   




          *                         *                             *                             *                                                        
crônica do livro Inesplicando Vol.1
          


quarta-feira, 18 de novembro de 2020

O ANDARILHO... ANDA!



O homem era magro e de aspecto cansado. Com uma velha mochila nas costas e sotaque espanhol enrolado nos perguntou onde ficava Chapecó! Estávamos há pelo menos mil quilômetros de distância do lugar, sentados  tranquilos num restaurante em São Vicente, frente ao mar. 

Enganou-se o andarilho? Era longe demais o seu destino. Deve haver algo errado. Chapecó é em outro Estado. Seguramos o riso nos lábios dizendo ao homem que ficava muito distante. Centenas de quilômetros adiante...

Sua expressão não se alterou. Qual o sentido? ele perguntou. Para o sul, respondemos dando rotas e conselhos para ele chegar até a pista e seguir andando sempre em frente, quase toda a vida...

O andarilho de olhar tímido e profundo pegou a mochila carcomida e foi sumindo pela rua do mundo. Só a lua que já aparecia, lhe fazia companhia. E ele há de ver muitas luas iluminando noites escuras. Irá cruzar diferentes paisagens e gente. Colinas, montanhas. países. Quem sabe, continentes...

A caminhada poderá durar semanas ou meses. Ora desgastante, ora surpreendente. O andarilho sentirá na pele a chuva molhando e o sol ardente. Passará por ruas, becos, riachos, campos floridos. Verá mirantes lindos. Vai se achar e se perder...   

E depois de encontra o lugar, ele não vai sossegar. Porque o andarilho não para. O andarilho  anda. Sua vida é o caminhar... 

E nós continuamos olhando, parados, o andarilho ao longe se afastar...

 

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sexta-feira, 6 de novembro de 2020

SE CORRÊ... O BICHO PEGA!

Era um homem magro. Um metro e noventa. Olhos fundos. A pele enrugada e castigada de sol. Dizia poucas palavras... Sim, seora. Resorvo isso, agora! Fumava e andava com um facão afiado na cintura. Cortando lenha, mato ou o que aparecesse de ruim pela frente. Dizem que assim, tinha dado fim a um traidor em Goiás, um tempo atrás. Eu tinha muito medo do seo Abel... 

De tarde era tranquilo passear. O sítio tinha três saídas. De um lado, o grotão. Com um olho d’água e árvores gigantes que fechavam a paisagem e davam ar de mata sombria. Havia uma ponte de eucalipto para atravessar. Mas eu não me atrevia. Eu tinha medo de encontrar o Seo Abel...

Do outro lado, um caminho suave que cruzava a horta e ia dar no lago. Lindo e raso. E, por fim, a saída principal passando pela casa do seo Abel. Onde tinha um poste de madeira e uma fumaça que saía branca feito um fantasma da pequena chaminé...

Na noite fria de lua cheia eu quis ouvir o som do silêncio e me encher de brilho e poesia. Sai caminhando pela horta vazia, passando pelo milharal. Olhei para um lado. Para o outro. E de repente dei dois passos para trás. Esbarrei num ser bem grande. Com gravata, calça xadrez e mangas largas. E parecia querer me abraçar. 

Ligeira e tremendo de medo, sai correndo pegando o primeiro atalho. Sem perceber sua cara mal feita de abóbora e os cabelos de milho debulhado, do qual era feito o pobre e velho espantalho!

Mais a frente enchi o peito e sem qualquer preconceito gritei no meio da mata escura... seo Abel, socorro! Seo Abel, me ajuda!  

E o rude caseiro de facão na cintura que me metia tanto medo surgiu feito um coiote  ligeiro e se embrenhou na mata, me resgatando intacta, com ar sem jeito e um sorriso sem graça. 

Ah, as aparências, como enganam...

 

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quarta-feira, 4 de novembro de 2020

PÃO NOSSO...

Eram gelados os invernos em Vila Real, terra natal de minha avó, em Portugal. Ela contava, com olhos marejados, que ajudava sua mãe fazendo pães durante o outono. Depois de prontos, guardavam os nacos dentro de um velho forno, embrulhados em um pano, para durarem todo o inverno. Tempo duro. Como os pães, que tinham de resistir, às vezes, três ou quatro meses...

Deviam ser cascudas aquelas côdeas de pão, como ela chamava os pedaços que alimentavam homens e mulheres que no campo trabalhavam. Isso, em tempos distantes... Norte de Portugal, antiga província de Trás-os-Montes! Ela dizia... parece que foi ontem! Às vezes, nevava. As mulheres recolocavam o pão em torno do forno, perto das brasas que aqueciam a casa...  

Fiquei com o pensamento em Portugal, naquele tempo frio próximo ao Natal e nos pães quentes estalando em minha mente por muito tempo... Imaginava os nacos de trigo sem muito gosto e fermento, mas com um bom vinho tinto à mesa, servido em jarras de cerâmica portuguesa. Sentia o sabor familiar das uvas, dos pães... da mãe da minha mãe...

Por isso, amo pão. Para mim, é sagrado! Bíblico. Gosto de tudo que é jeito. Pão de peito. Pão quentinho. Pão na chapa. Torradinho. Pão Italiano. Pão francês. Pão de leite. Pão de milho. Pão de cará. Pão branquinho. Escurinho. Pão-de-ló, marronzinho. Pão, pão, pão, pão! Feito em casa, então? Com suspense e emoção. Será que cresce ou não?

Gosto tanto de pão que, quando criança, a grande aventura era arrancar um pedaço e voltar pra rua devorando o naco roubado. Era pão sozinho. Sem recheio no meinho. Se deixassem, eu beliscava a bisnaga inteirinha na volta da padaria...

Meu primo era ainda mais apaixonado. Certo dia, na volta do mercado, ele tinha um sauduíche engraçado. Três fatias de pão com nada dentro. Que sanduíche é esse, Reinaldo? Sanduiche de pão! - O que tem dentro? Pão com pão, mesmo!


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quarta-feira, 28 de outubro de 2020

VISITA DOS ANJOS...


Eles começaram a entrar. Um atrás do outro. Dois pela janela. Outro pela varanda da sala. O último pela chaminé da lareira... Daniel, Gabriel, Samuel, Ezequiel! Os quatro aqui? E o mundo como fica? São milhões de pessoas, milhares de problemas... - Somos muitos, nada tema! Haverá sempre um de nós atento a qualquer problema...

A resposta me deu alívio e a certeza de que não estaria prejudicando ninguém. Aqueles com fome, as crianças nas ruas, os pedidos de ajuda... Não haveria de ser eu, o ser egoísta a postergar uma benção ou auxílio, segurando em casa e comigo, os quatro anjos amigos...

Logo vi que não. Eles estavam à vontade. De folga, talvez, naquela tarde. Olhavam minhas plantas, meus livros, meu jardim... Samuel se encantou com minha orquídea marrom da varanda com cheiro de chocolate. Daniel no quarto de ensaios, apreciava a guitarra folk, ameaçando um toque suave, parecido com Enya, ou Morricone. Mas era outra linguagem. Sons de querubins, com diferentes harmonias e timbragens. Ofereci uma palheta, ele não quis. Tocava sem usar as mãos... E se divertiu, quando tentei reger a canção...  

Ezequiel, no quarto ao lado, ajeitava os meus livros desorganizados na estante. Deu vergonha, por um instante... Mas não era repreensão. Apenas curiosidade. Viu a Bíblia, sorriu e colocou em cima da pilha. Foi quando Gabriel entrou na cozinha...

Entrei também, de fininho. Faço um café fresquinho? Ou, preferem chás, os anjinhos? Chá de hibisco, de maçã, ou de hortelã... Nenhum deles eu tenho. Vou fazer um chá comum, mesmo. Peço para sentar? Ofereço um jantar? Não é sempre que os anjos vêm nos visitar... 

Qual nada! Era visita rápida. Deixaram as flores balançando ao vento... A melodia suave durante horas no meu pensamento... E uma pluma da asa, perdida no meu travesseiro.

Acordei, sem vê-los. Não deu tempo...


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terça-feira, 20 de outubro de 2020

FRUTA NO PÉ!


Ela entrava correndo na pontinha dos pés para alcançar com sua mãozinha, a jaboticaba grudada no tronco da árvore do quintal da avó. Dudinha sabia a felicidade que é colher uma fruta no pé. A magia do alcançar. Tocar. Levar à boca e saborear. A natureza sem sofisticação. Fruta catada com a mão.

Na minha infância no bairro da Moóca, as árvores frutíferas enfeitavam as ruas e as praças. A casa de muro verde da esquina tinha uma caramboleira que se esparramava. Metade pra dentro e metade pra fora da casa. Ágil e esperta, eu era requisitada para subir nos ombros dos mais velhos e buscar as frutas mais amarelas. No chão, carambolas azedas e esmagadas. Ninguém ligava. Era cheiro de fruta amassada. 

Na praça central, um enorme abacateiro. Embaixo um banco de ferro desgastado. De vez em quando um abacate caía rápido feito um machado, assustando os descuidados. 
Minha colheita mais abundante foi no sul da Bahia. No estacionamento do hotel onde havia uma árvore de seriguela. Na ida e na volta da praia, eu enchia o chapéu de palha de frutas para ir devorando uma a uma. Eram doces e vermelhas. 

No dia de partir perguntei pra camareira nativa... Por quê ninguém daqui come as seriguelas? A moça pensou bem e respondeu com uma risada.           - Quem come essa fruta, não casa... 

Mostrei a minha aliança. Sorri e tasquei mais três seriguelas na boca. Fake news da roça, moça!   
                             
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segunda-feira, 12 de outubro de 2020

DOIS "PASITOS" PRA LÁ...

Dois passos para cá era o Brasil. Com suas dores e dissabores. Derramando suas mágoas nas águas das cataratas. Dois “pasitos” para lá, a Argentina, com suas luzes, "hermanos" faladores, casas de churrascos e noites de amores. Os dois tão perto e por uma linha separados. A divisa dos países é feito a letra do tango "Por una cabeza!". 
O som pungente do milongueiro com todo seu drama se espalhava pela Quincha do Tio Querido, onde saboreamos um bife chorizo. Sabor diferente e caliente. O cardápio em espanhol e o Malbec até o final giravam nossas cabeças feito o casal no pequeno palco do restaurante. Por "una cabeza" não era o Brasil. Era a alma argentina rodando dentro da gente, inebriando o ambiente feito o leve vestido da dama em cetim.
Como bons brasileiros, pedimos cafezinho no final e pagamos em Real. Afinal, é na fronteira onde tudo se mistura. Como o Rio Iguassu que banha os dois países serenamente e por igual. Metade tango, metade carnaval!
Dois passos pra cá, o menino Xico jogava futebol entristecido pela derrota do Brasil. Do outro lado, não era o Xico, eram os chicos que riam da nossa derrota varonil. Contavam outras histórias e festejavam sua vitória. Carregavam pesos e também eram bons de bola. Mas não comparem Neymar com Messi. Nem Pelé com Maradona! Aí a garrafa entorna.
Deixamos de carro a fronteira cruzando a linha imaginária que nos distingue e nos separa. Enquanto as almas, livres, pouco se importam com países. Apenas dançam. Dois pra lá , dois pra cá... 
Com irmandade e beleza. Por una cabeza...


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Para ouvir o Tango de Gardel e do brasileiro Alfredo Le Pera no Youtube clique no link



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quarta-feira, 7 de outubro de 2020

O TOQUE DO MESTRE


 A Avenida Paulista era um mar de gente às sete da manhã. Eu, com a pressa dos meus dezessete anos, carregada de livros, cadernos e planos, entuchados numa mochila azul marinho, corria para chegar a tempo na aula do cursinho. Era o "Vaticano". A sala de maior tamanho, onde a primeira aula acontecia junto com cento e cinquenta vestibulandos sonolentos como eu e que iam acordando, lentamente, à medida que a aula ia passando.

Eu não sabia ao certo porque tinha escolhido o curso de biológicas. Talvez, por ser o mais forte. Ou por influência da professora de ciências. Uma japonesa brilhante em quem eu me inspirava na época do colégio. Aprender com ela foi um privilégio.

Naquela sala gigante, eu ficava com meus sonhos, espinhas, colinhas, letras de músicas americanas e algumas tarefas estranhas. Física, matemática e a mais terrível de todas... a química orgânica! Eu detestava química orgânica. Meu Deus, para que serve o benzeno? Sei que tem seis ligações, ao menos.   

Foi num dia de Vaticano que o toque iluminado de um anjo ou arcanjo aconteceu. Ele nem percebeu. Foi um toque de mestre. Toque divino dado com carinho, no meio da aula de português... o que faz aqui, cara Inês?

Era o professor Arlindo que descia do púlpito e vinha até a minha cadeira mexer com minhas certezas e mudar uma vida inteira. Parado ao meu lado, enquanto todos se preocupavam com os textos de interpretação, ele segurou o meu caderno em suas mãos. Olhou as folhas soltas. Rabiscos pelos cantos. Letras dos Beatles. Frases importantes que eu guardava e nem sempre lia. Coloridos celofanes e poesias.

O mestre foi direto, com sua voz literária de sábio conhecedor... Tens alma canceriana! Nesta sala de biológicas? A quem enganas? Você é de humanas! E apontou meus rabiscos, meus textos e os inclinados traços artísticos.

Assim, ainda hoje sigo escrevendo, rabiscando, inventando, contando histórias e crônicas do meu tempo... Culpa do toque certeiro. 

Valeu, Mestre Arlindo! Eu não gostava, mesmo, de benzeno.


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quarta-feira, 30 de setembro de 2020

SINFONIA DE FURADEIRAS

Dois mil e vinte veio com defeito. Vinte e um também. Andamos e travamos a todo momento, num abre e fecha sem fim. E não tem ninguém que dê jeito. Garantia não temos. Nem um dia estável ao menos.

Certos anos, como a vida, são imprevisíveis. Deve haver um porquê. Uma forte razão. A lei de retorno, talvez. Ou preço de nossa insensatez.

No futuro não muito distante, alguém lerá um chip gravado em diamante e poderá melhor compreender. Resta-nos, agora, o cumprimento. Mais empatia que lamentos. Estamos juntos neste sofrimento. 

Mas tem algo constante e ensurdecedor que também nos tortura. Tira o sono e nos leva à loucura. As construções. Elas não pararam um só instante. Também viraram pandemia. Um tipo de vírus diferente que ataca concreto e cimento. Não assusta, mas é barulhento. 

A serra grita, a porta range, o martelo cai do andaime. Os prédios, as casas e os comércios decidiram reformar todos ao mesmo tempo, formando bandas com sons imperfeitos...

Sinfonia de furadeiras! Histéricas britadeiras. Serras elétricas distorcidas e estacas mal batidas. Música concreta, sem maestria. E a orquestra desafina. 

No andar em cima ao meu, a construção nunca termina. No bloco da frente, sem gente, trocaram o piso da cozinha. O martelo bate e os azulejos solfejam noite e dia. No prédio em frente, trocaram as pastilhas da fachada. Plac-plac, fazem as placas despedaçadas, numa ópera caótica e saculejada.

Começa às oito da manhã e vai até o fim de tarde. Sem dó, nem piedade. Home Office? Gravação de aula? De música? Descanso ou lazer? Nem mesmo à noite, quando as buzinas começam a aparecer. Os coletores passam com seus motores ligados e o homem dos ovos num autofalante, oferece duas dúzias por trinta reais! Não descansamos jamais.

Só uma coisa, torço pra acontecer. Tudo, ou quase tudo, para... se chover!


*                     *                      *                                             


quarta-feira, 23 de setembro de 2020

SALVE... A JOANINHA...

É algo em mim meio incontrolável. Salvo insetos. Não consigo ver sequer um marimbondo, mosquinha, pirilampo, tesourinha se debatendo na água que meto o dedo e vou logo salvar. É ato sem pensar.  

Vejo o bichinho girando, engasgando, se contorcendo e faço o diabo pra tirar. Pego um gravetinho pra ele se segurar. Ofereço o dedo. Faço ondas e vou jogando pro cantinho até o bichinho escapar... E olha que alguns são insetos nada agradáveis. Eu sei lá! Não gosto de ver vida agonizar. Se tiver que morrer, que morra em outro lugar. Não na minha frente. Não consigo negar ajuda. Sou uma espécie de Madre Tereza do meu pomar. 

A pobre joaninha ficou se debatendo no meio da poça do jardim depois de três dias de temporal sem fim. A coitada rodopiava, batia as asas exaustas e ensopadas. As suas oito ou doze pintas, mal se enxergava. Era um vermelho pálido de medo de quem, quase desfalecida, já se entregava...  

Fui até a joaninha pisando na água fria e ofereci minha mão feito jangada. Terra firme. Confiança espalmada. A pequena subiu trôpega e desajeitada. E eu, fiquei uns dez minutos olhando aquele inseto frágil e amigável na palma da mão. Ajeitando as asinhas, secando os olhinhos e regulando o sensor... Ufa! Estava viva e com grande alívio ressurgia em brilho e cor.

A Joaninha enfim voou e foi parar no meu nariz, Olhei no espelho, meio sem jeito. Acho que ela queria me agradecer. Mirei-a por debaixo dos óculos e soprei, com sopro de ternura para ela docemente partir.  

Voa logo, Joaninha... vai ser feliz!      


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segunda-feira, 14 de setembro de 2020

TEMOS UM...TEMPÃO

Como se todas as teclas do piano se transformassem em uma só. Branca. Gigante. Sem definição. Qual é o si? Qual é o dó? Assim se parecem os dias, depois destes meses em isolamento. Um momento contínuo e gigantesco. Que começa e não exatamente termina. As coisas passam para o outro dia, com tudo do jeito que está. E quanto mais tempo temos, menos tempo dá! 

Começo a cozinhar. Lembro de aguar as plantas. Volto pro quarto e recolho as roupas. Ligo o computador para ler as notícias e volto para a cozinha onde a louça, na surdina, se quadruplica. Pratos, copos e saquinhos lavados. Álcool gel nas mãos, nos produtos e nos sapatos... Yoga às cinco. Inglês às sete. Mas isso é na quinta! Hoje é terça, ou quarta ainda? Dia vinte cinco ou trinta? Aniversário no Meeting com a família. Live do amigo pra ajudar na Vakinha. E comprinhas on line da China... 

E a louça na cozinha, em cascata contínua. Agora, é a vez do marido lavar. Doce alívio! Hora de descansar. Afinal, temos um... tempão! Tempão pra dormir. Para ler. Para produzir. Mas não é assim... 
Algo estranho com o tempo aconteceu. Ou fui eu? Os dias esticaram. Se juntaram. Ou foi o vírus, de propósito? É notório. O vácuo acelerado e ilusório. Dias grandes que passam em disparada. Iniciam na longa manhã e quando se vê, já é madrugada. A gente começa bem e não termina quase nada. Retalhos de tarefas mal acabadas... Mas, não faz mal não, temos um tempão... 

O problema é esse tempão! Não sabemos lidar com ele. O tempão vem sem disciplina. A gente divaga, boia, alucina! Começa e não sabe quando termina. Livros pela metade. Séries à vontade... Projetos mil. Faz um tempão que não saio. Faz um tempão que não viajo. Ando precisando, estranha e loucamente de datas e prazos... 

Deve ser estranha a eternidade... Humanos acostumaram com começo, meio e fim. Semanas com setes dias definidos. Horários e trabalhos estabelecidos. Acho que a sociedade nos fez assim. Se não, fazemos um pouco de tudo e não efetivamos quase nada.  
E olha... que temos um tempão...



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quarta-feira, 9 de setembro de 2020

A MANCHA DAS AMORAS


As árvores não ficavam por perto. Tínhamos que cruzar ruas difíceis de paralelepípedo e asfalto mal-ajeitado. Subindo por um terreno alto para chegar na terra batida. As ruas eram tortas e semi escondidas. Lá que as amoreiras ficavam, carregadas das frutas maduras. 

Algumas delas, dentro das chácaras debruçavam seus galhos sobre os muros altos, provocando ainda mais a nossa aventura. Era temor e gula subir nos troncos e nos ombros uns dos outros para encher as mãos, bonés e saquinhos de papel com as amoras maduras. Depois, tingíamos a boca com o vermelho da fruta, borrando nossa língua, lábios e gengivas com a impressionista e roxeada pintura! 

Minha mãe proibia que eu fosse com a turma. O primo mais velho já tinha quinze anos. Eu insistia. Quem sabe um dia, ela dizia! Esse dia eu acabei escolhendo, escapando sem consentimento, numa manhã ensolarada e fria. 
Levantei junto com os meninos, disposta à travessura. Lembro do pijama de flanela, que deixei por dentro da calça azul clarinho. 

Saímos de fininho antes que os adultos acordassem e seguimos libertados pela estrada. As árvores abarrotadas foram velozmente por nossas mãos aparadas, enquanto nossas mãos tingiam-se arroxeadas. Às dez da manhã, decidimos voltar. Parei na última esquina e na torneira da vizinha lavei as mãos e a boca, tirando todas as manchinhas para ninguém descobrir. Eu contaria mais tarde. Sem muito alarde.

Ao chegar em casa, o olhar da mãe, sempre tão doce, rapidamente azedou. Quer dizer que a senhora foi colher amoras? A mancha alastrada por todo bolso da calça rubramente denunciava... 

Retirei os restos das amoras esquecidas e esmigalhadas na roupa e disfarcei com ar de filha generosa e contente... Estragou a surpresa agora. Mãe, eu fui buscar pra senhora!      



*                                   *                                        *                                   *


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quarta-feira, 19 de agosto de 2020

A FUGA DA BAILARINA...


Eu tinha uns quatro anos quando ganhei a caixinha de música. Quadradinha e delicada. De veludo vermelho forrada. Atrás, um espelho. E uma linda bailarina com os pés grudados que ao abrir a caixinha e ouvir a valsa, girava no palco pequeno. 

Eu não sabia se a valsa era russa ou vienense. Tchaicovisky ou Strauss. Talvez a bailarina soubesse. Seu andamento era perfeito. Rodava delicada, encaixada no movimento. Eu nem sabia falar bailarina direito... Apenas abria a caixinha e olhava a moça rodopiando com sua magia e a saia de renda curtinha.

Eram leves e finas as mãos da bailarina. Usava sapatilhas, mas não machucavam o calcanhar. Não era todo dia que eu a punha pra dançar. Tínhamos o nosso compromisso velado. Geralmente, às noites de sábado, antes de me deitar. Eu abria a caixinha e revia minhas frágeis bijuterias. Anéis de vidro e colares brilhantes. Nada de ouro ou diamantes. Enfeites de menina. Eu gostava mesmo era de olhar a bailarina. Ana Sophia, apelidei. Achei nome de princesa. Combinava com a cena de realeza. Música, espelho e um majestoso tapete vermelho.

Mas bateu em mim uma profunda tristeza... Senti a bailarina ali tão presa. Dançava só quando eu abria. Eu que decidia. E quando a esquecia trancada, ela apenas adormecia...

Deixei a caixinha aberta noite e dia. E antes de dormir, olhava a bailarina e lhe pedia que escapasse pela janela e só voltasse no outro dia. Assim, veria enfim, a bailarina em sua maior evolução. 
Dançando a valsa da libertação!



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quarta-feira, 12 de agosto de 2020

FANTASMAS CAMARADAS...


Bastava a noite chegar e a escuridão ir se debruçando pelos cantos das ruas e nos vãos das casas. Quando tudo começava a se acalmar e o silêncio tomava conta da sala, do quarto, das portas e armários. Na hora que a TV desligava no automático... eu começava a ouvir os ruídos abafados...

Pareciam passos. Com pequenos intervalos e espaços. Movimentos finos de um pisar cuidadoso. Começava o passeio pelo forro. Eu cobria a cabeça com receio, encolhida no travesseiro.

Os passos seguiam até o banheiro, num tique-toque intermitente. Pés de fantasma ou de gente? Eu dormia com medo. E quando amanhecia tudo voltava ao normal. Nada fora do lugar. Eu deixava pra lá.

No mês passado a chuva forte veio. Selou e envergou o telhado no meio. Chamei o Cláudio para dar um jeito... Melhor tirar as telhas e promover um grande conserto! Muita água anda descendo. Aproveita e vê o que tem lá em cima, pombos, fantasmas, ou curupira. O que achar, você tira! Leva vela, alho, cruz e figa de madeira. Vai nesta sexta feira!

Foi só o Claudio subir no final do entardecer para o fantasminha aparecer. Um não, quatro! Uma família inteira de Saruês. Um tipo simpático de gambazinho pelado do mato. Foram descendo... mamãe, papai, o filhão e a filhotinha. Um a um pela árvore fininha. A mamãe gordinha, o papai mais lento e os filhotes jovens e prováveis barulhentos.

O Cláudio veio com a vassoura, o vap e a marreta. Está louco, Claúdio? Não faça nada no telhado agora. Eles moram aí. Bolsa família! Acabei de instituir! 

Esse Cláudio...


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quarta-feira, 29 de julho de 2020

TESOURO? ...QUE TESOURO?

A casa da tia Zilda era um museu. Poltronas de veludo desbotado, com o entorno barroco, dourado. Um aparador que ela chamava de Itajér. Em cima dele, duas garrafas de vidro bico de jaca. Um com menta. Outro com Anis. Sabores infantis. 

Às vezes, ela me deixava colocar o dedo indicador e degustar o licor. Havia também um tapete de pele de carneiro vermelho. Vasos de murano, italianos. Muitos quadros e enfeites antigos. O objeto que eu mais gostava era um cofrinho batizado por ela de “barrigudinho”. Feito de coco com uma fechadura de aço no umbigo. Eu adorava aquilo. A Tia Zilda abria o barrigudinho e eu libertava todas as moedinhas, sem me importar se valiam muita ou pouca coisa. 

Outro objeto que despertava minha atenção era um Quixote, de ferro! Ficava sobre a mesa. Inspirador. Embora eu estivesse longe de compreender Cervantes. E assim seguia a viagem fantástica, descobrindo os ricos tesouros da casa da Tia Zilda. Em cada canto, um objeto curioso... 

No final da visita, o sorvete de mamão que ela trazia numa forminha de plástico com um palito no meio. Eu devorava inteiro. E antes de ir embora, corria para o quarto antigo para ver de perto o cofre de ferro que ficava lá meio escondido. Ninguém, nunca, havia comentado nada comigo. O que teria lá dentro? Mapas? Enigmas? Poções de bruxas e feiticeiros?   

Estremeci de medo, quando tia Zilda me disse ao pé do ouvido os números secretos pedindo que eu guardasse segredo. Dois dois, cinco dois! Giramos os botões. Para um lado e pro outro. Pronto! A porta destravou e se abriu com o leve toque da minha mão.

Pura decepção! Para uma criança em busca de magia, lendas de aventuras e feiticeiros... O sonho ficou desfeito. O cofre, sem graça, só tinha... dinheiro!


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terça-feira, 28 de julho de 2020

A BUZINA DA BARATINHA



Ele tinha várias manias. Comer macarrão com pão. Tomar rabo de galo aos domingos, depois dos jogos de várzea nos campos do Ginástico e do Vera Cruz. Além de ser dono de um par de olhos... incrivelmente azuis.
Esse era meu pai, o velho Sylvio, que adorava brincar. Viveu a vida brincando. Sabia fazer com dobras no lenço, um ratinho de pano que acionado pelo seu rápido polegar, pulava em cima das pessoas. Em geral das crianças, que corriam de susto e depois  pediam para repetir. Meu pai sorria e com seus lindos olhinhos azuis, piscava só para mim...  
O “seo” Sylvio era alegre. Divertido. E imitava buzinas de carros antigos como ninguém. De todo o resto, sucesso profissional, investimentos, casamento, patrimônio adquirido é melhor não falar... Nada deu muito certo. Deixa pra lá! Para os filhos, ainda pequenos, importava mais é que ele sabia imitar a buzina do Fordinho vinte e nove...
Apesar de nunca termos andado na sua “Baratinha”, apelido do modelo que ficou bastante conhecido no bairro do Belenzinho, em uma época que havia poucos carros nas ruas.
Já nos anos setenta, tínhamos um Gordini. E todos os sábados meu pai levava a família jantar no alto da Móoca. Na volta, meu pai lançava o grande desafio. Descer do alto da Avenida Paes de Barros com o motor desligado. Na banguela, até quanto aguentasse...  
Eu, pequena, no colo de minha mãe, ficava torcendo pra que os faróis abrissem e o carro não tivesse que parar. Era excitante. E quando algum carro ficava na nossa frente, meu pai pedia que eu colocasse a mão na direção e começava a imitar a velha buzina: - arrrua! arrua! Eu adorava aquele som. Aquela aventura.

Certa vez, meu pai desviou com destreza de todos os carros à frente e mesmo quase parando, conseguimos chegar até o último farol da avenida, já quase no viaduto. Conseguimos. Que vitória sofrida!
E eu tinha ao lado um herói. E de olhos azuis...

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