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terça-feira, 5 de setembro de 2023

NO MEIO DAS ÁGUAS...


O rio Una desce a serra para desaguar no cantinho do mar. Escuro. Quase preto. Una. Como os indígenas o batizaram. Suas águas, negras, chegam penetrando lentamente o oceano em faixas escuras e disformes, sem contudo se misturar no verde claro do mar.  

Do alto, as diferentes cores se distinguem. É fácil enxergar. Claro aqui. Escuro acolá. Mas é de perto que o entremeio nebuloso aparece. Ponto turvo. Onde as águas se entranham... Onde o rio não é mais rio. E o mar, ainda não é mar. Nem doce, nem salgado. Meio termo. Sal adoçado. Meio limbo. Meio aflição. 

Que tipo de peixe vive lá? Dizem que as tainhas sobrevivem. Suportam as maiores mudanças. De ambiente. De pressão. Aguentam firmes a exaustão. Certamente irão mais longe desse jeito... Sardinhas à direita. Robalos à esquerda. Homens a pescar.  

Lisas, as tainhas acenam pra cá. Escapam pra lá. Para duramente chegar ao seu verdadeiro habitat! Fico imaginando quantas vezes fazemos esse mesmo trajeto  turvilíneo. Quantos mergulhos em águas nebulosas. À procura do nosso lugar. 

E seguimos, peixes urbanos, contra fortes correntes e sob pressão. Por paisagens que não gostamos. Lugares que não pertencemos. Gentes que não reconhecemos.

Feito tainhas, atravessamos. Ligeiros. Sem nos deixar contaminar. Pois o maior risco dessa travessia, talvez seja se acostumar. E viver, eternamente, no líquido insípido. 

Daquilo que não é rio. Daquilo que nem é mar!     



*                                 *                                                                       


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