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terça-feira, 28 de dezembro de 2021

AS RABANADAS DA VOVÓ...

Certos itens nas receitas vão se perdendo no tempo, aqui e acolá. Outros ingredientes são danados, se infiltram em certo momento e perpetuam-se no lugar...

Eu continuo fazendo as mesmas rabanadas portuguesas que minha mãe fazia nas tardes quentes que antecediam o Natal e Ano novo. Separo as fatias grossas de pão velho, o leite açucarado num prato raso e os ovos batidos na velha tigela. Depois frito todas em óleo quente, salpicando levemente açúcar e canela. Faço assim há décadas. De olhos vendados. Reproduzindo a velha cena, receita afetiva do meu passado materno.

Foi uma surpresa provar na casa de uma autêntica senhora portuguesa uma rabanada diferente, oferecida gentilmente para todos à mesa. Mais dura e com o pão escurinho por conta de um creme com vinho. Eu nunca usei vinho! Minha mãe nunca usou. Será que a vovó subverteu a receita e não nos contou?

A origem das rabanadas aguçou minha curiosidade e minhas papilas de tal maneira que fui pesquisar as primeiras servidas nas ceias de Natal. Seria a minha rabanada uma réplica abrasileirada da receita original?

A origem é mesmo européia. E pra lá de antiga. Entregas? Talvez  com charretes, em meados do século dezessete! Foi criada para aproveitar pães velhos e amanhecidos e se tornou alimento sagrado no Natal por representar para os católicos, o corpo de Cristo. Outros dizem que a origem é francesa e não portuguesa.

Fui aos risos ao saber que são chamadas de fatias paridas ou fatias douradas. Pode-se usar cacetes ou bengalas amanhecidas. E nas receitas portuguesas mais sofisticadas, usa-se o vinho! Achei o danadinho. Acho que a vovó usava e a mamãe cancelou sem falar nada.

Seja qual for a receita original,  sempre algo respinga na gente de forma ancestral, além daquele pingo de óleo quente no braço que é fatal.   

É a saudade das tardes doces e quentes. O meu coração embebido em leite materno, pingando gota a gota no meu peito que hoje amanheceu com uma saudade sem jeito.

Rabanada... açúcar da mãe. E  sabor da vovó!

 

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    FELIZ 2022 A TODOS OS LEITORES DO BLOGUE!

quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

PRISCILA COMEU AS PINHAS DE NATAL...



O espírito natalino sempre foi muito tocante para mim. Olhava nas ruas os enfeites luminosos, os arcos e guirlandas nas portas, renas de neon nos edifícios e temas harpeanos ecoando nas lojas...  

Mas as festas de Natal em si, embora amorosas e agradáveis,  traziam doloridas ausências. Faltava sempre alguém à mesa. Um tio, a mãe de um cunhado, o irmão amado. Fragmentos de imagens do passado que me davam um aperto danado.

Este ano o tom da nossa decoração foi mudado. Mais modesta, sem muitos requintes. Resolvi apostar na simplicidade.

Nada de árvore ou presépio gigante. Nem decoração barroca para uma fé ainda pouca. Nada de bolas douradas, enfeites de purpurina e laços de fita brilhantes. Era simples a manjedoura. Um pouco de feno e algumas pinhas bastavam. Cristo em mim falou mais alto. Decidi por madeira e simplicidade.

Voltei do interior com um saco de pinhas novinhas, colhidas do chão de terra vermelha sob os pinheirais de Biritiba. Havia tempo que eu não fazia algo assim. Arranjei feno, armações de arame e madeira. E Reis magos comprados em um carrinheiro, numa feira.  

O presépio simples, rústico e com pouco dinheiro montei perto da cortina. Sem perceber que Priscila, a nova integrante da família olhava de fino com interesse leporino para as pinhas fresquinhas.

Numa escapada noturna, sem o nosso olhar de censura, lá se foi o natalino cenário, com as pinhas roídas até o talo. O feno, espalhado pelo chão. Só o Jesus de madeira ficou intacto. Deus, achando graça da sua criação...

Os Natais mudaram. Muitos se foram. Outros chegaram. Papai Noel anda meio sem graça. Priscila ganhou espaço. Natal de novas certezas e outros tipos de laços. Mas veio com alegria e pureza. Mesmo com todo o embaraço!

 

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FELIZ NATAL, CHEIO DE PAZ...

PARA TODOS OS AMIGOS E LEITORES

DO INESPLICANDO!