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quarta-feira, 28 de outubro de 2020

VISITA DOS ANJOS...


Eles começaram a entrar. Um atrás do outro. Dois pela janela. Outro pela varanda da sala. O último pela chaminé da lareira... Daniel, Gabriel, Samuel, Ezequiel! Os quatro aqui? E o mundo como fica? São milhões de pessoas, milhares de problemas... - Somos muitos, nada tema! Haverá sempre um de nós atento a qualquer problema...

A resposta me deu alívio e a certeza de que não estaria prejudicando ninguém. Aqueles com fome, as crianças nas ruas, os pedidos de ajuda... Não haveria de ser eu, o ser egoísta a postergar uma benção ou auxílio, segurando em casa e comigo, os quatro anjos amigos...

Logo vi que não. Eles estavam à vontade. De folga, talvez, naquela tarde. Olhavam minhas plantas, meus livros, meu jardim... Samuel se encantou com minha orquídea marrom da varanda com cheiro de chocolate. Daniel no quarto de ensaios, apreciava a guitarra folk, ameaçando um toque suave, parecido com Enya, ou Morricone. Mas era outra linguagem. Sons de querubins, com diferentes harmonias e timbragens. Ofereci uma palheta, ele não quis. Tocava sem usar as mãos... E se divertiu, quando tentei reger a canção...  

Ezequiel, no quarto ao lado, ajeitava os meus livros desorganizados na estante. Deu vergonha, por um instante... Mas não era repreensão. Apenas curiosidade. Viu a Bíblia, sorriu e colocou em cima da pilha. Foi quando Gabriel entrou na cozinha...

Entrei também, de fininho. Faço um café fresquinho? Ou, preferem chás, os anjinhos? Chá de hibisco, de maçã, ou de hortelã... Nenhum deles eu tenho. Vou fazer um chá comum, mesmo. Peço para sentar? Ofereço um jantar? Não é sempre que os anjos vêm nos visitar... 

Qual nada! Era visita rápida. Deixaram as flores balançando ao vento... A melodia suave durante horas no meu pensamento... E uma pluma da asa, perdida no meu travesseiro.

Acordei, sem vê-los. Não deu tempo...


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terça-feira, 20 de outubro de 2020

FRUTA NO PÉ!


Ela entrava correndo na pontinha dos pés para alcançar com sua mãozinha, a jaboticaba grudada no tronco da árvore do quintal da avó. Dudinha sabia a felicidade que é colher uma fruta no pé. A magia do alcançar. Tocar. Levar à boca e saborear. A natureza sem sofisticação. Fruta catada com a mão.

Na minha infância no bairro da Moóca, as árvores frutíferas enfeitavam as ruas e as praças. A casa de muro verde da esquina tinha uma caramboleira que se esparramava. Metade pra dentro e metade pra fora da casa. Ágil e esperta, eu era requisitada para subir nos ombros dos mais velhos e buscar as frutas mais amarelas. No chão, carambolas azedas e esmagadas. Ninguém ligava. Era cheiro de fruta amassada. 

Na praça central, um enorme abacateiro. Embaixo um banco de ferro desgastado. De vez em quando um abacate caía rápido feito um machado, assustando os descuidados. 
Minha colheita mais abundante foi no sul da Bahia. No estacionamento do hotel onde havia uma árvore de seriguela. Na ida e na volta da praia, eu enchia o chapéu de palha de frutas para ir devorando uma a uma. Eram doces e vermelhas. 

No dia de partir perguntei pra camareira nativa... Por quê ninguém daqui come as seriguelas? A moça pensou bem e respondeu com uma risada.           - Quem come essa fruta, não casa... 

Mostrei a minha aliança. Sorri e tasquei mais três seriguelas na boca. Fake news da roça, moça!   
                             
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segunda-feira, 12 de outubro de 2020

DOIS "PASITOS" PRA LÁ...

Dois passos para cá era o Brasil. Com suas dores e dissabores. Derramando suas mágoas nas águas das cataratas. Dois “pasitos” para lá, a Argentina, com suas luzes, "hermanos" faladores, casas de churrascos e noites de amores. Os dois tão perto e por uma linha separados. A divisa dos países é feito a letra do tango "Por una cabeza!". 
O som pungente do milongueiro com todo seu drama se espalhava pela Quincha do Tio Querido, onde saboreamos um bife chorizo. Sabor diferente e caliente. O cardápio em espanhol e o Malbec até o final giravam nossas cabeças feito o casal no pequeno palco do restaurante. Por "una cabeza" não era o Brasil. Era a alma argentina rodando dentro da gente, inebriando o ambiente feito o leve vestido da dama em cetim.
Como bons brasileiros, pedimos cafezinho no final e pagamos em Real. Afinal, é na fronteira onde tudo se mistura. Como o Rio Iguassu que banha os dois países serenamente e por igual. Metade tango, metade carnaval!
Dois passos pra cá, o menino Xico jogava futebol entristecido pela derrota do Brasil. Do outro lado, não era o Xico, eram os chicos que riam da nossa derrota varonil. Contavam outras histórias e festejavam sua vitória. Carregavam pesos e também eram bons de bola. Mas não comparem Neymar com Messi. Nem Pelé com Maradona! Aí a garrafa entorna.
Deixamos de carro a fronteira cruzando a linha imaginária que nos distingue e nos separa. Enquanto as almas, livres, pouco se importam com países. Apenas dançam. Dois pra lá , dois pra cá... 
Com irmandade e beleza. Por una cabeza...


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Para ouvir o Tango de Gardel e do brasileiro Alfredo Le Pera no Youtube clique no link



https://www.youtube.com/watch?v=Gcxv7i02lXc


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quarta-feira, 7 de outubro de 2020

O TOQUE DO MESTRE


 A Avenida Paulista era um mar de gente às sete da manhã. Eu, com a pressa dos meus dezessete anos, carregada de livros, cadernos e planos, entuchados numa mochila azul marinho, corria para chegar a tempo na aula do cursinho. Era o "Vaticano". A sala de maior tamanho, onde a primeira aula acontecia junto com cento e cinquenta vestibulandos sonolentos como eu e que iam acordando, lentamente, à medida que a aula ia passando.

Eu não sabia ao certo porque tinha escolhido o curso de biológicas. Talvez, por ser o mais forte. Ou por influência da professora de ciências. Uma japonesa brilhante em quem eu me inspirava na época do colégio. Aprender com ela foi um privilégio.

Naquela sala gigante, eu ficava com meus sonhos, espinhas, colinhas, letras de músicas americanas e algumas tarefas estranhas. Física, matemática e a mais terrível de todas... a química orgânica! Eu detestava química orgânica. Meu Deus, para que serve o benzeno? Sei que tem seis ligações, ao menos.   

Foi num dia de Vaticano que o toque iluminado de um anjo ou arcanjo aconteceu. Ele nem percebeu. Foi um toque de mestre. Toque divino dado com carinho, no meio da aula de português... o que faz aqui, cara Inês?

Era o professor Arlindo que descia do púlpito e vinha até a minha cadeira mexer com minhas certezas e mudar uma vida inteira. Parado ao meu lado, enquanto todos se preocupavam com os textos de interpretação, ele segurou o meu caderno em suas mãos. Olhou as folhas soltas. Rabiscos pelos cantos. Letras dos Beatles. Frases importantes que eu guardava e nem sempre lia. Coloridos celofanes e poesias.

O mestre foi direto, com sua voz literária de sábio conhecedor... Tens alma canceriana! Nesta sala de biológicas? A quem enganas? Você é de humanas! E apontou meus rabiscos, meus textos e os inclinados traços artísticos.

Assim, ainda hoje sigo escrevendo, rabiscando, inventando, contando histórias e crônicas do meu tempo... Culpa do toque certeiro. 

Valeu, Mestre Arlindo! Eu não gostava, mesmo, de benzeno.


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