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quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

QUEM BEBE DESSA ÁGUA...


Um jarro de água e goles de calmaria... O interior de Minas Gerais é assim. Minas vertendo suas águas naturais. Algumas, medicinais. E uma bica em cada canto. Nas praças, nos parques das águas em São Lourenço, Poços de Caldas e Monte Sião. Belíssima região!

As minas de águas possuem milagrosos efeitos. Dizem os moradores satisfeitos, só para nos provocar. Estendo a mão. Provo todas. Porque não? Água boa pros rins. Pra pele, pros cabelos. Água pra curar reumatismo, diabetes, dor nos joelhos. Para curar o estresse. E acalmar o coração. Bebo de montão. Vai que cura tudo de uma só vez? Fui com cinquenta e volto com uns dezesseis! 

Experimento as alcalinas, suaves e mais leves. A seguir, as sulfurosas, mal cheirosas, quase não descem. As ferruginosas, então, com o gosto final de metal. Cabo de guarda chuva. E quanta chuva! Àguas por todos os lados. Nos lagos, riachos, nas bicas e por toda a pluviosíssima viagem apreciando a mineira paisagem.

E nesse divino e tempestuoso chuveiro, lavamos a alma e o corpo pro ano inteiro. Circuito das águas. Mês de fevereiro! Minas em sua essência. Boa prosa, café, bica d'àgua e pão de queijo! E nos perseguindo em cada momento, uma frase solta de Milton Nascimento...  

No meio do caminho, um desafio sem sentido: o poço dos desejos! Escrito em talhe de madeira num poço de pedras da velha fazenda. E podiam três! Três desejos para satisfazer...
Interrompendo minha paz e o impagável silêncio, pensei em ser jovem outra vez. De melhor? Só o corpo, talvez. Ou, ganhar milhões em dinheiro e ter andar com seguranças, sem poder caminhar em paz pela vizinhança.

Antes do terceiro, parei. Apenas estendi a mão e bebi a água pura da fonte. Sem pedidos, nem desejos. Apenas entendendo o valor do momento. A riqueza, de quem bebe da mãe natureza!



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                                            VEM AÍ...

                PROJETO " VEM QUE TREM POESIA"...

                               AGUARDEM!

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

RABINHO ENTRE AS PERNAS...


Ele tremia assustado. Num vaivém desvairado, tentando cruzar a avenida... Magro, peludo e molhado. Seguia perdido em direção aos carros. Prováveis algozes. Passando velozes. Uma cena de medo real. Aflição animal! 

O peludinho ia e voltava. Depois, de novo tentava. O carro da direita parava. O cãozinho seguia. O da esquerda acelerava. Meu Deus, quase morreu! O outro carro freou. Que bom! Mas o cão refugou! E foi assim a agonia sem fim. Eu não sabia como ajudar. Nem segurar. Só gritar. Ele corria pra frente e pra trás. Num ziguezague de arrepiar! 

Chegou, então, um rapaz. Uma moça que ia pra faculdade. Um entregador de pizza. E um senhor de idade. Resolvemos que o trânsito todo teria de parar. Força tarefa! Ato de bravura! Ou loucura! Foi sem pensar... Detemos os carros um a um. O cãozinho assustado, com o rabinho entre as pernas, foi lentamente atravessando. De orelhinha baixa, cruzando a faixa. Saiu meio de lado. Sabendo da aflição que nos havia causado. 

Olhamos com doçura e cara feia, como olham as mães diante de uma travessura. Ou quando soltamos, de repente, suas mãos nas ruas. Elas sabem o perigo do vaivém. E nós também! 

Somos o vira lata na avenida. Sem saber desviar dos problemas da vida. Doenças. Tragédias. Mágoas reprimidas... Tentamos sozinhos. Mas a coisa acelera. A dor continua. A gente desespera. Pedimos força tarefa! Amigos. Parentes. Vizinhos que cheguem depressa. Para nos salvar. 

Depois, seguimos em frente e vivos! Com ajuda e alívio. Feito o pobre cão molhado, encolhendo envergonhado o rabo... Ninguém sobrevive sozinho!



*                                   *                                 *                               
                    

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segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

O BARULHO DA CHUVA...


A chuva me acalma...  O barulho da chuva fina me acalma. É como se alguém me dissesse, lenta e tranquilamente... não faça nada agora! Não está vendo? Chove lá fora!  Não tenho que sair na rua. Não vou poder ir na reunião... Vê que bom! 

A chuva é o consentimento meteorológico do não! Posso adiar os mais chatos compromissos. Os encontros tensos que, na verdade, pouco me interessam... A chuva permite a desistência! E com apoio de todos e natural compreensão. O céu está caindo. Sacudindo seus pingos. A chuva é tão forte que eu não posso sair. Desculpe, vou ficar por aqui! Olhando pro alto, vendo água cair... 

É lindo o céu em prantos. Pelos quatro cantos. Lavando o verde, as plantas, as palmeiras, as sementes... O ritmo dos pingos é uma orquestra viva. Aquosa sintonia. Volumosa melodia... Fortíssima! Bravíssima! Com sibilantes rajadas e rufar de trovões. 

No meu jardim encharcado, nos galhos, nos bancos e no telhado... Até nos degraus da escada molhada. Eu ponho a pontinha dos pés, com medo da terrível deslizada. Queda ligeira. Danada! E assim me retraio... Saio ou não saio? Entro na chuva? Piso com os pés na terra encharcada? Ou não faço nada? Tudo passa. Tudo lava. Vou esperar a chuva passar... 

Porque quando chove, nada é pra já! O corpo para. Mas a alma lavada... deixa “ tu-do-pra-lá...”


*                  *                      * 

VEM AÍ...

"VEM QUE TREM POESIA..."    AGUARDE!