O coração, às vezes, perde o juízo. Dá pulos. Retumba.
Batuca. Salta na boca e termina num sorriso. Perto da nuca.
É o pulsar da
alegria... Às vezes, vem com grito e intensidade. De quem viu seu nome na lista
da faculdade. Alegria manifesta. Que se lê nos olhos e na testa. É o coração
rufando tambores. Tipo grand finale!
Mas tem também o pulsar das alegrias
medianas. Sorrisos singelos. Dos que se esbarram na faixa de pedestres no sinal
amarelo. O coração bate leve. Piano. Meio por engano.
As alegrias mais visíveis
são dos amigos boçais. Que se abraçam na rua, batendo no peito. Trocando tapas
e palavrões. Tão leais e retumbantes, seus corações! Tem ainda as alegrias
escondidas. Do coração que não se agita. E bate feito tambor abafado. O da
menina que recebeu “in box”, um nude ousado!
Melhor é o “tun-tá” dos corações que
galopam em disparada. Alegria escancarada. Que vem com gargalhada. Das crianças,
brincando na manhã ensolarada. Alegria
ruidosa. Que se ouve de longe. E o coração batuca feito pandeiro, reco- reco e timbal.
Som da aorta, em pleno carnaval!
Mas é na tristeza que o coração se encolhe e
toca outros instrumentos. São as tristezas de momentos. Acordes longos em tons menores.
No velho peito, uma triste partitura. O miar de gatos na noite escura. O choro noturno
das viúvas. Que não se cura. E a nota triste, que ecoa do ninho. No pio do solitário
passarinho... Aí o coração se encolhe e se apequena. Fica cada vez mais fino. É a
tristeza do violino...
E a gente se ilude, dizendo, já não há mais coração!