É lá que os artesãos se reproduzem. Aos montes. Feito
bichinhos! São, na maioria, locais que aprenderam a profissão e um jeito de sobreviver com arte. Entocados em seus ateliês e oficinas instaladas em
casinhas antigas. Muitas, feitas de adobe, um tipo de tijolo natural que mistura palha e barro. É lá que o ferro de Minas se transforma em flores artesanais e a madeira de demolição vira quadros de arte e móveis geniais nas mãos dos criativos artesãos.
Foi assim, com a ajuda destes artistas, que Bichinho se reergueu depois da febre do ouro e da sua derrocada. Definitiva. Mas a história daqueles tempos cruéis insiste em continuar viva...
A história vai cruzando toda a cidade, adentrando as
igrejinhas barrocas e seguindo pela Estrada Real. Caminho de terra e de
pedras. Tudo muito natural. Com direito a vista panorâmica que nos dá a dimensão do tamanho
e da beleza das paisagens mineiras, entre Prados e Tiradentes. É lá entre as duas que está Bichinho. Pequenina. E grande, na riqueza da arte! Mas visitar Bichinho, como demora...
É impossível comprar algum artesanato sem gastar meia hora de prosa com quem por ali estiver. E se tiver uma cachaça... Aí é desgraça.
Na primeira parada, olhamos alguns objetos em decapê e lá se foram quarenta minutos falando sobre o ninho de pardal que apareceu no ateliê. Com direito ao vôo dos filhotinhos por cima de nossas cabeças. Em outra oficina, mais prosa com o artesão que contou de suas invenções, suas vendas e doenças. Trocamos endereços e dicas de remédios. Tudo lento, mas sem tédio!
E já era hora de almoçar. Tutu, couve e torresmo! Forno a lenha. Panelas de barro a fumegar... E mais uma vez, a estrada Real à nossa frente, com direito a uma
rádio local tocando músicas do tempo imperial. Trilha ideal.
E foi no meio da estrada repleta de história, liberdade e sangue... de
pedras reais, terra seca e rachante que a coincidência se deu... Um bichinho pequenino e inconsequente cruzou a frente do nosso carro com a calma de quem não tem medo, nem pressa de chegar...