Páginas

quarta-feira, 24 de junho de 2020

NÃO FOI TEMPO PERDIDO...


Lennon parou por cinco anos para cuidar de Sean... Fazer sua comida e seus caprichos. Caminhar no Central Park, sem Paul, George ou Ringo. Paul deu um tempo. Quase um ano. Numa fazenda, cuidando das plantas e dos bichos. Linda, mais que linda trouxe Paul de volta. Com os Wings e asas renovadas, novas fotos e canções feitas em casa...

Michael Jordan se cansou da NBA. De tanto triplo-duplo que fez. Largou a cesta e no sábado foi jogar baseball. Durou pouco. Jogou mal. Deve ter pensado bastante nos vinte e quatro segundos em que o tempo estourou. No pai que enterrou junto com a bola final... a única que naquela triste noite, ele não acertou. O tempo passou. Air Jordan voltou. E novamente voou!

Ah, a pausa. Tempo de espera. Muitas vezes, necessária de se ter. Nas obras de Vivaldi, entre os acordes e ritmos contagiantes, também sentimos pausas breves e elegantes. Não resistimos por muito tempo na mesma constante.
 
Parei cinco anos aproximadamente, quando cuidei verdadeiramente de alguém. Com todo meu tempo e atenção. Tempo de amor. Delicada dedicação. Tendo a mãe e seu Alzheimer como companhia. Conversas estranhas onde nada, muitas vezes se compreendia. O tempo passava e eu não percebia... 

O tempo ilude quem cuida. O relógio parava quando eu chegava às três da tarde. O tempo passava sem alarde. Ele insiste em sempre passar. E muitas vezes vai colocando ordem na casa e as coisas no lugar. Regenera o que estava se esgotando. Esgota o que já estava no fundo estragando.

O meu abacate verde amarelou e secou no meio da longa quarentena. Não comi. Não percebi. Foi rápido feito uma centelha. E a menina Lia, com leucemia, se recuperou. Seis meses no hospital. A pausa tratou o mal.

E quando Renato Russo parou na adolescência na cama do seu quarto, semiparalisado, tinha a mãe e o violão do lado. Fez grandes canções pensando em Mônicas e Eduardos. Deixou seu legado. Mais tarde, pausou de vez e partiu.

Cada pausa traz um sentido. O tempo gasto por amor... Não é tempo perdido!


*************************************************


QUER DAR DE PRESENTE O LIVRO "INESPLICANDO"?

PEÇA PELO WHAT'SAPP 13 997754072

RECEBA PELO CORREIO... E COM DEDICATÓRIA!


quarta-feira, 17 de junho de 2020

ESTRADA BONITA




A primeira vez na Estrada Bonita, foi como fitar um buquê de flores vivas. Lírios, sem-vergonhas, vincas, margaridas... Eu passeava os olhos pelas casinhas bem pintadas e floridas. Era ali a primavera espraiada e agradecida. Alguns ranchos de madeira com cerquinhas brancas, amarelas e azuladas. E em todos eles, uma horta e um jardim. Havia placas simpáticas, com palavras adocicadas. Vendo bolos caseiros e mel! Uma rua dos sonhos, no céu?
Outras casas e mais convidativas placas. Temos queijo branco e tranças de muçarela! Saí procurando Rapunzel na janela... Mas era Helga, uma alemã bonita, de lenço branco e avental com cheiro de canela. Dos bolos, das cucas e pães de ló que vendia no vilarejo de uma rua só! Vilarejo do sul. De Joinville. Do Brasil... Gente germânica gentil que ali vivia e plantava. Produzia, vendia, trocava. 

A Estrada Bonita terminava de repente, numa pousada rústica e enigmática. Margeada por um rio salpicado de pedras redondas e amontoadas. Pequenas, médias e grandes. Parecia abrigar almas solitárias à noite. Mas de dia, a vista era revigorante. Pontes rústicas e portais. Rodas de água, bois e vaquinhas pastando na estrada. Grama verde e altos ciprestes que recolhiam a paz e devolviam em ar puro e refrescante para os inebriados visitantes...

Voltamos pelo caminho florido à procura do restaurante antigo que ficava logo na entrada. Comida típica alemã! Eisbein, strudel, salsichão... Passava das três da tarde e as borboletas, famintas, voavam soltas em nossos estômagos vazios...

Subimos a escada e demos com a porta trancada! A placa principal do restaurante avisava: Fechado para descanso! Abri um sorriso.
Deve ser um hábito... aqui no paraíso! 


**********


link para conhecer mais..

 https://www.sesc-sc.com.br/blog/lazer/destinos-regionais-estrada-bonita-e-referencia-de-turismo-rural-em-joinville-

**************************************

QUER O LIVRO "INESPLICANDO" ? 
PEÇA PELO WHAT'SAPP 13 997754072 
E RECEBA EM CASA!

domingo, 7 de junho de 2020

ELA VENCEU!



Tem um bonde que passa no Centro turístico da cidade. No último passeio pude ver, com tempo e detalhes, as velhas casas e armazéns do século passado. Paredes fortes e espessas. Algumas frontarias azulejadas. A maior parte desses imóveis, abandonada. Só vestígios do que já foram. Pedaços de antigas paredes e partes de telhados desabando. 

No meio do desalento, mudas de plantas saltavam das paredes de concreto. Com seus caules verdes eretos. E no chão, uma flor amarela me olhava com alegria e espanto!

A vida surgia das entranhas da rua. De cor viva e pura. Delicadeza que fura. Raízes fortes que romperam  estruturas e pelas frestas, espertas, chegaram à luz. Até nas ruas de trilhos, no vão dos velhos paralelepípedos, as flores heroicas saltavam do chão, feito primavera em explosão. 

Lembrei da minha lágrima de cristo... Tentei por diversas vezes plantar trepadeiras no canteiro da casa onde morava. Nenhuma delas vingava. A tumbérgia não resistiu. Tão pouco, o sapatinho de judia. Até o maracujá foi se agarrando e cresceu, deu dois frutos e feito a camélia caída do vaso, morreu.

Num dia inesperado, num pequeno buraquinho entre o cimento e a madeira da pilastra ela surgiu... Primeiro, um broto pontudo despontou. Depois uma folhinha. Mais outra. E outra mais vingou. Em poucos dias, alegres florinhas brancas de pistilo vermelho já se enroscavam no telhado cinzento e descorado. 

De onde veio a lágrima, silenciosa e persistente? As plantas são mais fortes que a gente, de certo. Suas raízes rasteiam. Volteiam. Não desistem. E se embrenham furando o concreto. Rompendo o asfalto e o vazio do centro em seu quase mortal esquecimento. 

Foi naquele buraquinho do meu canteiro, estreito e pequeno, que surgiu e cresceu exuberante a minha lágrima de Cristo. Bela. Singela! Regada e nutrida com tudo que precisa.
Água. Luz. E o sal... da terra!






**************************

QUER O LIVRO "INESPLICANDO" ? 
PEÇA PELO WHAT'SAPP 13 997754072 
E RECEBA EM CASA!