O terreno era imenso. Tomava quase um quarteirão inteiro. Irregular e baldio. Com algum mato espalhado e armações
de cimento escurecidas pelo tempo. Escombros de uma construção antiga e misteriosamente interrompida.
Os vizinhos mais antigos diziam ter sido um cemitério
indígena e por isso, nada ali vingava. Ninguém conseguia construir. E os que
tentavam, desistiam. Talvez com medo de um cacique fantasma ou uma tribo zumbi, antropofágica. Não acredito! Mas não duvido...
Penso que
os lugares, as esquinas, as casas, guardam energias. Medos, desejos e sentimentos que não conseguiram se soltar. Sinto logo de pronto,
quando entro pela primeira vez em um ambiente ou lugar. Ora leve. Ora pesado. Às vezes... encantado.
Devem ser as paredes. Elas
talvez conservem a energia dos que lá viveram. Parece que tudo fica impregnado. No vão das portas. No teto.
No chão. No ar. Um campo energético sutil e impalpável. Porém, sensível à
alma. E que arrepio que dá! Talvez por isso alguns comércios nunca dão certo em estranhos locais. Ah, naquela esquina tem caveira de burro! Energia densa. Só pode
ser. Não entre sem se benzer!
Ao contrário dos terrenos negativos, existem cantos que nos enchem de paz e harmonia. Onde a felicidade se respira, inspira e contagia. Um santo abrigo de luz e poesia.
Eu tenho um desses na minha
casa. O cantinho especial. Um vasinho com flor e uma cadeira de balanço. É lá que esqueço do tempo. Dos compromissos, da pressa e do almoço... Nesse canto tudo cresce. As flores duram meses. Os sonhos reaparecem. E quem senta, rejuvenesce. Pelo menos parece...
Ontem tirei umas horinhas na
cadeira de palha, com roupa folgada e sandália, só para descansar do mundo. Imaginei lugares incríveis e bonitos. A África, o Nilo, as pirâmides do Egito...
Tenho pra mim, que se os
pesquisadores me visitassem e cavassem fundo o meu chão, encontrariam uma
imensa pirâmide... E no centro, Tutankamon!