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quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

AQUELE DRINK AZUL...


Tá certo que a família estava unida e feliz. E que as crianças eram pequenas e se contentavam em brincar de artistas mirins. Com maquiagens, microfones imaginários e imitações dos ídolos da tevê. Mas era tão bom!
Tá certo que ninguém ficava pendurado no celular, mandando vídeos e trocando mensagens com amigos de fora... Os mais importantes estavam ali. Mas aquele drink azul, unia toda a família...
E todo ano era assim. Natal na casa do irmão mais velho. Às vezes, no mais novo. Às vezes, na casa da mãe. O drink azul abria as comemorações! Lembro vagamente a receita... um pouco de soda, gin e Curaçao blue! Na borda, ia açucar. Ah, e o limão cortadinho, que não podia faltar! 
Tá certo que depois vinham camarões na moranga, da dedicada cunhada. O bacalhau português, da sogra orgulhosa. A maionese, tão leve, da mãe, feita com amor e atenção para chegar no ponto certo no liquidificador! E a noite inteira para sorrir e trocar presentes. Presentinhos. A gente não tinha lá muito dinheiro...
Ninguém reclamava nas redes. Não havia redes. E os políticos? Deviam agir como sempre... Mas não era esse o assunto. Era sempre aquele drink azul.... Mortal! E hoje, imortal. Abria o apetite e o coração! E tinha algo marinho nele. Cor de oceano profundo. Águas calmas onde a família mergulhava feliz. 
Faz um tempão tudo isso... Já não temos mais esses grandes natais na família. As crianças cresceram e passam a festa com outras famílias. Alguns casais se dissolveram. O irmão mais velho já se foi... A mãe, não consegue mais andar, muito menos fazer maionese...  
E quando a saudade aperta, eu lembro daquele drink azul... Deve ser culpa dele, essa minha vontade de chorar...   


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OBRIGADA PELA VISITA!  

FELIZ NATAL!


quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

O ASSOVIO MORA AO LADO...


Um assovio alegre. Muito alegre. Repetido várias vezes. Por uns dias. Por meses.
Durante uma reforma infindável no meu apartamento, tive que morar por um tempo numa casa emprestada. E com um vizinho de muro colado. Jardim com jardim. Quintal com quintal. E a mesma caixa postal!
Tudo era aceitável naquele improviso temporário. Até que, no silêncio da manhã, uma alegre marchinha de exército americano alguém começou a assoviar... lála, lalalala lala, lála! Um rapaz? Um soldado? Um velho desocupado ensinando um papagaio? Dormi mais um pouco, embalada pelo assovio intermitente. 
Veio a noite. E o assovio novamente. Lála, lalalala lala, lála! Como era irritantemente contente. A mesma alegre melodia. De manhã. De noite. De repente!
Fui perguntar aos vizinhos, na esperança de mais algum descontente. Ninguém ouvia. Todos indiferentes. Toquei várias vezes a campainha do vizinho feliz, mas nunca encontrei ninguém. Olhei pelo muro. Vigiei a porta e a janela para ele não fugir. Mas não via o vizinho chegar, nem partir.
E ficamos assim... Dias. Semanas. Um mês. Dois meses. O mesmo assovio, dia e noite, feito açoite! Até que no mês de dezembro, voltei pro meu apartamento. Novinho em folha. Tão belo. E tão sem ninguém...
Estou lá há uns três meses e às vezes, bate aquela solidão. É aí que de manhãzinha, eu confesso que sinto falta. E apelo descaradamente: lála, lalalala lala, lála...
 
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sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

MENINOS DO SINAL




Sinal fechado. Carros parados. O menino se aproxima...

São dois olhos negros e sérios. As bolinhas em suas mãos pequenas, sobem, descem e triangulam num desenho lúdico e veloz. O menino de olhar atento, mostra sem riso o seu talento, na avenida cheia de carros à espera do sinal.

Eles vêm em dois ou três e começam o show. Jogam limões para o alto. Três, quatro limões, às vezes, cinco! Fazem malabarismos para a plateia que nem sempre quer ver. Circo sem bilheteria. Sem graça. Sem pipoca. Sem alegria. Crianças no picadeiro. Meninos semi despidos com suas habilidades nuas. Fazem circo. Pedem pão.
Por vezes erram e cessam por um instante a apresentação. Não sorriem. Nem contam com a ajuda de um bom palhaço. Seguem firmes adiante, até o amarelo aparecer e dar o sinal...
É o amarelo da gorjeta. O amarelo do sorriso amarelo do motorista sem trocados. O amarelo do sol no rosto das suas faces infantis já curtidas. O amarelo da raiva do apressado que nunca, nada consegue ver.
Olho por detrás do vidro. O menino se aproxima... O tempo é curto. Conto as minhas moedas rapidamente. São poucas, não dá um real. Amarelo de vergonha por dar sempre tão pouco. Abro a janelinha e me justifico, mas o menino não parece se importar. Não se importa com muita coisa. Não se importa com quase nada...
Na boca, o gosto azedo do limão.

Os olhos negros e sérios preparam o próximo show no sinal. Verde novamente. Sigo em frente até a próximo esquina. Mais um sinal vermelho. Mais meninos e malabares. Mais circo e picadeiro. Eles pedem atenção! 
E o sinal não para...verde, amarelo, vermelho...
Em cada esquina do meu atropelado coração.

 


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quarta-feira, 29 de novembro de 2017

QUAL A CAPITAL DO UZBEQUISTÃO?




Eu não os chamaria de loucos. Prefiro chamá-los marqueteiros! Natos. Originais. Alguns, geniais... Os ambulantes criativos e exóticos se espalham pelas praças, ruas e avenidas vendendo seus produtos com arte e irreverência. Aqui nas praias do litoral paulista, esbarramos em alguns interessantes...
Um deles traz o produto na cabeça. Cabelos com bizarros cachos emaranhados pelo tempo, servem de encaixe perfeito para as cascas vazias de amendoim. É visto à distância com os enfeites na cabeça. Estranhas madeixas. É o vendedor de amendoim mais conhecido no pedaço! Sujeito encasquetado. Todo encascado. Usa a camiseta da Jamaica com o rosto do Bob Marley estampado.
Outro conhecido é um sujeito gordinho. De sotaque baiano, roupa rodada de renda e voz estridente. Bate martelo num bumbo, gritando: Cocada light. Cocada diet. Cocada engordiet! Os gritos assustam os quem ainda não o conhecem. Mas ele garante que sua cocada, além de boa, emagrece! Ele vende junto a fitinha do Bonfim e ensina a prece...
O mais criativo pra mim era o vendedor de sanduíche natural, famoso aqui pelas praias ao sul do litoral. O Rambo. Faz tempo que não o vejo. Usava bermuda de exército e bandana na testa. Uma espécie de Stallone tropical! Caminhava quilômetros na areia quente da praia, lançando no ar, perguntas de conhecimentos gerais. Naquele tempo não tinha celular. Nem Google pra consultar.
O Rambo desfilava seus músculos e perguntava valendo um sanduiche natural... Quem sabe a capital? Cada vez, era um pais diferente. Vez ou outra, um professor acabava acertando. Mas, era muito difícil. E o Rambo se divertia. "Vamo estudá pessoal...Tem que estudá"... 
Acho que foi por causa do Rambo que eu jamais esqueci o nome da capital do Uzbequistão, que é a cidade de... Melhor não contar. Vou fazer como o Rambo. Vamos pesquisar pessoal! Tem que estudar...  



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terça-feira, 28 de novembro de 2017

RESENHA DO MÊS: "CARNET DE VOYAGE" - EDGAR DUVIVIER

                                       “... o mar é um ótimo papo, sabe escutar e
                                                                guardar segredos pra sempre...”     
    Lindo de ler! Lindo de ver...  
Tem horas que a gente não está pra coisas muito densas e profundas. A vida anda tão carrancuda... O mundo, conturbado. Pra esses momentos que buscamos um pouco de leveza e um toque de beleza, nada melhor do que viajar nas páginas do livro “ Carnet de Voyage”. São 24 mini crônicas, acompanhados de belíssimos desenhos, que colorem cada cenário visitado pelo autor. Textos pequenos e deliciosos. Uma mistura perfeita! Afinal, à espera da terceira idade, como o próprio autor se declara, o escritor, músico e artista carioca Edgar Duvivier mostra sinais maduros de quem aprendeu saborosamente com a vida, o que é um bom cardápio... " escolher uma viagem é, as vezes, como escolher um prato de um restaurante que você já conhece. O apelo de repetir o que a gente gosta é grande, e acaba que muitas vezes, repetimos o prato.”
E ele repete mesmo. Sem pudor... “ sempre que posso volto a França...  como um pombo volta pra casa.” 
Comparando a vida, com grata simplicidade “... uma espécie de Carnet de Voyage. Um livro em branco onde vão se escrevendo histórias, se pintando quadros e guardando retratos.”
Longe de ser um guia turístico dos locais por onde passou, o livro de Duvivier é o registro de alguns lugares que ficaram na sua memória, nem sempre por serem os melhores, ou mais bonitos, mas por terem, de alguma forma, deixado uma marca... Assim foram, Roma “ onde você vê mais esculturas que gente...”, Lisboa “ é como visitar a casa da nossa avó”, New York “A menos americana” e “a mais americana do mundo”, Patagônia  whisky on the rocks com pedras de gelo milenares”, Cuzco  "No trem, entre porcos, galinhas, índios e turistas..” ,
Parada Filgueiras.,. “ Quando algum dia eu não vir mais nada, acho que estarei ainda vendo o sol nascer em Parada Filgueiras...”
E, vários outros locais exóticos, como Canal de St Martin, Boulder, Ilha da Madeira, São Domingos... Sem faltar, é claro, o seu Rio de Janeiro, por quem o autor se confessa apaixonado, “apesar de tudo”. Daí, talvez, o olhar poético sobre as favelas...  Quando escurece e as luzes se acendem no morro, as favelas dão de presente pra cidade um tesouro de jóias que brilham sob as curvas escuras das montanhas adormecidas”. Ou ainda, derramado sobre as praias cariocas...“ a praia do Arpoador é a praia em si!
É deste jeito que  “Carnet de Voyage” nos encanta e delicia. Como um leve e breve passeio olhando belas paisagens. Obra de um autor maduro, que divide com o leitor, seus desenhos, memórias e seu olhar poético. Sensibilidade que alcança além das emoções e experiências individuais, provocando ternura naquele que lê!  Como em seu último conto, o retrato delicado da mãe aos noventa anos, caminhando na praia rumo ao futuro, incerto...“ o medo da morte está na razão, o instinto sabe que tudo é um fluir!”
Carnet de Voyage flui deliciosamente bem. Um livro lindo de ler! Lindo de ver!
  
Livro: Carnet de Voyage
Autor:  Edgard Duvivier
Publicação: Julho de 2015
Número de Páginas: 60
Coleção: Passos Perdidos
Gênero: Crônicas
 
 
 
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quarta-feira, 22 de novembro de 2017

NEM SIM, NEM NÃO!


A idade vai nos lapidando. A vida calcada nas experiências apura nossos sentidos. Cada vez mais ligeiros percebemos as meias, primeiras ou décimas terceiras intenções. Um sorriso de lado. Um ato disfarçado. Um aperto de mão vazio. Um olhar de esguio...
E quanto mais desvendamos a alma humana, mais triste descobrimos suas artimanhas. E como é chato ter de ler nas entrelinhas... Um textão de ladainhas. O que quis dizer aquela frase pela metade? Fulano está ressentido de verdade? É meu amigo ou inimigo? Foi um elogio ou pura falsidade?
As redes sociais são mestras na especialidade. Repletas de meias palavras e meias verdades. E não temos mais tempo pra isso. Queremos, alguns poucos e em geral mais solitários, tudo mais claro. Transparente, se possível! 
Nada de dizer que está lindo, o que não está. Dizer que gosta, quando apenas suporta o lugar! Comer mortadela e um peru ter de mostrar. Que tal abrirmos as portas? As janelas. O coração... Feito crianças, com respostas simples: sim ou não!
Na juventude, nadando na corrente, a gente segue a massa e não lê os entrementes. Surfa na onda emergente sem perceber.  Depois que se amadurece e mais fundo o ser humano se conhece, torna-se fácil decidir. Nada de meios sorrisos. Meias verdades. Meias intenções.
A idade madura pede clareza. Olho no olho. Palavras e gestos reais. Sejam eles doces ou amargos. As Monalisas me desculpem... 
Prefiro os sorrisos largos!


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sábado, 18 de novembro de 2017

QUANDO EU PAGAVA MEIA...


O nome era cine Universo. Tinha o teto retrátil. O que era muito mais interessante que a maioria dos filmes que passavam.
Era mágico e excitante ver aquele portal gigante abrindo lentamente no final de cada sessão. E tinha sempre um noticiário em branco e preto antes dos filmes. O Primo Carbonari, com trilha orquestrada e notícias em voz padrão. E o Canal 100, mostrando cinematograficamente um clássico no Maracanã apinhado de gente. Eu gostava daquele balé de pernas, filmadas de baixo pra cima, driblando e passando a bola em “slow motion”.
A maioria dos cinemas da época apresentava sessões duplas. “Dio Come te amo” era batata, antes da estreia de um novo filme, deixando ainda mais romântica a adolescência paulistana. Ninguém reclamava. Tudo era cinema! Cada qual com sua magia. E chatos dos lanterninhas...
Gazeta, Gazetinha e Gazetão eram vizinhos dos famosos cursinhos. Fontana e sua sessão tripla no Brás. Copan e Belas Artes, o cinema dos artistas. Bijou, Olido, Marabá. Cada um com o seu charme e beleza. E todos com o mesmo cheiro de aromatizante. Pipoca amanteigada e refrigerante. 
Cines de som horroroso. Cadeiras de madeira e duro encosto. Por onde deslizavam chaves e carteiras. E depois de sentar, a estranha mania de observar... A mulher mais nova e o senhor sem cabelo. O homem magro, de rosto vermelho. A mulher que saiu do cabeleireiro. Eduardos e Mônicas, sem moto, sem camelo...
Tudo num cenário mais antigo. Na sessão, vários amigos. E o cara gigante que sentava na nossa frente roubando parte da legenda e da nossa paciência.
Coisa de cinema. Tudo encantava. Mas o cine Universo superava. Quando não chovia, o enorme teto se abria. Para que até os anjinhos, lá de cima, dessem uma entradinha. Pura cortesia!  
  
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curiosos e interessados... 
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Vale a pena...
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quarta-feira, 8 de novembro de 2017

PENDURANDO ORQUÍDEAS


Parece que combinaram. Todos os meus vizinhos da rua. Os da direita, os da esquerda e os de frente... Resolveram pendurar orquídeas em suas árvores defronte aos prédios onde moram, no finalzinho do mês de setembro. E parece que as plantas acolheram docemente o local da exposição. Florindo todas ao mesmo tempo, numa explosão de cores em meio ao concreto e o cinzento das ruas.
Tem as amarelas. As brancas e lilases. As roxas. As azuis. E até as múltiplas róseas! Desde então, minha caminhada não tem sido a mesma. Agora, a pé pela calçada, não penso nas tarefinhas ordinárias, nas compras do mercado, no político safado, na conta que não fecha. Agora vejo árvores! Suas cores. Seus tamanhos. Seus troncos enfeitados.
Percebi duas quaresmeiras entre os enormes chapéus de sol. Uma pitangueira. Dois Ficus. E uma pequena e florida, que ninguém sabe o nome. Nem o porteiro do prédio. Linda. E com orquídeas penduradas, mais ainda!
Penso que essa delicadeza despertou o meu novo olhar... E me atrevo a imaginar que, talvez, um dia, a gente pudesse pendurar orquídeas em todo lugar.
Naquele quartinho de casa, cheio de quinquilharias, roupas e sonhos amarrotados... Uma orquídea por lá, não iria nos provocar?  E uma orquídea no porão ? Uma no estacionamento? Outra, no viaduto de cimento. Ah.. e uma enorme, bem no pescoço do chefe avarento.  Não custa tentar... 
Pendurar orquídeas é bom demais! Elas mudam nosso olhar! Na minha rua já temos nas árvores, nas praças, nos jardins e quintais. Pensamos, agora, em orquídeas nas rampas de Brasília... 
Mas seria contraste demais! 

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quinta-feira, 26 de outubro de 2017

ERA UMA QUADRA MUITO ENGRAÇADA...


 Não era uma pedra no meio do caminho. Era um ralo. Um grande ralo! Também não era um caminho. Era uma quadra. Muito engraçada. Quadra improvisada onde os alunos, alegres e indiferentes ao fato, jogavam volei, basquete e futebol... 
Eram rústicas as aulas de educação física do Colégio Padre Anchieta, no antigo bairro do Brás. As tabelas de basquete, presas na parede, eram de tamanho oficial. Mas as dimensões da quadra, não! 
Pequena e espremida no vão do pátio, o chão era o que mais complicava. De bloquetes sextavados e ásperos. Sem área de escape. E com aquele incrível ralo no meio. Como ralava nossos joelhos...
Pra não perder o controle da bola, o melhor era driblar o bendito ralo, ou bater no “meinho”. Coisa de craque! Modéstia a parte, técnica que eu dominava. E como eu driblava...
Nos jogos de volei, só os levantadores, fixos na época, é que sofriam. Vez ou outra alguém torcia o pé. E a gente se perguntava, como podia um colégio ganhar tantos jogos e torneios, treinando numa quadra com um ralo no meio? Os professores compensavam com empenho.
Eu vinha de um colégio modernizado. Com uma quadra oficial, onde a turma do esporte treinava e nunca ganhava. Eu me pegava embasbacada...
O Padre Anchieta tinha algo mais. Alma! E com certeza, alguns fantasmas atletas infiltrados. Principalmente no final dos corredores do velho prédio. De azulejos portugueses, banheiros amplos e assustadoramente vazios.
Voltei lá, há uns dez anos atrás, para visitar o colégio, junto com outros ex-alunos. O prédio agora abriga a Oficina Cultural Amácio Mazzaroppi. Ficou linda a restauração! Continuam belas as antigas janelas de vitrais coloridos e as escadas em caracol. A quadra ainda está lá. Agora, um pátio de apresentações. Com seu ralo de ferro. Quadrado. Bem no meio.
Olhei de pertinho. Os olhos encheram de água e percebi o quanto era mágico aquilo tudo. Eu adorava aquele ralo. Que se chamava... superação!

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quarta-feira, 11 de outubro de 2017

O CARDÁPIO DA VIZINHA

 
Ganhei novos vizinhos ao lado. No apartamento vinte três! 
Nas primeiras semanas, pensei que se tratasse de um “masterchef”. Depois, imaginei um casal, com uma mulher meio gorda, dessas que vivem para cozinhar. Ou,  uma família abastada, com sua cozinheira genial...
Acontece que meus dias não estão sendo mais os mesmos. Logo pela manhã, sou acordada por um cheiro irresistível de pão com manteiga, torrado na chapa. Outras vezes, uma espécie de tapioca com côco e azeite de dendê! Seria ela nordestina? Não sei, ainda... 
No almoço, carnes e peixes variados. Com temperos e aromas fantásticos, que despertam a gula em qualquer mortal carnívoro. Com certeza, não são vegetarianos...
E à tarde, quase sempre, um bolo de laranja! Sabe o que é sentir cheiro de bolo de laranja com café, às cinco da tarde? Felizmente, é muito raro ficar em casa neste horário. Mas é à noite, quando estou chegando, despedaçando-me de fome e cansaço, que vem a tortura final. Já no corredor, o cheiro dos molhos mais exóticos...  Nuances de macadâmia, molho madeira, manjericão...

Por  Deus! Está ficando cada vez mais difícil comer aquela saladinha leve de alface e tomate todas as noites, sentindo os aromas inebriantes que penetram pelas frestas da porta e das janelas do apartamento.
Semana passada, encontrei na porta, a incrível vizinha do vinte e três. Magra. Esbelta. Muito bem vestida. Perguntei, cordialmente, se era ela que cozinhava e tão bem. Simpática e gentil, ela sorriu e fez sinal com a cabeça dizendo que sim! Não perguntei mais nada. Nem mesmo se ainda trabalhava fora.
Vai que ela diz que é CEO de uma empresa e líder do mercado. Seria muita competência... morando ao lado!


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terça-feira, 10 de outubro de 2017

ENQUANTO ELA PASSA...

Era visível o despreparo em passar mangas e colarinhos amarrotados. Mas depois das três primeiras peças, a coisa foi ganhando técnica e ficando mais rápida. Como tudo.  
Primeiro as costas, depois as mangas. Vira de lado. Agora a frente, os punhos, as mangas... Por fim, o colarinho! E a tarde foi passando, assim como as roupas, tiradas progressivamente do cesto ao lado. Em cada peça passada, um pensamento novo e livre passando na cabeça caledoscópica de uma mulher, entregue a uma tarefa qualquer.
De início, um lenço vermelho. Vieram imagens de sangue. Crianças americanas assustadas, nas mãos de mais um franco atirador. Cenas de horror. E o Maluco do Trump que quer armar professor? Deixa pra lá! Parece até que aqui não temos problemas...
No rádio do vizinho, a voz do Datena. O ministro explica a vacina da febre amarela. A próxima camisa é amarela... Passo com cautela. As costas, as mangas e parto para a cinza... Cinza bem escuro. Que filme chato cinquenta tons de cinza! Livro enjoativo. O filme, um nada. E a moça, coitada! Um rico com manias de sadismo. Imagino minha tia assistindo... Ela que me levou ver Império dos sentidos! Todo adolescente queria ver. Chato também! 
Mais uma peça passada. Agora vem uma saia. É plissada. O que devo fazer ? Abro cada preguinha? Ou passo por cima? Por cima é mais fácil. Agora uma peça azul. Azul ou Tam? Piada sem graça... Tenho tanto medo de avião. Mas, se precisar ir a Portugal? Se ganhar a viagem num prêmio ou festival? Devo tratar essa fobia. Terapia, que tal?
Vou ligar pra amiga Célia. Ela deve saber. Aliás, ela está on line. Mas se eu ligar, não acabo de passar. Vem a calça do marido, aquela marrom. Com caldo de macarrão! Antes isso, que batom... Descuidado! Vai ouvir um bocado.
Por fim vem a blusa de seda, esvoaçante e com suaves tons de rosa...  Lembro das rosas que ele me deu. Do sorriso lindo e do olhar profundo que é só meu.
Passei o resto das roupas delicadamente ao som de Debussie. Que não tocou em lugar nenhum. Mas eu ouvi! 
Ah... cabeça de mulher...
 
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quarta-feira, 20 de setembro de 2017

A MÃE DA FORMIGA

                                                                                                  

Tem gente que é cascuda. Leva pancada da vida. Levanta, sacode a poeira e segue em frente. Não leva a culpa. Nem culpa ninguém. Assim lhe faz bem.
É bom gente assim. Que segue sem lamento, aprendendo a seu tempo. Muitas vezes, sem  comprometimento. Forjando seu jeito de suportar e viver.
Mas tem gente que é pura seda. Rasga fácil e desfaz-se em pedaços. Basta um peteleco da vida e a alma se contorce ferida. Um beijo mal dado e lá se vai o feriado, Uma palavra errada do amigo e a relação corre perigo. E quando a injustiça começa a rondar, o mundo parece desabar.  
É o ser sensível. Que no hospital vive o drama do paciente terminal. Aquele que sente e se incomoda. Vê desenho da Disney e chora. E como é duro ser assim...
Dizem que é coisa de artista, poeta, gente que não sabe ganhar dinheiro. Só problemas existenciais. Sou assim desde pequena. Os sentimentos vêm gigantes. Muitas vezes, desproporcionais. Para o bem e para o mal. Mas deixam na alma um contorno final!  
Eu tinha uns cinco anos. Sentada no chão da cozinha olhando uma fileira de formiguinhas que passavam. Como toda criança, impetuosa e muitas vezes cruel, espremi com o dedo a última formiga da turma. Queria tocar. Sentir seu cheiro. Experimentar o caos!
Meu pai, sem ter a noção do tecido frágil de que era feito meu coração, perguntou com ar sério... você matou a formiguinha? Sabia que a mamãe dela estava em casa esperando ela chegar? 
A frase cravou no meu peito feito um punhal. Foram dias de choro e tristeza. E a promessa de nunca mais matar uma formiga sequer. Nem as terríveis saúvas, nem as furadeiras.
Nenhuma mãe, mesmo inseto... merece essa pena.

 

 

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

SUPERSTIÇÃO?


Dora era única! Especial. De estatura baixa. Cheinha, só da cintura para baixo. Pernas brancas e roliças, em xis. E dona de um enorme par de olhos verdes, do tamanho do seu coração. Mas tinha suas esquisitices. A simetria, por exemplo. Trabalhava há anos com minha família e os objetos das mesas e prateleiras tinham que ficar sempre equilibrados. Dois pra direita. Dois pra esquerda. Um grupo de cada lado. Tudo simetricamente distribuído. Toque? Acredito que não. Era a estética mesmo. Ela achava melhor daquele jeito e pronto! 
Dava um trabalhão espalhar as coisas quando Dora saia e quebrar aquela rígida distribuição, dando agradável liberdade às coisas... 

Além da simetria, outras manias e superstições estavam incorporadas a Dora. Acreditava em olho gordo e mau agouro. Mariposa preta, por exemplo, era sinal de morte por perto. Quando entrava alguma em minha casa, ela já tremia da cabeça aos pés. Nossa, vai morrer alguém! Às vezes, demorava uns três, quatro dias, sem nenhuma morte sequer e aí Dora forçava... Viu? Fiquei sabendo que morreu o irmão do vizinho do meu cunhado.  Tá bom, Dora, eu fingia que valia... 

Outra maluquice, além de achar que eu deveria ser a primeira dama da minha Cidade e que devia abrir uma floricultura junto com ela e comercializar vasos de plantas, pois sabia da minha paixão e aptidão para criar orquídeas, era com relação a dois ursinhos de pelúcia que eu tinha no quarto de casal. Depois de arrumar a cama, esticar os lençóis e borrifar meus perfumes mais exóticos, ela colocava os dois ursinhos se beijando. 

De início, achei que tinha sido sem querer. No dia seguinte, achei que fosse brincadeira... Mas depois de semanas assim, perguntei... Dora, você coloca os ursinhos se beijando de propósito? Claro, Dona Inês. Eles se amam! Não sei como Dora descobriu isso... Fiquei com medo de perguntar. Aliás, Dora já não trabalha mais com a gente faz alguns anos. E vou confessar... até hoje,  quando arrumo o quarto, coloco os ursinhos se beijando. Vai que...



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quarta-feira, 16 de agosto de 2017

DÁ PRA FALAR AGORA?

 
Precisava falar com Deus... Mas tinha que ser agora!
Fico zangada quando encontro a porta da igreja fechada. E não tem ninguém pra me escutar. Tenho que ter hora marcada pra falar com Deus? E se for urgente? Se precisar falar neste exato momento?
A violência anda em alta, é certo, e até santo no altar está desaparecendo. Mas precisava tanto falar... Se fosse de madrugada, a porta trancada, eu até entenderia. Mas, no domingo? É trágico! Ainda nem acabou o Fantástico...
Precisava falar em particular. Não na missa. Cheia de gente orando.Vozes e cantos. Queria Tête-à-Tête!  Falar baixinho. Contar umas coisinhas. Fazer uns pedidinhos... Alguns desabafos e arrependimentos. Mas, sobretudo, trocar uma idéia. Saber se o  caminho está certo. Que nota estou... de comportamento?
Mas com a porta fechada, fechou o tempo! E o coração. Devo marcar outra hora? Assim como no dentista, no médico ou no massagista? Ora, Deus não faria isso. Deus não pede pra adiar.
Bato palmas! Não tem coroinha. Nem padre na sacristia. Nem ninguém que possa intermediar. Por um instante me divirto imaginando Deus em grupos do whatsapp, facebook, instagram... Não! Deus não aguentaria tanto ódio e negação...
Desisto do nosso encontro urgente. Descobrirei outra maneira de lhe falar, quando a dor apertar. Volto caminhando pra casa, cabeça baixa em desapontamento.
Sem perceber que na esquina ao lado, com um morador de rua, em afável bate papo... estava Deus!
Eu nem vi! Ele que me contou ...



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quarta-feira, 9 de agosto de 2017

LICENÇA PARA ANDAR



Às vezes sinto uma vontade imensa de largar a rotina e andar.
Andar por andar... Numa estrada de terra ou na areia, perto do mar.
Não me pergunte quantas horas ou quantos dias. Trata-se de uma licença indeterminada para andar. E não me venha com a ideia de ir a Compostela. Não quero metas, nem objetivos a alcançar. Andar por andar! 
Também não quero ninguém no caminho. Talvez um passarinho. Um lagarto. Ou uma conchinha do mar. Quero o vazio. Esvaziar... Livres, o coração e a mente.
Caminhar sem pensamento, sentimento, lamento, contratempo ou investimento... Quero braços e pernas em movimento cadenciado. Coração tuntaqueando sossegado.
E a alma desdobrada, flutuando bem ao lado. Leveza, sem meditação. Sozinho, sem solidão! Andar por andar, sem maior ou menor explicação.
E depois de algum tempo, vagando, saberei a hora de voltar. Com certa satisfação. Como no último dia de uma longa viagem... Mas sem as malas entuchadas. Nem ticket de passagem.
Vou dar meia volta, somente, e recomeçar...
Um dia vou saber, onde enfim, quero chegar!

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segunda-feira, 7 de agosto de 2017

ANTES DE LEVANTAR...


Alguns permanecem no mesmo lugar. Há décadas... Tomam sol. Tomam chuva. Só a paisagem é que muda. Eles continuam mudos. Mas tenho lá minhas dúvidas, se não ouvem tudo que se passa. Pobres bancos das ruas e das praças. Como deve ser torturante...
Milhares de pessoas se sentam. Conversam e se deitam em seus acolhedores assentos. Imagino as conversas truncadas e sem desfecho. Papos interessantes que dão cabo com frases curtas, cortantes...  - Olha o ônibus! Vamos? E o banco, coitado, sem nada concluído, vê de longe os recém amigos partindo...  
Os bancos são referência. São abrigo. Dos velhos cansados. Dos aflitos. Dos amantes. Dos solitários e esquecidos. Os bancos ouvem toda essa gente. Ouvem a crente e sua novena. Ouvem a intriga da loira com a morena. Ouvem os lamentos das viúvas. Pais e filhos com suas dúvidas. Senhoras e seus cãezinhos. Mendigos e pivetinhos. Tudo com tempo determinado. E nenhum assunto finalizado...  
As cozinheiras trocam receitas inteiras e na hora de contar o segredo, falam baixinho... -Vamos andando. Eu te conto no caminho!  Ninguém pensa no pobre banco. Que ganha rabiscos, mais que carinhos!  
No entanto, o que mais deve incomodar aos velhos assentos, são os casais briguentos que nele se encontram e se sentam. Ah, se pudessem dizer que isso tudo é uma grande bobagem... Que os dois, mais tarde, voltarão ao banco e quem sabe, se sentarão sozinhos e cansados, procurando o amor do passado. Era melhor que tivessem ocupados com beijos e abraços, sexo e embaraço! Mas não. No seu silêncio sepulcral, os bancos não dão conselhos. Nem sabem o final.
Mas tenho certeza que eles ouvem. E se pudessem falar, sairiam correndo atrás de quem seguiu andando e pediriam suplicando: Conta pra mim?
Pelo menos uma vez... o fim?
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