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quarta-feira, 26 de setembro de 2018

DOCE DOCE DE BATATA DOCE...


Eu não gostava tanto de doces. Gostava era daquelas formas. O coração abóbora. Amarelo ou roxo. De batata doce. Bonito de ver na vitrina da padaria. Ao lado dos pedaços de geleia. Metade vermelha, metade amarela. E os suspiros duros. Brancos e rosas, quase sem sabor. Puro açúcar, anilina e cor. 

Havia ainda arrozinho no saquinho. Balas coloridas de homenzinhos. Chupeta de mel com limão. Tudo muito atraente. Cores. Formas. Ruídos na hora de abrir... O sabor, pouco importava.  Muito menos as calorias, a quantidade de gordura trans e os riscos reais. Nos anos oitenta não havia biscoitos de arroz, nem barrinhas de cereais.

Eram lindos doces vagabundos! Cheios de magia e formatos. Baratos de fato. Vendidos nas vendas e bares de bairro. Eu procurava o doce perfeito. A forma e o gosto divino que me fizessem flutuar feito o cachorro do desenho saboreando um biscoito canino! 

A barrinha de chocolate com amendoim dentro de um pote de plástico, perto do caixa me levava à loucura... Não tinha papel de embalagem. Eu pedia duas barrinhas. Pra viagem! A pé, é claro, devorando pelo caminho. Bem devagarzinho. Busco até hoje aquele sabor. Mistura de manteiga, cacau e amor.

Em passeio recente, entrei numa venda daquelas de antigamente, à procura de um doce barato. Sem culpa. Sem conselho médico. Pura contravenção! Nada que uma rosuvastatina não resolvesse depois...  

Pura decepção. Tinha macadâmia, mousse de limão e palla italiana. Sofisticado demais pro meu desejo chinfrim. Perguntei sobre os corações de batata doce, as Marias-moles coloridas, o guarda chuva de chocolate no palito de plástico e por fim, das geléias... O vendedor não fazia idéia. 

E antes que ele procurasse no google, parti pra outra mercearia. Seguindo em frente com a saudade de quem sente falta de um tempo, mais do que um doce barato. 
E pra terminar vou confessar... Já comi um ovo colorido, desses que ficam ao lado da salsicha com molho na vitrina. Em um bar qualquer de esquina!  


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quarta-feira, 19 de setembro de 2018

A CASA DA MINHA INFÂNCIA...



A casa da minha infância continua intacta. Dentro de mim. Visito de vez em quando os seus aposentos... 
O meu antigo quarto, por exemplo. Tem a cama pequena e os bichinhos espalhados. Chego a sentir o hálito quente da minha mãe se aproximando. Ajeitando o cobertor. Dobrando lentamente, até aconchegar o pescoço. Dando um beijo suave em meu rosto. 

Tem também o quarto principal. Do casal. Nele meu pai ainda vive. Está lá. Há anos. É mais jovem. Ainda com cabelos. Topete loiro. Dorme sempre depois do almoço. Às vezes, abro a porta e não faço barulho. Ouço o seu ronco profundo. Saio sorrindo, com a sensação de um amor seguro. 

A sala da casa é enorme. Mas também cabe dentro de mim. Lá tenho os brinquedos ainda espalhados e a cachorra sempre ao lado. Volto nela quando a vida fica séria e eu preciso brincar... 

Na cozinha, minha mãe. Jovem e alegre. Está sempre cantando. Ouço sua voz e o barulho das louças sendo lavadas. Sinto o cheiro da eterna macarronada. Aquela de todo domingo. Com gosto de família. Risos do irmão mais novo e sua garotada. Comidas simples. Bifes, sucos, queijo com goiabada. 

E por último, tem o quarto do meu irmão mais velho. Só de vez em quando eu vou lá. É um quarto meio escondido. Levei a chave para ele não escapar. Como fez um dia aqui fora e nos deixou para sempre... Agora ele vive lá dentro. São e salvo no seu leito. Canto esquerdo do meu peito. 

Um dia, talvez a lembrança da casa vá saindo. Outras portas irão se abrindo. Novos aposentos que irei abrigar... 
Mas se um dia, já bem velhinha, a saudade vier apertar, volto pra casa da infância. Lá tenho toda a família reunida. 
E a minha caminha pequena, para enfim, por fim, me deitar...   


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quarta-feira, 12 de setembro de 2018

A CARONA...


Não deu tempo. Foi no meio do caminho. No meio da esquina. Na tarde que cedo anoitecia.
Aquele pingo escorreu quente e grosso, do alto da minha cabeça até o pescoço. E me pegou em cheio. Depois mais um. Mais um. Depois outro. Agora, em volume torrencial. Tempestade tropical. Com seus pingos gigantes e certeiros. São Pedro em fúria, com devaneios.

Tudo que me coube de abrigo foi uma espécie de toldo, numa lojinha fechada há pouco mais de um mês. Na rua, apenas alguns carros. Poucas pessoas passavam. Umas duas. Ou três... Até que a Valdirene passou! Negra. Grande. Cabelo afro. E um guarda chuva estampado gigante. Deus sabe como eu o cobicei... 

Valdirene parece que percebeu. Deu um arrepio, três passos pra trás e ofereceu:  – Quer uma carona? Gruda aqui. Depois completou: - Aproveita! O que cai do céu é porque Deus mandou! 

Seguimos sorrindo, braços dados, caminhando e tagarelando sobre a vida. Valdirene fazia faxinas. E de noite era cuidadora. Trocamos, em comum, nossas histórias. De idosos, Alzheimer e perdas de memória. Depois falamos sobre o doce e o amargo da vida. A falta de fé da atual e cada vez mais cruel sociedade. Da biodiversidade. Dos cortes nas faculdades. E terminamos com  dicas de bolo de chocolate! 

Valdirene tinha riso largo, bom humor e lembrava músicas que falavam da chuva. Foram seis alegres quarteirões. E umas três ou quatro canções. Demétrius, Benjor, Biquini Cavadão... 
Ela fez questão de me levar até a porta do prédio. – Obrigada, Valdirene! Quer subir para um cafezinho? - Não posso não. Amanhã acordo às sete. Bem cedinho! - Fica com Deus, então... 

Mais que uma carona. Foi um abraço, de dois corações.



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quarta-feira, 5 de setembro de 2018

OS FILHOTES DA CORRUÍRA


Eram três pontinhos pretos. No chão de porcelana da sala. Demorei alguns segundos para perceber que eram filhotes. Minúsculos filhotes de corruíra. Ou curruíra, tanto faz...  Desajeitados. Miúdos. Completamente reféns. Os móveis pesados por todos os lados davam a exata dimensão daquela fragilidade viva. O que faziam na minha sala? Podiam ter morrido tragicamente num triste acaso. Pisoteados.

Catei os bichinhos, um a um na palma da mão. Sentindo o pulsar pequeno e de gigante emoção. Sempre tem um que é mais esperto. Dá um baile. Tenta fugir...- Vem aqui, vem danado. Enfim, consegui! Caíram do ninho. Redondinho. Construído no meio do meu bambu mossô. Ninho na varanda. No terceiro andar. Prédio de apartamento. Caíram mesmo? Ou saíram para um passeio? Tinham que voltar. Tanta ousadia, a mãe corruíra não iria gostar...

Tive vontade, um dia, de criar pássaros em casa... Ganhei dois canários. Depois mais dois. Comprava ninho. Comida. Pedra de cálcio. Barrinha de gergelim. Tudo que pudesse ajudar. Depois juntava o casal e teimava em cercar. Queria ver de perto o fantástico e mágico procriar. Mas nem por milagre! Nunca. Nenhum ovo conseguiu vingar... 

Há anos não tenho pássaros presos na gaiola. Cresci o suficiente para não prender mais nada. Nem ninguém. Deus decide o que é pra nascer. E essa agora! Três bebês corruíras entrando e saindo da minha sala. Lindos e atrevidos. Destemidos. Vieram sem perguntar. Vivem no meu lar.

Aproveito cada momento. Em breve não irão mais voltar, Não importa. Aprendi o jeito maior de amar. Ter por perto. Deixando livre... para voar!


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