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segunda-feira, 30 de março de 2020

AMOR COM FRITAS...


Minha mãe fez arroz, feijão... e batata frita! Desse jeito, cheio de alegria, o menino me informou o cardápio do dia. Agarrando fortemente minhas pernas e provocando risos nas pessoas que estavam na fila. Depois completou...ela me deu umas conchas também!

A mãe, desconcertada rapidamente veio ao nosso encontro... ele gosta de contar pra todo mundo! As conchas são conchinhas que pegamos ontem na praia. Vamos Nicolas, larga da saia! E colocou o garoto no colo, ganhando um forte abraço no pescoço e um beijo estalado no rosto.

Aquele gesto e os olhos brilhantes do menino aqueceram a tarde concreta e fria. No meio da longa e demorada fila. Mistura de amor com fritas! O prato do dia. 

O banco era um verdadeiro caos. Idosos reclamavam raivosos, embora sentados. Gente de pé. Atendentes mal humorados. E portas giratórias impedindo todos de entrar, a menos que tirassem chaves, guarda chuvas e celular. Tiravam também a paciência e os nervos do lugar.

O Nícolas não estava nem aí. Ele queria era contar para todos ali, o sabor do amor que sentia. Que se misturava com arroz, feijão e as batata fritas. Prato feito. Perfeito. De mãe! Carinho expresso e explícito. De quem atendeu seu pedido. Como as conchinhas catadas uma a uma na praia. Que valiam bem mais que dinheiro, notebook ou celular. Sua mãe lhe deu seu tempo. Seu peito. E até as conchinhas do mar...

Seus olhos vibravam intensos. Um sentimento imenso que ele tinha que contar. E quando eu já ia embora, ele saiu correndo, me agarrando outra vez, só pra dizer...

Ah, equeci! Ela também fez um ovo...  E seus olhinhos estalaram de alegria. De novo!



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quarta-feira, 25 de março de 2020

SERÁ QUE ELE VEM?


Não veio o amigo que viria no domingo. Nem o sol quente como no último verão. Não veio a chuva na secura do nordeste e ficou ainda mais agreste aquele chão. Não veio o dinheiro emprestado. O aumento esperado. Não veio nem o cunhado pra final do campeonato... 

Parece, às vezes, que a vida bate uma estaca. Tudo para. Não vem nada. Nem uma ameaça. Nem uma pedra falsa. É aí que o segredo desliza por entre as frestas... Os ciclos da vida! Às vezes, festa. Às vezes, nada resta. A coisa estanca, desbanca e atola. 

Nessa hora, prepara outro caminho... Convida um novo vizinho. Abre um outro vinho. Esquece o e-mail. Entrega em mãos, um pergaminho. Ousa. Caminha. Espera. Mas, sem muito esperar... Talvez a sorte seja o presente do persistente. Experimente! Setecentas e oito vezes. Ou dezoito meses. Tente sorrir. É um bom jeito de reagir. 

Não veio a encomenda do Sedex? O que veio foi engano? Mude os planos! Não veio o casamento sonhado. O filho planejado. A promoção do ano? Pro José, veio muito menos. O Bonde não veio. Não veio a utopia. E tudo acabou. E tudo fugiu. E tudo mofou... 

Comigo Drummond se enganou... A esperança, pulsante e mansa, veio dentro de mim escondida. É semente pequena e viva. Verde como a grama que me acalma e me anima. Fiz a casa. Pus comida. O pássaro ainda não veio. Não ouso buscar. Sei que iria voar. 

Preparo apenas o jardim e o coração. Está tudo pronto. Até mesmo o sonho de vê-lo pousar. Na hora certa... Ele virá!     



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quarta-feira, 4 de março de 2020

A MÚSICA DO CHAPÉU...


Passei a infância ouvindo o refrão... “ O meu chapéu tem três bicos. Três bicos tem meu chapéu. Se não tiver os três bicos. Não pode ser meu chapéu.” A melodia grudava feito o chapéu atarracado no meu cocuruto. Meu pai cantava. Minha mãe completava. A tia cantarolava. Eu acabava sorrindo. Só assim, o coro parava. 

Anos mais tarde vim saber o que era o tal do chapéu de três bicos ou três abas. O famoso tricórnio, que se tornou popular nos anos vinte. Todos usavam. Civis e militares. Virou moda. Ganhando até a canção! 

São engraçadas as histórias e costumes familiares que passam de geração em geração. Eu lembro de ter que pedir a benção pra minha tia. Bom dia, “bença tia” e um beijinho em sua mão. Passei anos fazendo o cumprimento até que minha mãe se modernizou... Deixa a menina à vontade! Isso cheira à antiguidade. Já passou! Ainda hoje, lembro da minha tia e a benção tímida que eu pedia... 

As gavetas hereditárias se abrem de vez em quando e a gente se pega fazendo e dizendo coisas ancestrais. Ainda sirvo a mesma sopinha de legumes que a avó Emília fazia. Mordo os lábios de nervoso como meu pai e meu irmão. Gosto de rádio como meu avô. Lembro da minha mãe quando vejo um belo tricô!  

Há um pouco deles todos em mim. O queixo da mãe. A ansiedade do pai. O jeito de rir da prima Eloá. Além das pessoas queridas que conhecemos e vão nos acrescentando gestos e comportamentos na velha alma de retalhos costurados com amor e cuidados.

Quando me deixaram o pequeno sobrinho no colo entre resmungos e começando a chorar... Tirei o seu chapeuzinho e com a peça na mão comecei a cantar... “ O meu chapéu tem três bicos. Três bicos tem meu chapéu... Se não tiver os três bicos...
E no exato instante do canto, o menino ergueu os olhos segurando seu pranto e começou a sorrir...  
Era o velho arquivo, funcionando... Só agora, eu entendi!



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