Maria tinha uma pinta. Uma pinta considerável. Grande. Bem ao lado
do nariz. Impossível de não ser notada. Tinha até nome: Nina! Foi
assim que quando criança, seu pai, brincalhão, lhe apelidou a fim de criar uma
relação afetuosa da filha com a marca de nascença.
Não adiantou. Maria não gostava da pinta e do fato de que a pinta
a ofuscava. A Nina, ou melhor, a pinta, era maior do que ela. Maior que seu
rosto. Maior que tudo. Era a Maria da Pinta! Qual Maria? Aquela da
pinta.
E Maria foi crescendo junto com a pinta. Trabalhou, casou, e
então, desenvolveu verdadeiro ódio à pinta. Afinal, era ela a razão de
todos os seus problemas. Perdeu o emprego. Foi a pinta! Seu filho caiu nas
drogas. Tinha vergonha da pinta da mãe! Sua filha fugiu de casa. Queria se
ver longe da pinta! Seu marido, depois de anos de convivência e maus tratos,
amantes e falta de dinheiro, enfim a deixou... foi a pinta que ele não mais aguentou ver diante de seus olhos!
Foi assim por muitos anos. Maria e sua pinta na cara. A pinta
que a escondia. Que a justificava. Às vezes, passava um pó para amenizar, mas
continuava lá, escondida, a sua Nina.
Depois de muitos e muitos anos de sofrimento e uma melhor condição
financeira, Maria, num impulso, resolveu tirar a pinta. Cirurgia marcada. Pinta
retirada. Simples assim! A filha voltou. O filho ficou bom. O marido se
arrependeu. Não!
Nada disso aconteceu. E o pior, a cara da Maria apareceu. Nariz adunco. Olhos tristes e marcados. Boca amarga e um bigode chinês. Pobre e vulnerável Maria. Sem a antiga pinta da Maria.
Nada disso aconteceu. E o pior, a cara da Maria apareceu. Nariz adunco. Olhos tristes e marcados. Boca amarga e um bigode chinês. Pobre e vulnerável Maria. Sem a antiga pinta da Maria.
Agora, todos os dias, antes de sair de casa, Maria pinta uma pinta
de mentira. No mesmo lugar...
E voltou, graças aos céus, a se queixar!
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MÚSICA E BATE PAPO...