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quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

SÓ UMA FUGIDINHA...

Coisa rápida. Uma fugidinha do corpo apenas. Uma breve flutuada por aí. Preso pelo fiozinho, para saber voltar. Sem tranco. Bem de mansinho... Afinal, são tantas coisas boas ainda pra se fazer com este corpo falível, mas muito sensível. Desfrutando todo prazer possível. Beber, comer, cheirar uma flor. Olhar o horizonte. Tocar o chão. Fazer amor... 

Além disso, ainda é um corpo bacana. Semi usado. Muitas vezes, cansado. Necessitando remédios e alguns reparos. Exames de rotina. Fruto do excesso de gordura e adrenalina. Mas conservado. E olha que já curtimos um bocado... O que encanta no entanto, é a ideia da libertação. Leveza! Sem usar os pés, nem as mãos. Voo da alma. No vão de outra dimensão.  

Eu iria com certeza para perto do mar. Olhar lá do alto o oceano. As ondas gigantes e seus vagalhões... Ou passaria rente, somente, seguindo os cardumes e as correntes. Indo e voltando. Com os golfinhos acompanhando... Iria também até as matas fechadas, cachoeiras e florestas, passando pelas frestas. Pousando leve como um nada, nos galhos finos onde descansa a passarada. 

E voaria por fim nos confins das cordilheiras. Sentindo a vertigem passageira. Rasante livre. Mas sem o frio da neve. Tudo muito breve. Num só instante. Ou, seria ir muito distante? Melhor ficar mais perto, vai que desperto... 

E se tivesse mais um tempinho, uns cinco minutinhos... Ia cortando as nuvens do céu, me esgueirando até o fim do arco-íris, até vislumbrar, eternizadas, as pessoas que amei e que lá vivem, felizes... 
Depois voltaria com o fiozinho! Voando rapidinho. Quase um passarinho... 



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quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

NUM INTINDI...


Tinha palavra que não dava pra entender... Sílaba perdida. Letra comida. Verbo direto, envergando. Concordância “disconcordando”... Mas, soava tão singelo e gostoso que desacelerava o coração. Era um pouco enfadonho. Mas, terapêutico e relaxante. Aliviando a pressão do cotidiano estressante.

Visitar aquela gente do campo, na cidadezinha “titiquinha” do interior, foi adentrar num universo particular. A calmaria, abençoada, vinha nos acompanhar. Principalmente, no jeito de falar...   

Deu três dias naquele ambiente e a gente já arrastava a língua, no ritmo do gado ruminando o mato, pra lá e pra cá. Não havia muita coisa a fazer no lugar. As caminhadas lentas, com cajado, relaxavam o andar... Depois de uma semana de grama e leite quente, deu vontade na gente de pegar o carro e se aventurar. Na estrada do nada. Só poeira avermelhada. Mato dos dois lados. E uma indicação peculiar: depois dos “mata burro”, sempre “as dereita” tem de virar. Vai dar em Guararema! 

- Ceis vai passar no Lumbique do Déci? Traz pra mim, uma de Cambuci? Quase que entendi... Alambique virou Lumbique. O Décio, pensei que fosse o décimo! E Cambuci era fruta, e não bairro de São Paulo. Mas havia mesmo a birosquinha do Décio. A primeira da estradinha e tinha aguardente docinha pra gente entorpecer. 

Chegamos alegres na cidade e o povo foi avisando...
- Vai na festa do Pinhão? – festa de que? Pinhão? Que coisa boa, criatura. Deve ter fartura. Bolo de pinhão. Sorvete de pinhão. Suco de pinhão. Pipoca com pinhão...        
- Vamos sim, onde é? Dez quilômetros daqui, na estrada de asfalto. Saímos animados pra grande festa do Pinhão, com as diferentes iguarias na imaginação. 

Ainda na estrada, se viam as luzes e gente chegando aos bocados. Cavalos e pickups. Juntos e estacionados. Gente rica, gente pobre. Dono de fazenda e luz dos holofotes. Na frente de toda a festança, a prova da nossa lambança... 

Nada de pinhão. Só uma faixa enorme:  Bem-vindo à Festa do Peão! Peão boiadeiro! O que faz uma pronúncia...


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quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

NO BOLSO DO BLUSÃO...



Anos sessenta. Que inveja! Calça Lee, Rita Lee, calça rabiscada. Tênis sujo. Beijo atrás do muro. Cuba Libre. Sputinik. Drops de anis... E tinha Tim Maia, Roberto e Elis. Dava pra ser feliz! 

Mas eu não podia entrar no cinema. Café com leite, nas brincadeiras. Quanta raiva criança pequena sente. Querendo ser, depressa, adolescente. Eu não entrava nos bailinhos. Ouvia Beatles, no radinho. Enquanto corria a barca com os novos baianos. As duas alegrias, de Caetano. Jackson no pandeiro. Benito de Paula no piano. 

Anos sessenta ao som das guitarras gritando. Dylan. Joplin. Jimi Hendrix tocando com os dentes! E aquela cena dos Beatles ao som de "love love, love", que ainda me comove... 

Eu não queria vestidos de renda. Nem meias de seda. Queria o cinto calhambeque. O anel do Roberto. O chapéu do Erasmão... Queria algo grande. Tecido de sonhos e emoção. O velho blusão! Jeans usado. Que o irmão mais velho me deu. Desbotado. Surrado. Muito maior do que eu.

E eu saia carregando pelas ruas... Em cada bolso, um sonho de amor e uma loucura. No da esquerda, os melhores nomes do rock and roll. The Doors, Pink Floyd, Rolling Stones. No outro, Brigitte Bardot e Alain Delon. Nas mangas, Mutantes, Jovem Guarda, Simonal E na lapela, a Tropicália. De João, Caetano e Gil. 

Eu levava, leve, sobre os meus ombros, o sonho de um mundo novo. E um Brasil mais amável e bem mais gentil... 




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