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segunda-feira, 17 de outubro de 2022

QUANDO DEIXARAM O PORTÃO ABERTO...


Primeiro saiu a matilha inteira. Seis cachorros assanhados correndo atrás de dois gatos livres e velhacos que subiram rapidamente no telhado.

Depois o garoto foi chutando a bola, maroto e foi buscar de fininho lá fora. Viu dois vizinhos e logo formou um timinho. A irmã pequena veio seguindo a borboleta e nem viu que cruzou o portão sem esticar a mão para abrir a maçaneta. Parou admirada e solta já na calçada.

Veio a mãe desesperada atrás da garotada. Saiu pelo portão e encontrou todos na vizinhança. Desabafou aliviada com a vizinha, ganhando café, conforto e uma doce prosinha.

Sem ninguém no portão, o carteiro foi entrando e encontrou o jardineiro dentro da casa. Elogiou as rosas e disse que lá fora tinha dado amoras. O jardineiro que só cuidava do canteiro saiu pra conferir. Começou a sorrir. Comeram as frutas e ele fez muitas mudas para distribuir.

Até Tia Zulmira veio vindo com a sua bengala procurando por alguém na casa. Foi andado, andando... olhando as rosas, o pomar, o manjericão na horta que ela plantou cinco anos atrás e chegou até o portão aberto pra rua. Nunca caminhou tanto sem ajuda. Voltou alegre, dançando só com uma das pernas, uma rumba...

Pelo portão aberto saíram todos... alguns sonhos, desejos escondidos e anseios risonhos.

Deu cinco da tarde, entraram todos. Até os cachorros. O marido entediado chegou do trabalho sem perceber o que aconteceu.  Fechou sisudo e com cadeado o enorme portão. Quando todos, agora...  já tinham uma cópia da chave na mão!

                  

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segunda-feira, 10 de outubro de 2022

AUTO PERDÃO...


 

Ela expressava seus sentimentos de forma madura. Estou sentindo pena do bichinho. Que aflição isso me deu. Esse filme me entristeceu... Mariana deixava tudo às claras. Um coração que distinguia sutis sentimentos e traduzia em palavras, surpreendendo a cada momento.

Aos três anos, na gangorra, o irmão mais velho insistia em deixá-la suspensa por um longo tempo no ar. Você me faz sentir medo... Por que quer me ver assim? Suas palavras desconsertavam feito um sopro suave e sincero de querubim.

Mariana aprendeu a hierarquia das coisas nas respostas que ouvia da família. Se quebrasse sem querer alguma coisa, alguém dizia... Não tem problema, isso acontece!

Aos seis anos, depois de muito insistir, a vó Olga deixou Mariana brincar com sua coleção de galos! Trazidos de vários países, Portugal, Espanha, Itália, França. Era o xodó da vovó que pediu muito cuidado e colocou mais de vinte galos espalhados pelo tapete da casa. Chame quando enjoar.

Assim que terminou de brincar, Mariana decidiu por ela mesma, recolocar os galos de porcelana na estante alta que ficava sobre a mesa. Na pontinha dos pés e toda empinada, já havia recolocado um bocado, quando cinco deles caíram no chão e espatifaram. A vó Olga entrou correndo, já prevendo o estrago e a provável conclusão.

Com um sorriso cativante, Marianinha se auto perdoou...

- Não tem problema, vovó... Isso acontece! 


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quarta-feira, 5 de outubro de 2022

O SAPATO DA MARIA...

A criançada se juntava debaixo da velha escadaria do casarão da avó Emília. Não havia lugar melhor para ouvir histórias de medo contadas em segredo. O sapato da Maria era a nossa preferida. A luz na saleta, bem fraquinha. Acesa, só a lâmpada da cozinha que dava um sombreado soturno ao ambiente semi-escuro.

Tia Zilda contava da pobre e triste Maria, empregada por uma mulher rica, de miserável coração. Era quase escrava em sua mansão. Ganhava insultos e muito pouco tostão.

Maria não desistia. Tirava dali o sustento dos seus velhos e doentes pais. A história triste demais se desenhava em nossas mentes. A imagem da megera impertinente, de verrugas peludas, cheirando a mofo e resmungando para as paredes.

Certo dia, a cruel senhora foi enxotar rua afora um cãozinho faminto que lhe pediu comida e carinho. Ao sair correndo atrás do coitadinho atravessou a rua sem atenção, sendo colhida por um caminhão. Era horror e tragédia. E a criançada vibrava com a ideia.

No enterro da mulher, a família agradeceu à Maria tamanha dedicação. É justo que leve um presente da mansão! Maria lembrou da festa da família e que só tinha um chinelo de dedos remendado nas tiras. Pegou de presente um fino sapato de salto alto e levou para casa, colocando-o debaixo da escada.

Passados três dias, Maria dormia, quando ouviu o som de passos se aproximando. Encolhida nos lençóis, tremeu os dentes já imaginando em prantos quem era. O fantasma da patroa queria de volta o que era dela. 

Tia Zilda mudava o tom da sua voz e tremulava feito fantasma, dizendo a frase que a gente esperava... Maria, me dá meu sapato! Maria, me dá meu sapato! Maaariaaaa...  

Um par de sapatos caia bem no meio da roda, jogado do alto da escada. Tudo orquestrado. Era criança pulando pra tudo que é lado.

Todos previam o momento. O auge  era soltar o grito que vinha de dentro. A história se repetia. A gente sabia de cor, mas pedia...e pedia... conta de novo, tia, do sapato da Maria!

 

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