Primeiro saiu a matilha inteira. Seis cachorros assanhados correndo atrás de dois gatos livres e velhacos que subiram rapidamente no telhado.
Depois o garoto foi chutando a bola, maroto e foi
buscar de fininho lá fora. Viu dois vizinhos e logo formou um timinho. A irmã
pequena veio seguindo a borboleta e nem viu que cruzou o portão sem esticar a
mão para abrir a maçaneta. Parou admirada e solta já na calçada.
Veio a mãe desesperada atrás da garotada. Saiu pelo
portão e encontrou todos na vizinhança. Desabafou aliviada com a vizinha, ganhando café, conforto e uma doce prosinha.
Sem ninguém no portão, o carteiro foi entrando e
encontrou o jardineiro dentro da casa. Elogiou as rosas e disse que lá fora
tinha dado amoras. O jardineiro que só cuidava do canteiro saiu pra conferir.
Começou a sorrir. Comeram as frutas e ele fez muitas mudas para distribuir.
Até Tia Zulmira veio vindo com a sua bengala
procurando por alguém na casa. Foi andado, andando... olhando as rosas,
o pomar, o manjericão na horta que ela plantou cinco anos atrás e chegou até o
portão aberto pra rua. Nunca caminhou tanto sem ajuda. Voltou alegre, dançando só
com uma das pernas, uma rumba...
Pelo portão aberto saíram todos... alguns sonhos,
desejos escondidos e anseios risonhos.
Deu cinco da tarde, entraram todos. Até os
cachorros. O marido entediado chegou do trabalho sem perceber o que
aconteceu. Fechou sisudo e com cadeado o enorme portão. Quando todos, agora... já tinham
uma cópia da chave na mão!