Meu prazer era caminhar nas tardes de outono pelo caminho forrado de folhas secas, caídas das copas das árvores. Foi o tempo ou foi o vento? Eu perguntava e eu mesma respondia, os dois! O outono é assim. Tempo de ventos e renovação. Algo sempre morre. O novo toma lugar.
O caminho de terra sombreado pelos galhos acumulava várias camadas de folhas marrom-escuro, produzindo um crepitar seco e quebradiço ao pisar. Muitas vezes eu ia com os pés descalços para tatear. Apreciava o som de cada passo. E o piar de alguns pássaros completando a trilha natural.
As aves entocadas também trocavam suas plumagens. De quem é essa
pena? Sabiá laranjeira, eu dizia sem convicção. Pode ser que sim, ou que não. O
outono é assim...
Nos dias chuvosos a estrada ficava úmida. Também tinha sua beleza. Era o pisar do macerar. Macieza umectante. Alguns pássaros, ainda que distantes nos acompanhavam na esperança de algum bichinho na terra, saltitante. Minhocas. Insetos. Sempre havia um descuidado, coitado.
Eu ia com
minha mãe procurar pinhas para enfeitar o Natal. Mas já? É que as pinhas tem
de descansar. Secar bem, para abrir os gomos por inteiro, feito flores de madeira,
prontas para enfeitar a ceia. E elas estavam lá, espalhadas pela estrada. Algumas
pequenas e quebradas. Outras perfeitas. Colocávamos as melhores no chapéu de
palha. E o sol tímido não esquentava nossas cabeças. O outono é assim...
Levávamos, eu e ela, um cajado. Galho duro que eu
procurava feito detetive no meio do mato. Logo achava um pequeno e ajudava
minha mãe a encontrar um cajado maior para nos acompanhar. O andar era calmo e
cheio de perguntas sem respostas. A cerquinha caiu! Foi o tempo ou foi o vento? Os
dois. O outono é assim...
Hoje, os passeios e o chão de folhas secas ficaram
na lembrança dos outonos da minha infância. Em algum sítio da memória. Tenho
pisado em terrenos urbanos. Ouvindo sons de carros e lamentos humanos. As caminhadas
na areia resistem, mas as pisadas somem rapidamente com as ondas do mar.
As folhas, o cajado e minha mãe ao lado, continuam
eternos. A saudade bateu hoje em mim. Foi o tempo ou foi o vento? O outono é
assim...
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