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quinta-feira, 10 de junho de 2021

O REMENDO XADREZ


Eu não gostava dos rojões. Dos estalos. Da explosão! Gostava do cheiro da festa junina. Cheiro de pólvora. Fumaça. O ardido nas narinas... Até hoje, isso me lembra um tempo feliz. Festa simples. Gente simples. Do interior caipirês do nosso país.  

E todo ano era igual. Já em maio, as professorinhas, dedicadas, começavam a combinar. Não havia muito o que mudar. Compravam as sedas. Faziam as bandeirinhas. Colavam no barbante. Vermelhas. Amarelas. Azuizinhas. Os meninos subiam nas escadas para enfeitar. O pátio do colégio ficava alegre. Com bandeiras, balões e fogueira. Sem fogo. Só toras de madeira. Tudo no centro da quadra de esportes, dando ar de São João. Era lá a quadrilha. Iam todas as famílias... 

Os ensaios começavam um mês e meio antes. Cansativos, mas divertidos. Dava pra matar umas boas aulinhas. Com o consentimento raro das professorinhas, que também dançavam festivas. Sofrido mesmo era ouvir durante horas e horas a mesma trilha sonora. Talvez a única música junina do mundo inteiro, tiro certeiro: Pararararararará... E lá ia a gente montar a quadrilha. Olha a chuva. Olha o túnel. Olha a cobra... 

E se de um lado a festa dava trabalho, de outro era mágico e engraçado. Ter um dente pintado, estragado, bem na frente da boca era o sorriso desejado. Calças de jacu nos garotos. Nas meninas, vestidos de chita com fitas e cores esquisitas. Vixe, como era "bão"! Remendos na roupa, então...  

Lembro uma vez, eu já tinha uns dez anos... Fui escolhida, pela terceira vez, para ser a noivinha. Talvez pelo fato de ser pequenina. Cabelos grandes. Sei lá... O fato é que eu e o meu parceiro Paulo José Barreiro (não sei porque as crianças lembram o nome inteiro dos amigos que há mais de quarenta anos conheceram...) fomos escolhidos, mais uma vez, para sermos o casal. 

Brava,  já em casa, expliquei para minha mãe quase chorando : - Mais uma vez, eu de noivinha! – Mas a noiva é a principal. Você não gosta dessa honradez?  - Mãe, será que você não entende... Eu gosto de remendo. Remendo xadrez!  Noiva não usa remendo xadrez...

E aquele cheiro de pólvora, voltou, subitamente, às minhas narinas...



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6 comentários:

  1. Criança é bem engraçada né..
    O q importava era o remendo xadrez..
    Tão gostoso de se imaginar a Inês, pequenininha, loirinha, de noivinha.. q lindas lembranças.

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  2. Voltei também naquele tempo, embora nunca tenha dançado sequer uma quadrilha, mas era 'bão'!

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  3. Uaaaau, muitas lembranças! ������������❤️❤️❤️

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  4. Que lindas lembrañças!!Tbem voltei nos meus tempos de festas juninas.Adoro.Época em que fui aluna e depois a professora;ensaiando a quadrilha,fazendo as decoraçoes e participando da festa.
    Eu Vera Lucia V.Carvalho gostaria de ganhar esse livro ;pois adorei suas crônicas e o DVD p os meus netos Thais e Iago

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    1. Oi Vera! Obrigada pela leitura e pelo carinho! Estão inscritos, sim! boa sorte...bjsss

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  5. Se pensar bem, sabe sim o porquê de lembrar o nome completo de amigos apósem mais de quarenta anos.
    Foram momentos únicos e maravilhosos que marcaram nossas vidas e ficaram registrados em nossa memória, num cantinho chamado Saudade!

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