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terça-feira, 3 de junho de 2025

O REMENDO XADREZ


Eu não gostava dos rojões. Dos estalos. Da explosão! Gostava do cheiro da festa junina. Cheiro de pólvora. Fumaça. O ardido nas narinas... Até hoje, isso me lembra um tempo feliz. Festa simples. Gente simples. Do interior caipirês do nosso país.  

Todo ano era igual. Já em maio, as professorinhas dedicadas começavam a combinar. Não havia muito o que mudar. Compravam as sedas. Faziam as bandeirinhas. Colavam no barbante. Vermelhas. Amarelas. Azuizinhas. Os meninos subiam nas escadas para enfeitar. O pátio do colégio ficava alegre. Com bandeiras, balões e fogueira. Sem fogo. Só toras de madeira. Tudo no centro da quadra, dando ar de São João. Era lá a quadrilha. Iam todas as famílias... 

Os ensaios começavam um mês e meio antes. Cansativos, mas divertidos. Dava pra matar umas boas aulinhas, com o consentimento raro das professorinhas, que também dançavam festivas. Sofrido mesmo era ouvir durante horas e horas a mesma trilha sonora. Talvez a única música junina do mundo inteiro, tiro certeiro: Pararararararará... E lá ia a gente montar a quadrilha. Olha a chuva. Olha o túnel. Olha a cobra... 

E se de um lado a festa dava trabalho, de outro era mágico e engraçado. Ter um dente pintado, estragado, bem na frente da boca era o sorriso mais desejado. Calças de jacu nos garotos. Nas meninas, vestidos de chita com fitas. E como era "bão"! Remendos na roupa, então...  

Lembro quando eu tinha uns dez anos... Fui escolhida, pela terceira vez, para ser a noivinha na quadrilha. Talvez pelo fato de ser pequenininha. Cabelos grandes. Sei lá. O fato é que eu e o meu parceiro Paulo José Barreiro (não sei porque as crianças lembram o nome inteiro dos amigos mais antigos...) fomos escolhidos, mais uma vez, para sermos o casal.  

Brava,  já em casa, expliquei para minha mãe quase chorando : - Mais uma vez, vou ser a noivinha! – Mas a noiva é a principal. Você não gosta? é uma honradez?  - Mãe, será que você não entende. Eu gosto de remendo. Remendo xadrez! Noiva não usa remendo xadrez... 

E aquele cheiro de pólvora, voltou subitamente, às minhas narinas mais uma vez...



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Agora assista o vídeo desta "Crônica falada"...


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6 comentários:

  1. Criança é bem engraçada né..
    O q importava era o remendo xadrez..
    Tão gostoso de se imaginar a Inês, pequenininha, loirinha, de noivinha.. q lindas lembranças.

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  2. Voltei também naquele tempo, embora nunca tenha dançado sequer uma quadrilha, mas era 'bão'!

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  3. Uaaaau, muitas lembranças! ������������❤️❤️❤️

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  4. Que lindas lembrañças!!Tbem voltei nos meus tempos de festas juninas.Adoro.Época em que fui aluna e depois a professora;ensaiando a quadrilha,fazendo as decoraçoes e participando da festa.
    Eu Vera Lucia V.Carvalho gostaria de ganhar esse livro ;pois adorei suas crônicas e o DVD p os meus netos Thais e Iago

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    Respostas
    1. Oi Vera! Obrigada pela leitura e pelo carinho! Estão inscritos, sim! boa sorte...bjsss

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  5. Se pensar bem, sabe sim o porquê de lembrar o nome completo de amigos apósem mais de quarenta anos.
    Foram momentos únicos e maravilhosos que marcaram nossas vidas e ficaram registrados em nossa memória, num cantinho chamado Saudade!

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