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terça-feira, 28 de dezembro de 2021

AS RABANADAS DA VOVÓ...

Certos itens nas receitas vão se perdendo no tempo, aqui e acolá. Outros ingredientes são danados, se infiltram em certo momento e perpetuam-se no lugar...

Eu continuo fazendo as mesmas rabanadas portuguesas que minha mãe fazia nas tardes quentes que antecediam o Natal e Ano novo. Separo as fatias grossas de pão velho, o leite açucarado num prato raso e os ovos batidos na velha tigela. Depois frito todas em óleo quente, salpicando levemente açúcar e canela. Faço assim há décadas. De olhos vendados. Reproduzindo a velha cena, receita afetiva do meu passado materno.

Foi uma surpresa provar na casa de uma autêntica senhora portuguesa uma rabanada diferente, oferecida gentilmente para todos à mesa. Mais dura e com o pão escurinho por conta de um creme com vinho. Eu nunca usei vinho! Minha mãe nunca usou. Será que a vovó subverteu a receita e não nos contou?

A origem das rabanadas aguçou minha curiosidade e minhas papilas de tal maneira que fui pesquisar as primeiras servidas nas ceias de Natal. Seria a minha rabanada uma réplica abrasileirada da receita original?

A origem é mesmo européia. E pra lá de antiga. Entregas? Talvez  com charretes, em meados do século dezessete! Foi criada para aproveitar pães velhos e amanhecidos e se tornou alimento sagrado no Natal por representar para os católicos, o corpo de Cristo. Outros dizem que a origem é francesa e não portuguesa.

Fui aos risos ao saber que são chamadas de fatias paridas ou fatias douradas. Pode-se usar cacetes ou bengalas amanhecidas. E nas receitas portuguesas mais sofisticadas, usa-se o vinho! Achei o danadinho. Acho que a vovó usava e a mamãe cancelou sem falar nada.

Seja qual for a receita original,  sempre algo respinga na gente de forma ancestral, além daquele pingo de óleo quente no braço que é fatal.   

É a saudade das tardes doces e quentes. O meu coração embebido em leite materno, pingando gota a gota no meu peito que hoje amanheceu com uma saudade sem jeito.

Rabanada... açúcar da mãe. E  sabor da vovó!

 

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quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

PRISCILA COMEU AS PINHAS DE NATAL...



O espírito natalino sempre foi muito tocante para mim. Olhava nas ruas os enfeites luminosos, os arcos e guirlandas nas portas, renas de neon nos edifícios e temas harpeanos ecoando nas lojas...  

Mas as festas de Natal em si, embora amorosas e agradáveis,  traziam doloridas ausências. Faltava sempre alguém à mesa. Um tio, a mãe de um cunhado, o irmão amado. Fragmentos de imagens do passado que me davam um aperto danado.

Este ano o tom da nossa decoração foi mudado. Mais modesta, sem muitos requintes. Resolvi apostar na simplicidade.

Nada de árvore ou presépio gigante. Nem decoração barroca para uma fé ainda pouca. Nada de bolas douradas, enfeites de purpurina e laços de fita brilhantes. Era simples a manjedoura. Um pouco de feno e algumas pinhas bastavam. Cristo em mim falou mais alto. Decidi por madeira e simplicidade.

Voltei do interior com um saco de pinhas novinhas, colhidas do chão de terra vermelha sob os pinheirais de Biritiba. Havia tempo que eu não fazia algo assim. Arranjei feno, armações de arame e madeira. E Reis magos comprados em um carrinheiro, numa feira.  

O presépio simples, rústico e com pouco dinheiro montei perto da cortina. Sem perceber que Priscila, a nova integrante da família olhava de fino com interesse leporino para as pinhas fresquinhas.

Numa escapada noturna, sem o nosso olhar de censura, lá se foi o natalino cenário, com as pinhas roídas até o talo. O feno, espalhado pelo chão. Só o Jesus de madeira ficou intacto. Deus, achando graça da sua criação...

Os Natais mudaram. Muitos se foram. Outros chegaram. Papai Noel anda meio sem graça. Priscila ganhou espaço. Natal de novas certezas e outros tipos de laços. Mas veio com alegria e pureza. Mesmo com todo o embaraço!

 

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FELIZ NATAL, CHEIO DE PAZ...

PARA TODOS OS AMIGOS E LEITORES

DO INESPLICANDO!

 

 

 

 

 

terça-feira, 16 de novembro de 2021

BANDEIRA, NO DIA DA BANDEIRA!



Era um peso danado ser a primeira da classe. Eu carregava um misto de vaidade com aborrecimento. A auto-exigência de ter as melhores notas, o melhor comportamento. Pra que tanta cobrança assim, pequena curumim? Hoje, não cobro nada tão serio de mim. Fui assim até meus dezesseis ou dezessete anos. Eu mirava a perfeição. Nove, eu aceitava. Oito, era decepção.

No dia da bandeira, a escola inteira se preparou para a festa. Enfeites, bandeirolas, fitas, professorinhas ufanistas. E eu, a primeira da lista. Escolhida para declamar a poesia de Manoel Bandeira. Foram dias e dias ensaiando café com pão, café com pão, café com pão. Virgem Maria que foi isso maquinista? Agora sim, café com pão, café com pão. Eu torrava o pão e a paciência dos meus irmãos, recitando em casa, o trem da repetição. Café com pão, café com pão. Eu queria a perfeição. Eu era tão exigente...

No dia da festa, o que era certo entortou. Perdi a hora. O despertador falhou. Às sete, a cerimônia começava. Levantei sete e meia passada. Saímos, minha mãe e eu, em disparada.  Roupas, às pressas colocadas, cabelo mal penteado, cara mal lavada. Corremos pelas ruas, desvairadas.  Passa poste, passa boi, passa boiada... Era o próprio trem de ferro em disparada para conseguir chegar ao menos antes da festa terminar. Eu, que era tão exigente...

Ao nos ver no portão da escola, com ar de súplica e esbaforidas, Dona Margarida, minha generosa professora pediu à diretora que encaixasse minha apresentação antes de encerrar a manhã festiva. E lá fui eu na frente de todos, reunindo a coragem que restava e com toda a força na fornalha, declamei o poema, sem muita interpretação...

Café com pão, café com pão, café com pão! Piuiii... Todos aplaudiram. Cantaram o hino, enquanto eu olhava no alto do mastro, a bandeira verde amarela que como eu, ainda tremulava.  

Teria sido uma vitória.  Não para mim.  Eu me daria uma nota três.  Eu era tão exigente...

 

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terça-feira, 9 de novembro de 2021

A PRIMEIRA VEZ... É AZUL!


As pernas finas e magrelas, quadriculadas de azul, efeito do vento frio vindo do sul, saltavam contentes, espalhando água pro alto e pra frente. Era a primeira vez que as crianças viam o mar. Num dia feio pra danar.

Foram longos dias de espera. Anchieta ou Estrada Velha? A rota antiga era mais bela. Curvas sinuosas, cachoeiras e mirantes pra ver do alto da serra. Além dos pontos de parada, os marcos da Independência. O Rancho da maioridade. A calçada do Lorena. O pouso Paranapiacaba, provável parada de Dom Pedro ensaiando o grito e lustrando a espada, sem muita paciência.

Não descemos pela estrada velha. A via Anchieta era mais segura. E tocar o mar era a nossa aventura. Em cada curva da pista, um horizonte novo azulava nossas vistas. Ora ao longe, ora ao fundo, o oceano Atlântico vasto e profundo.

No meio da serra já pesava a atmosfera. Ouvidos tapados. Prende o nariz e assopra. O ar faz a troca! Chegamos ao nível do mar. Praia a vista. Mar tranqüilo, sol, areia branquinha, peixes e conchinhas.

E não é que o tempo virou? A praia ficou cinzenta, o mar encrespou e o dia esfriou. Os meninos correram para as malas, tirando os maiôs. De tecido elástico, grandes e listrados. Com uma fivela de metal do lado. Podemos ir assim mesmo? As alminhas aflitas gritaram.

A mãe, que sempre agasalha e compreende, vestiu os garotos com uma malha grossa e quente. E lá foram eles. De blusa de lã e maiô cafona pular as primeiras ondas. A praia brava não atrapalhava. Nem o cinza escuro do mar. Nem a malha pesada.

Vi de longe a cena. Ao saírem felizes da água, ouviram de um chato sujeito... O que acharam desse feio mar cinzento?

Perfeito! Onde a gente entrou, só naquele pedacinho... o mar estava azulzinho!


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terça-feira, 19 de outubro de 2021

O OVO DO EMU...


Eva me mostrou com naturalidade o emu macho sentado no chão, chocando os ovos no ninho. Rimos, com a malícia feminina, desejando a mesma dedicação paterna nos machos da raça humana. O emu é mesmo uma ave estranha. Não é ema, nem avestruz. É um parente mais baixinho. Simpático. Azul acinzentado e excelente pai.

Conheci um casal de emus que vivem no sítio. O macho estava no ninho há mais de cinquenta dias. Enquanto a fêmea, serelepe, zanzeava pra lá e pra cá. Os emus machos ficam parados sem sair um minuto do lugar. E ainda cuidam dos filhotes depois que nascem, só pra gente se encantar. Sei de alguns homens-emus, mas são raros de se achar...

Eva continuou me mostrando o sítio, enquanto Pietro de três anos falava naturalmente sobre os bichos e reconhecia as árvores do local. Puseram saquinhos nas ameixas e goiabas para a lesma não entrar. Acho que vai adiantar! Vem muita fruta nesta estação. A primavera chegou, espantou o frio, a paisagem coloriu. Só uma árvore mais velha, com a forte tempestade, que partiu...

Quando o relógio toca às cinco e meia da manhã Eva levanta para dar comida aos bichos. Primeiro as aves, pavões, araras, bourkes rosa, faisões... Depois a porca, as tartarugas e perto do meio dia, a barulhenta reunião dos gansos esperando a boia salpicada na lagoa. Sonora alegria, com a chuva de milhos entornando da bacia...  

Pietro sabe o nome de todos os bichos e brinca com os cachorros se embolando na grama. Romeu é o seu preferido. Border Colie tranquilo, com cara de amigo. À noite desmaiando de sono, o garoto não consegue mais falar. E se depender dos pais, por um bom tempo, assim vai ficar. Ele ainda não sabe o que é joguinho no celular.

Eu arrumava as malas para voltar pra casa, quando um ovo me chamou a atenção na mesa da sala. Gigante. Verde, quase preto. Perfeito! Um ovo de emu? Eva confirmou. Pietro nem ligou. Fui buscar um ovo branco de galinha na cozinha, pra tirar uma foto e comparar.

Tchau, Pietro. Obrigada Eva. Quanta coisa eu desconheço da diversa e tantas vezes, exótica natureza.  Eu, com meus poucos poemas e vasinhos sobre a mesa. Olhei com ternura para o Romeu... acho eu vou te levar!

Pietro chorou, o Romeu é meu!

Claro, Pietro. Tudo é seu. E de quem consegue desfrutar. O sítio, os bichos, as árvores, o pomar...

Da Terra, nada se leva. E tem mais... o emu macho pode até chocar, mas quem toma conta do paraiso é a Eva!

 

*                          *                        *

 

 

 


 

 

 

 

segunda-feira, 4 de outubro de 2021

MENINO DEUS...


Ele tropeçava e comia as palavras, tamanha a euforia quando o seu assunto preferido entrava em ação. Os super-heróis! Naquela semana ele era o Capitão América. Com direito a capa e um escudo com estrela azul e vermelha. Corria feito um corisco do quarto pra sala. Criando falas e aparando lanças imaginárias, criando livres movimentos de ação. 

Depois perguntava... O capitão América é mais forte que o Thor? Não sei, Bruno, difícil dizer. Teriam de se enfrentar. O escudo do Capitão América é indestrutível e poderia proteger da clava mágica... O pequeno Bruno saia pensativo, refletindo e voando pelo quintal com aquela força estranha e cheio de magia. Vestido de infância, personagens, fantasia.

No dia seguinte, a cena se repetia e ele perguntava, agora para a mãe. O Capitão América ganha do Homem Aranha? Pode ser que sim. Mas o homem aranha é ligeiro. Talvez escapasse pelas paredes, ileso. Bruno concordou, mas entristeceu.

Largou o escudo no armário e no dia seguinte, com um "esse" no peito, anunciou satisfeito... Eu sou o Super-homem! Aposto que ele vence o Thor, o Homem Aranha, o Batman e todos os heróis ao mesmo tempo. Não tem ninguém com mais poderes que ele, tem? 
Deus! O pai respondeu. E Bruno surpreso... O que ele usa? Ele é invisível. Ele tem super poderes? Ele faz milagres, sempre. 

Os olhos do Bruno se acenderam, iluminando seu rosto puro e agora, mais sereno. Na manhã seguinte entrou na cozinha para o café em família. Sem capa, sem espada. Sem escudo, nem nada.

Hoje não tem fantasia? Nem uma pergunta sobre os super-amiguinhos seus? 
-Não! De hoje em diante... eu sou Deus!     



*                                         *                                           *                     

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sexta-feira, 24 de setembro de 2021

EU TÔ NA LANTERNA...

                                                                                            
Penha fica no litoral catarinense. Sua singeleza encanta. Praias belas e rústicas. Recantos de pescadores. Simples e boa vizinhança. Foi lá, num pequeno farol noturno, que um misto de música e solidão apertou meu coração feito as cordas de uma embarcação. Eu repetia como um mantra suave e delicado, o refrão de uma das minhas letras favoritas... lanterna dos afogados! 

Por anos naufraguei na dúvida se o local cantado por Herbert Viana era real ou uma metáfora usada com beleza e inspiração, simbolizando uma luz no fim do túnel para alguém perdido num mar de incertezas e solidão. Mais tarde descobri que a “lanterna dos afogados” é nome de um bar, no livro Jubiabá de Jorge Amado. Lugar onde as mulheres dos pescadores esperavam seus maridos com suas lanternas em punho na ânsia de ajudá-los a achar o caminho de volta.

Dizem que algumas em desalento há muito tempo, vagavam chorosas, mas sem expressão de revolta. Outras, ainda em desespero e aprisionadas pelo tempo, mantinham acesas as luzes e a esperança de ver seu amor voltar depois de meses, até anos. Triste mar de enganos. Eles nunca voltavam. Talvez a ideia da canção tenha surgido do livro. Não duvido.

Eu me vi assim, por alguns minutos, naquele farol noturno esperando uma embarcação que não vem. Um tempo que demora e não chega. Vendo uma tempestade próxima, num mar que desassossega. Só o refrão da canção veio me consolar...                          

Continuei no farol com o pensamento além do mar... Tocar o barco? Esperar? Pedir a Iemanjá para nos ajudar? Sei lá. Eu estava em Penha. No farol de águas calmas. Noite bonita. Sem viúvas aflitas. O que balançava era o instante imaginário dentro da alma aflita.

Olhei com doçura a luz do farol e reacendi a esperança nas águas renovadas que vinham do mar.  Como Herbert ou as viúvas em Jubiabá, cantei baixinho, pra eu mesma escutar... Eu tô te esperando... vê se não vai demorar!!!.

  

            

 *                       *                       *                   
 
                                  

segunda-feira, 6 de setembro de 2021

NO ALTO DA TORRE!

Eu tremia feito vara verde no alpendre, me esgueirando entre a parede branca e uma grade fininha que dava na minha cintura. Era o meu limite. Minha dose razoável de loucura. Havia mais dois ou três giros na escada em caracol para chegar ao topo. Eu dispensava. Queria só a parte suave. Sem sentir o fantasma que rondava dentro de mim, prestes a saltar. Além do frio na barriga e a falta de ar. 

Nasci com vocação dos pés voltados para o chão. No máximo, levo um tropeção. Mas tem gente que não afina. Busca o última gota de adrenalina. O voo mais alto. A viga mais fina. Vivem na vertigem. Amigos do perigo. Destemidos e devoradores de emoção.

Eu me contento com voos da imaginação. É em pensamentos que cruzo grandes penhascos. Mares e vales surreais. Nesse universo, os medos terrenos são  banais. Gigantes são os medos da alma. Invisíveis e abissais.

No topo da torre alta, de bela vista, abandonei os meus planos de conquista. Zero de heroína bacana. Covarde feito uma banana! 

E não é que um fedelho chegou correndo e sem medo foi até o último degrau? No alto e com os pés na grade, gritou feito Bonaparte... Eu sou o Rei!
Sorri e acreditei.         
A vida é um grande brinquedo para quem não conhece o medo.


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quarta-feira, 25 de agosto de 2021

DESARRUMANDO A CASA...

Derrubei dois livros abertos suavemente sobre o sofá da sala. Joguei a manta sem muitos cuidados. Juntei três cadeiras e espalhei objetos em desordem na mesinha do lado. Pronto. Um toque de liberdade, sem desconforto.

No escritório, afastei a poltrona, abrindo as cortinas da janela e convidando o sol a chegar mais perto. Deixei o notebook aberto...

Adentrei o quarto, amontoei os cobertores criando e redesenhando montanhas e empilhei seis travesseiros. Como se crianças tivessem brincado com eles o dia inteiro. Era aventura, sem censura.

Na cozinha comecei o recheio do bolo caseiro. Selecionei os ovos, o leite e a manteiga, deixando uma nuvem de farinha salpicada em neve sobre a mesa...

Desci do armário quatro taças de vinhos, as preferidas dos amigos. Completando o cenário, abri todos os vidros da varanda pra que o vento balançasse as plantas. Queria sentir o movimento. Alegria, mais que ventania.

Depois, liguei o rádio, cantando alto e profundamente um velho refrão. Queria o coro, não um solo de violão.

Pronto! Sinais de vida alterando o silêncio das coisas. Movendo as roupas, empilhando as louças. Enchendo minha alma de presenças e esperanças.

A casa, levemente desarrumada!

 

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AGUARDE NOVIDADES INESPLICANDO!

terça-feira, 17 de agosto de 2021

ATENDE. É O PREFEITO!

 
                    

Passei muitas temporadas de férias na cidade de Itanhaém quando pequena. Graças a um tio que tinha uma linda casinha com uma rampa de pedrinhas, na rua que dava na praia dos pescadores. Da cidade em si, lembro pouca coisa...

Recordo a antiga ponte de madeira. A cama de Anchieta. A estátua de Mulheres de areia e da novela em sua primeira versão, com Eva Vilma, Ruth e Raquel, e Guarnieri como Tonho da Lua. Além de alguns personagens da rua...

Lembro mesmo é do Seo Alcides. Que eu pensava ser o prefeito da cidade. Na verdade, ele dirigia o caminhão da coleta de lixo, mas meu tio insistia em chamá-lo de “prefeito”. Grande sujeito. E tinha a panca e a autoridade do fictício cargo. Moreno, cara redonda. Um homem forte e meio calado. Metia medo na garotada. Morava na rua em frente à casa do  meu tio e tinha uma esposa, cujo nome, minha memória seletiva, deixou escapar...

Passei inúmeras tardes sentada na varanda da casa do Seo Alcides, que tinha um carinho especial por mim, a menor de todas as crianças que passavam férias em Itanhaém. Éramos muito amigos. O prefeito e eu! Depois de anos, eu já adolescente, meu tio contou uma história que surpreendeu...

No meio de uma importante reunião da Fiesp, repleta de diretores e executivos da indústria. Meu tio era pressionado pela queda das vendas, numa calorosa discussão sobre mercado e crise financeira, quando foi interrompido pela nervosa secretária que adentrou a sala com o velho telefone de fio na mão:  -Sei que não devia interromper, mas acho que o Sr. Diretor vai querer atender. Ele disse que é urgente! É o prefeito de Itanhaém...

Meu tio, rápido e astuto, tirou o telefone das mãos da secretária e atendeu prontamente com ares de poder... O que é que há? Diga lá, prefeito! Pode falar...

Era o Seo Alcides, o motorista do coletor, parando a reunião da Fiesp!


*                  *                   *                


EM BREVE...

INESPLICANDO... COM NOVIDADES!

AGUARDE!

quarta-feira, 11 de agosto de 2021

O BONDE E A ESPERANÇA...

A Rua João Pessoa é uma linha reta que vai dar no Porto de Santos, cruzando o centro antigo da Cidade. Zona das bocas e da antiga boemia. Dos famosos Love Story e Fugitivo. Região do cais. Notívago caos. 

De dia, o comércio já não cresce. E à noite, quando escurece, as mulheres aparecem feito mariposas. E se espalham pelas casas noturnas, salteando alegres entre clientes e copos de cerveja. Som de forró e música sertaneja. 

São muitas. Algumas, atrevidas. Outras simpáticas e coloridas. Gordas, magrelas e sofridas. Expostas! Com pernas à mostra. Porém, mais discretas que os rapazes da General. Com saltos quinze e meias arrastão. De humor ácido e escrachado. Vozes finas e físicos avantajados. 

Conheci alguns deles de tanto caminhar, na saída do trabalho, no lusco-fusco confuso do horário das sete da noite. Todo cuidado é pouco, no velho centro da cidade. É nessa hora que tudo se mistura. Trabalhador e meliante. Policial, vendedores, ambulantes... E as mulheres convidativas surgem dos casulos ocultos da avenida. Borboletas esvoaçantes... 

O Centro histórico de noite fervilha. Tem cheiro de gasolina e maresia. É a zona do Porto. Beira do cais, onde tudo começa e termina. Rota de tantas vertentes. Entrada dos esperançosos. Saída dos descontentes... 

E foi no meio de toda essa gente que eu vi uma moça na esquina. Cara de menina. Corpo de adolescente. O que fazia? O que tinha em mente? Algum dinheiro ou presente? Passei com meu saquinho de pipoca doce, ainda quente, que ela me pediu só com o olhar... Queria provar. Como quem quisesse, talvez, fugir e brincar.

Estendi a mão e ofereci a pipoca. Ela pegou e sorriu. Guardei na lembrança. O bonde passou. Ela subiu. Segui com o meu saquinho de pipocas, quase vazio. Mas no fundo, lá no fundo, um grãozinho, ainda puro, de esperança. Seu sorriso era de criança. 

 

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O UNIVERSO INESPLICANDO VAI FICAR MAIOR!

AGUARDE! 



terça-feira, 20 de julho de 2021

O FEITIÇO DA LUA!

Vinte de julho, bem no meu aniversário, um fulano americano fincou a bandeira na lua como se fosse sua! A lua foi vista nua e crua. Pálida e empoeirada. Sem ar na atmosfera. E com um tecido enrugado de crateras.

O astronauta impiedoso desalmou a lua dos nossos sonhos, Vimos na tevê o vazio abandono. Uma lua metade escura, sem sinal de água e de vida, ainda que branca e linda, vista de longe no escuro do céu.

De criança, deitada num pedaço de chão, eu ia até a lua e voltava num foguete imaginário. Pensamento aéreo, solitário. Gratuito. Expresso-rápido. Desviando de asteroides, deuses e pássaros. Eu chegava perto da lua, sem nela pisar. Bastava me aproximar. Sentir o brilho e a energia que encantavam as noites de luar. Lua amiga e antiga. Dona de raios e feitiçarias.

Depois que o homem pisou na lua, algumas canções perderam a magia. São Jorge e seu dragão partiram pra outro planeta. Não vemos mais a menina do anel de lua-estrela. E a Lua da Luiza, que boiava na estrada nua, não mais flutua. O homem do foguete, desencantou friamente a lua!

Não temos mais o que esperar. O homem faz bate e volta de lá pra cá! Tem até uma estação pra estacionar com taxi-lunar! Esqueçam as quimeras. Ir à lua, virou viagem de férias. Resort de ricos. Puro capricho.

Mas cuidado, astronautas, não sabem do feitiço e o altíssimo custo que terão de pagar.

“Quem na lua pisar, poderá dormir. Mas não mais sonhar”


*                  *                              * 

 

 ATENÇÃO LEITORES! 

AGUARDEM... NOVIDADES INESPLICANDO

PARA A PRIMAVERA!

terça-feira, 13 de julho de 2021

O PINTOR DA AURORA...

Um grande autor se diverte por detrás do planeta. Pinta o céu com ondas róseas. Outras vezes azuis, verdes ou violetas. Névoas que dançam e se espraiam num jogo de luzes no céu. Curvam-se como se valsassem, livres de linhas e pautas musicais. Quem acende aquelas luzes na escuridão polar? Quem é o pintor da aurora boreal?  

No meu telhado imaginário crio os mais lindos e gelados cenários. Alasca, Noruega, Escócia, Finlândia, Canadá. Dizem os cientistas que o sol manda elétrons raivosos em tempestades de ventos. Mas eles se chocam com o campo magnético da Terra que manda tudo pra escanteio. Eu creio! As auroras aparecem nos pólos e não no meio. É tamanha a beleza que deve ter alguém por detrás com certeza....

E o arco-íris, com suas sete cores, saindo das montanhas e mares feito um compasso, fazendo um semicírculo fantástico até o chão. Quem bolou? Quem pintou? É o sol depois da chuva o seu autor. Água, luz, cor, refração.

O rastro do navio na lua cheia também fascina. Caminho prateado cortando a imensidão. Trilho iluminado rasgando o mar em duas metades maciças. A lua é a solitária artista.

Quanto à aurora boreal... Jogo de luzes que pintam o céu em liberdade fria e serena. Deve ser Deus, brincando, com sua lanterna multicolorida... e todas suas luzes de leds acesas!   

 

 

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  "INESPLICANDO"

 Viaje na leitura...

 


 


terça-feira, 6 de julho de 2021

AS BALINHAS DO PADRE...

      
Era mágico e amedrontador entrar naquele prédio antigo e bem conservado do Colégio do Carmo. Portas maciças, grandes colunas e andares amplos onde os padres de batina preta cruzavam as alas com semblantes fechados e austeros. Meus irmãos estudavam lá!

Todos os padres eram sérios. Menos um. O Irmão Martinez! Quando me via, colocava a mão no bolso da batina e voltava com um punhado de balinhas. Ardidas. De hortelã, as minhas preferidas! Depois, com o indicador frente a boca, pedia o meu silêncio. Era doce o nosso segredo...

As aulas de exatas e ciências eram as mais fortes do colégio. Mas havia música e arte. E a peça dos alunos no fim de ano, um capitulo à parte! Eles mesmos criavam, produziam e ensaiavam. Geralmente escolhiam uma comédia cheia de graça ou uma sátira de terror. E rezavam para passar pela censura dos padres e do reitor.

No dia da apresentação, os mais velhos de batina assistiam na primeira fila, com muito orgulho e atenção. Logo atrás, os amigos, as famílias e eu, que não entendia quase nada, mas me divertia com o riso esparramado dos adultos... 

Quando eu cansava, o irmão Martinez percebia. Sentava do meu lado e tirava do bolso as balinhas santificadas. Tudo ficava mais doce e o meu medo de padre passava mais longe...  

Meu irmão confessou, certa vez, que sentiu muito medo ao falar com o temido e encurvado Padre Pedro. Foi na primeira missa de sábado, dentro do confessionário. Não tinha feito nada errado, restou inventar um pecado. Pecadinho. Bem levinho. Só pra não ficar chato... 

Depois, voltou com sua pena de sete Ave Marias e um pai nosso! Meu irmão disse que não pecou. Não sei se acredito. Ele voltou muito feliz com o castigo...

Pra mim, foi merecido!



                         *                        *                                             
     
            
                                                                                






terça-feira, 22 de junho de 2021

GOSTO DE CHEGAR...

Gosto de partir. Porque gosto de chegar...                    

Chegar num outro lugar. Às vezes estranho, diferente. Onde haja novas paisagens e eu possa abraçar gente. Pode ser o lugar de sempre. Chegarei feliz novamente.Há sempre algo que escapa ao primeiro olhar distraído. 

Muitas vezes, o tempo cruel e apressado vai deixando tudo mais velho e esmaecido. Casarios, fazendas, ranchinhos. Chegarei com os olhos amaciados e mais atenta para olhar com carinho, o velho que ainda se mostra vivo, ainda que puidinho. 

Não acho triste partir. Porque gosto de chegar... 

O trem me encanta com as oportunidades tantas de descer e conhecer cada estação e seu pulsar. A pacata cidade ribeirinha. O centro com suas vendinhas. A periferia mais pobre. A estação empinada, ladeada por casas nobres... Chego como quem chega numa festa. Olhando e adentrando. Uma feliz penetra. Observando a vida que salta em cada fresta.

Não acho chato partir. Porque gosto de chegar... 

Na minha própria casa, depois da viagem suntuosa. Repousar na minha cama. Tomar banho e me sentir dentro do meu velho pijama. E se tiver que retornar? Volto na outra semana. Chego feliz de novo, feito aprendiz, em novo lugarejo. Conhecendo outro povo, gostos e manejos...

E na viagem final, diante da morte, quando a nossa fé sacoleja com tropeços e incertezas... Vou na boa experimentar! Não tenho medo de partir. Porque gosto de chegar...

O que vou encontrar? Quem vai estar lá? Se tem asas de anjos, quipás ou patuás? Não importa! Vou me encantar.

Mas... não precisa ser já!

 

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quarta-feira, 16 de junho de 2021

A RUA DE TERRA LARANJA...

                    

          

Tudo ficava meio alaranjado. Os pés, as canelas, os braços e o rosto perto do nariz e da boca que com a mão eram tocados. A rua de terra da vizinhança deixava suas manchas de alegria laranja nas crianças... 

Meninos empoeirados jogavam e corriam descalços na frente do golzinho de dois paus improvisados. Eu morava na casa branca da avenida de asfalto. Rua Conselheiro Justino, que se transformou, mais tarde, na gigante Radial Leste. Virando a esquina, na rua de trás, era a rua de terra alaranjada. Pequena, com casinhas de um lado, e do outro, um muro alto de fábrica, de tijolo descascado. 

De dia e de tarde a rua ecoava ruídos humanos. Risos de meninas e meninos brincando até ao anoitecer, quando voltavam imundos pra casa. Minha mãe sorria quando meu irmão, no banheiro, perguntava: o que é pra lavar direito, mesmo? Tudo. Dos pés ao fio de cabelo. Capricha nos dedos e nos joelhos! Às vezes ele pedia ajuda. Bater com o peito do pé na bola de capotão molhada e dura, criava uma espécie de pele cascuda. Lama dura. Tinha que passar creme e esfregar com força e até escovão. Não reclamavam. Era o preço da diversão. 

Segunda feira, os pés já limpos na meia branquinha e com sapatos engraxados, seguiam para o colégio no ônibus do Colégio do Carmo. Era nos finais de semana que a rua de terra fazia valer o seu destino de rua feliz. Lá estavam bons e antigos vizinhos, todos com filhos... Os portugueses e sua varanda de orquídeas. A família italiana com vinhos e cantorias. Os espanhóis da venda de empanadas... e emoldurando toda a rua, a paisagem laranja colorindo os muros e calçadas.

Foram quatro anos sonhando com a rua de terra que eu via na pele dos garotos só de passagem. Eu não tinha idade... Foi na semana das festas juninas que veio o batismo e a inauguração... Pode levar a menina na rua de terra! Mas não descuida um só minuto dela! 

Toda arrumadinha, vestido de remendos e fitas juninas, larguei de pronto a mão do meu irmão e sai correndo pra tocar o chão. Tirei os meus sapatos fechados, estendi os dedos, alarguei os passos e pisei na terra laranja, sujando meus pés limpinhos com deboche e carinho. Depois achei uma poça d’água e coloquei os pés pra enxaguar. A cor laranja se espalhou pelos poros, pelos pés, pernas e canelas... 

Agora eu sabia, de verdade, o prazer que era!


 

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quinta-feira, 10 de junho de 2021

O REMENDO XADREZ


Eu não gostava dos rojões. Dos estalos. Da explosão! Gostava do cheiro da festa junina. Cheiro de pólvora. Fumaça. O ardido nas narinas... Até hoje, isso me lembra um tempo feliz. Festa simples. Gente simples. Do interior caipirês do nosso país.  

E todo ano era igual. Já em maio, as professorinhas, dedicadas, começavam a combinar. Não havia muito o que mudar. Compravam as sedas. Faziam as bandeirinhas. Colavam no barbante. Vermelhas. Amarelas. Azuizinhas. Os meninos subiam nas escadas para enfeitar. O pátio do colégio ficava alegre. Com bandeiras, balões e fogueira. Sem fogo. Só toras de madeira. Tudo no centro da quadra de esportes, dando ar de São João. Era lá a quadrilha. Iam todas as famílias... 

Os ensaios começavam um mês e meio antes. Cansativos, mas divertidos. Dava pra matar umas boas aulinhas. Com o consentimento raro das professorinhas, que também dançavam festivas. Sofrido mesmo era ouvir durante horas e horas a mesma trilha sonora. Talvez a única música junina do mundo inteiro, tiro certeiro: Pararararararará... E lá ia a gente montar a quadrilha. Olha a chuva. Olha o túnel. Olha a cobra... 

E se de um lado a festa dava trabalho, de outro era mágico e engraçado. Ter um dente pintado, estragado, bem na frente da boca era o sorriso desejado. Calças de jacu nos garotos. Nas meninas, vestidos de chita com fitas e cores esquisitas. Vixe, como era "bão"! Remendos na roupa, então...  

Lembro uma vez, eu já tinha uns dez anos... Fui escolhida, pela terceira vez, para ser a noivinha. Talvez pelo fato de ser pequenina. Cabelos grandes. Sei lá... O fato é que eu e o meu parceiro Paulo José Barreiro (não sei porque as crianças lembram o nome inteiro dos amigos que há mais de quarenta anos conheceram...) fomos escolhidos, mais uma vez, para sermos o casal. 

Brava,  já em casa, expliquei para minha mãe quase chorando : - Mais uma vez, eu de noivinha! – Mas a noiva é a principal. Você não gosta dessa honradez?  - Mãe, será que você não entende... Eu gosto de remendo. Remendo xadrez!  Noiva não usa remendo xadrez...

E aquele cheiro de pólvora, voltou, subitamente, às minhas narinas...



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terça-feira, 25 de maio de 2021

BOA VIAGEM... ALEMÃO!


Não é Karl. É Karl-Heinz! Hanna apresentou assim o marido naquela tarde ensolarada na praia de Jurerê. Bastaram alguns olhares e veio logo a pergunta sobre o drink vermelho que os encantou. - Caipirinha de Morango, dissemos! Eles apelidaram alegremente de “ caipirango!”. 

Nascia ali a improvável amizade entre dois casais, brasileiros e alemães. Ela tinha um inglês difícil e germânico e era assistente social. Viajava em missão. Tinha um filho especial. Nos entendemos mais com o olhar fraternal. Karl Heinz era engenheiro de alimentos. Entendia de biscoitos e bolachas. Mas gostava mesmo de velejar e provar do nosso "bom" cachaça. 

Navegamos longas e belas tardes em caiaques de dois lugares. Karl contava dos mares gelados. Da pesca. Dos escandinavos. Oceanos distantes e bravos! Era um alemão branquinho, com bochechas avermelhadas. Nos últimos dias, ardidas e estorricadas.
Karl chegou na praia com camisa de flanela. Xadrez. Manga comprida vermelha e amarela. Rimos muito. Sem abraços apertados, ardiam demais os seus braços. 

Dois anos depois, o casal veio de Brehmen até o Brasil e se hospedou em nossa casa. De manhã, a surpresa. Estava pronta a mesa! Pão. Leite. Café que ele mesmo fez em nossa engenhosa cafeteira. Biscoitos e manteiga que ele achou na geladeira. Hanna sorriu. Karl-Heinz é assim! Tomamos o café e eles tiveram que partir...
 
Não vou esquecer seus olhos azuis e marejados no dia do último abraço. Hoje, folheando o livro que ele nos presenteou, revi a carta indesejada falando da sua partida e da missa de sétimo dia...

Agora as lágrimas são minhas. Lágrimas de água e sal. Feito o biscoito. Feito o mar. Que nos uniu e nos separou. Boa viagem, Almirante Karl... Karl não, Karl-Heinz! 
Tanto faz. As palavras e as distâncias já não atrapalham mais!          



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quarta-feira, 19 de maio de 2021

ORELHA DE PAU?

Meu passatempo preferido é andar pelas ruas da vizinhança observando as árvores e flores que interagem na paisagem urbana. Sempre há uma surpresinha aqui e ali. Uma flor que eu não conhecia. Uma orquídea nova florescendo e sorrindo. Uma ou outra pitanga bem no alto que nenhum atrevido conseguiu pegar de assalto.                  

Sofri ao ver o velho e enorme chapéu de sol, vítima de uma poda destrutiva e desastrosa, se transformar num tronco sem vida. Olhei o tronco com dor, lembrando da sua copa aberta e generosa, alegre e espraiada, agora um pedaço de tronco torto e mais nada. 

Veio a seguir a surpresa inesperada. O tronco pelado estava florido! Enfeitado de branco. Com pétalas grandes encravadas. Pareciam rosas grudadas. Fui me aproximando tentando entender a visão surpreendente. Não achei brotos nem flores, apenas cogumelos estranhos à minha frente! 

Os cogumelos tem aura de mistério e magia. Estão nas lendas e fantasias. Aparecem subitamente em bosques úmidos e sombrios. Alguns são venenosos como os mais famosos de chapeuzinho vermelho e pintas brancas. Conhecido como Amanita ou Cogumelo do Papai Noel. Por conta da sua ingestão, os nórdicos talvez vissem renas e trenós voando no céu... 

Deixei de onda os alucinógenos e fui procurar os tais cogumelos brancos entre as centenas de tipos e diferentes formas. Queria saber o que enfeitava o tronco oco do antigo e exuberante chapéu de sol. Encontrei vários, muito bonitos de se ver. Várias cores e padrões. Alguns bons de comer! 

O orelha de pau foi o que mais se aproximou. Não sei se é ele o cogumelo que nasceu no tronco seco e cheio de rachaduras. Mas me encantou a ideia de ser uma orelha dura. Continuo andando pelas ruas olhando as árvores. Sentindo a dor do corte e da morte de algumas. 

O sol continuará firme e forte brilhando além das tragédias provocadas pelo homem. E depois das chuvas, alguns cogumelos nos darão a breve e fugaz sensação florida de vida e de cores! 

Não foi alucinação. Olhei cogumelos... e vi flores!


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