Ela dizia que nem nome tinha. Tinha sim. O maior de
todos.
Os imigrantes portugueses que chegaram ao
Brasil, no começo do século passado tinham fama de serem atrapalhados. Alguns
fatos na minha família reforçam essa pecha de forma irretocável.
Por distração ou esquecimento, meu avô só registrou
minha mãe depois de um ano de seu nascimento. Levou junto a filha mais velha ao
cartório e ao ser perguntado qual o nome da menina, disse Zilda, referindo-se a
filha que trazia pelas mãos. Conclusão... a menina mais nova, minha mãe que
todos em casa já chamavam de Olga, foi registrada com o mesmo nome da minha
tia, Zilda.
Meu avô, ao chegar em casa consertou prontamente o
engano, do seu jeito prático-lusitano. Riscou com um lápis o nome Zilda, escrito à máquina no documento, corrigindo por cima, Olga. E deu-se por
satisfeito.
Anos mais tarde, só quando ingressou no colégio,
minha mãe descobriu que não se chamava Olga, mas na verdade, Zilda. E foi assim
que os colegas de classe e os professores passaram a lhe chamar. Era seu nome
oficial a partir daquele dia, usado em crediários de loja e documentos oficiais.
Mas para a família, continuava a ser a Olga, a Olguinha. Zilda sempre foi e será
a outra filha. Ora pois, não é vovô? Quem é que não sabia?
A confusão aumentou quando saíram os proclamas do
seu casamento no jornal. Meu pai foi avisado pelos amigos do bairro.
Corre lá, Sylvio, avisa que tem coisa errada. Estão te casando com a tua
cunhada! Meu pai como bom italiano,
irônico e sorridente explicava com detalhes o incidente.
Por essas e outras, minha mãe dizia ter tido tudo na
vida, família, filhos e filha. Mas que nome de verdade, de verdade ela não
tinha! Não era Olga. Nem era Zilda! Quando fez seu livro de poesias não sabia o
que colocar. Quem sabe uma composição? Mas Zildolga, convenhamos, não seria a
melhor solução!
Hoje que ela já se foi, eu sei ao certo seu nome. Nome
de predestinada. Podia ter sido Olga, Zilda, Lia, Tereza, Eduarda. Cumpriu tão nobremente
sua maternal jornada que seu nome no livro pouco importava. Eu a chamava Mãe. Mãe
com maiúscula na frente. Porque mãe lhe cabia e bastava. Mãe, lhe batizava!
* *