Era a minha melhor amiga. Alta e comprida. Eu era
mais baixinha. Dupla desproporcional. No coração, tínhamos tamanho igual. Eu
tinha muitas aulas e alguns planos. Ela tinha um menino dos sonhos...
Íamos juntas todos os dias para o colégio. Eu e ela.
Na sala de aula, as duas coladas na janela. Eu levava meus livros encadernados
de plástico na mochila pesada azul marinho. Ela só tinha os olhos para o
menino...
No recreio a grande roda se fez bem no meio do pátio.
Perfeita brincadeira para se aproximar dos meninos e ter um ligeiro contato.
Lencinho atrás. Eu jogo o lenço nela e ela atrás do rapaz.
E assim aconteceu. O menino dos sonhos atrás dela,
enfim correu. Mas uma areia fina no chão de cimento fez virar piada o
acontecimento. Ela espatifou-se no chão. Desfez se a roda feito um vento
furacão. O menino dos sonhos não a pegou nos braços nem a socorreu. Peguei uma
meia na minha mochila e limpei os
estragos e a vergonha da amiga.
Passamos mais um longo tempo juntas. No colégio e
nos caseiros encontros. Eu lhe ensinava música e biologia e ela sofria, ainda,
pelo menino dos sonhos.
Mas o tempo passa ligeiro. E veio do céu uma nova
brincadeira. O passa anel. O menino dos sonhos não estava. Um novo garoto
apareceu do nada. Alto e comprido como ela. Passou o anel em sua mão e seu
olhar pronto pra amar logo se derreteu . Um novo menino dos sonhos apareceu!
Coloquei meus cadernos pesados dentro da mochila e
voltei pelas ruas sorrindo e sozinha. Éramos meninas.
Os sonhos e os amores mudam tão rápido. Como viramos
as esquinas.
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