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quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

NA CAIXA, POR FAVOR...


As de cinco quilos eram as mais desejadas. Difíceis de se abrir. Muitas vezes, só com a ponta da faca e um martelinho, levantando o grampo de aço devagarzinho e soltando uma das madeiras. As uvas rosadas estavam lá! Lindas. Intactas. Até mesmo aquelas que ficavam no fundo da caixa. 

Havia também as caixinhas menores. De um ou de dois quilos. Eu esperava o fim de ano só para comer aquelas uvas brasileiras, nas caixas de madeira. A caixinha de figo também era especial. Menorzinha. De madeira fininha. E espaços do lado. Vinha com um papel roxo por baixo, num tom azulado. Os figos maduros abriam como flor, rósea, com mel e sabor...  E as maçãs lustrosas? Vermelhas. Divinas. Vinham num caixote grande escrito “manzanas argentinas”. 

As caixas de frutas me trazem deliciosas recordações... Das antigas feiras, grandes bancas, quitandas, seja lá o que for. Por isso, na minha recente visita ao Mercado de São Paulo, o que chamou minha atenção, mais do que a majestosa arquitetura do antigo prédio e seus vitrais. Mais do que o sanduíche mortal, de mortadela com suas infindáveis rodelas e o pastel de bacalhau... Foram as caixas e caixotes espalhados pelo local. 

Dentro e fora do Mercado. Na caçamba dos caminhões abarrotados. Pelos corredores, aos montões. Caixas com frutas desconhecidas. Além das redondosas melancias. Laranjas. Acerolas. Limões... 

Estavam ali, frescas, as lembranças da minha infância. Das feiras. Da fartura. Natais e tradições. E depois da exposição das frutas nas caixas, num outro corredor... Potes com diferentes ervas. Barris de azeitonas. Picles e conservas.

Diante de tanto sabor, pedi  nostalgicamente ao vendedor de frutas...  - Vê cinco quilos da uva rosada, meu senhor! Mas, na caixa, por favor!



Obs. As caixas utilizadas hoje em dia são feitas apenas de madeira permitida.
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quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

CERTOS PODERES...


Nas tardes quentes e alegres no meu quintal, eu falava com os gatos e cachorros. Às vezes, com os passarinhos que descansavam em cima do muro, observando as brincadeiras e preparando o próximo voo... 

Eram conversas simples. Mínimas. Sobre bolinhas e bichinhos. Pelos escovados e petiscos. Com os pardais, os assuntos eram mais complexos e esvoaçantes. Nuvens. Ninhos. Varais. Telhados vizinhos... Eu sentia o que eles sentiam. Imaginando na alma, sem qualquer tradução. Poder da emoção. 

Eu também falava com as estrelas. Pedia que cortassem os céus. Na maioria das vezes, elas obedeciam. Até a lua, branca e nua, eu fazia cruzar de um lado ao outro do meu telhado. Demorava algumas horas. Um bocado. Mas eu conseguia.

Outras vezes, impedida de brincar, eu mandava a chuva parar. Tinha comigo um mantra poderoso e familiar. E a chuva me obedecia. Pingo a pingo, diminuindo. Até estancar. Eu sabia os poderes que eu tinha. Sem Hogwarts, nem varinhas. Poderes de Magia! 

Como o poder de curar. Com remédinhos caseiros. Feiticeiros. Infalíveis para a minha boneca, pálida, sarar. E o poder de libertação. Com uma capa improvisada e uma espada na mão... 

Mas foi na adolescência que ganhei o maior de todos. O poder do amor. Bastava olhar em seus olhos e começar flutuar. Espelho de nossas almas, saíamos dos nossos corpos para nos encontrar.  

Veio, então, o tempo maduro. Por vezes, duro. Com dissabores que não sei mais como transformar. Perdi certos poderes. Da leveza. Do voo. Do encantamento... Mas ainda falo com gatos, cachorros e pardais. A diferença é que eles, agora, não me compreendem mais.  
E neste esvaziado pacote de poderes que ganhei quando criança, apenas não posso perder um jamais... O da esperança!    



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quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

O CRAVO E A ROSA


Eles já estavam separados há muito tempo. Ele de um lado. Ela, o mais distante possível. O mais engraçado é que não se separavam. Pelo menos no papel, ainda eram casados. Bodas de ouro indo pra diamante. Mas continuavam distantes. E assim queriam ficar... 

Vivi no meio dessa separação durante quase toda infância e um bom pedaço da adolescência. Santa resistência. Numa verdadeira trincheira ouvindo cada lado reclamar... - Quem falou ? Aposto que foi teu pai! - Quem disse? Foi sua mãe, pode apostar... E assim viveram por longos anos. Em perfeita e harmônica relação. Cada um no seu canto. Casas diferentes. Sem divórcio. Só física separação. 

Até que um dia os dois, distantes, cismaram de ver a mesma novela. Coincidência intrigante. Misteriosa. O Cravo e a Rosa! Sentavam-se todas as tardes em frente à tevê. Cada qual na sua casa. Ambos já aposentados. E punham-se alegremente a ver, divertindo-se um bocado... Ele adorava a Catarina. Ela amava o Petrucchio. Ela é dura na queda, ele dizia. Ele é turrão, ela se derretia! 

Novela de época. Época dos meus pais. Geração dos anos trinta. Dos romances difíceis e muitas vezes proibidos. Virgindade, pudores e medos. Casaram-se tão cedo! Dezoito e dezenove anos. Nenhum dava o braço a torcer. Discutir relação, jamais. Perdoar? Nem pensar. Ainda mais, traição! Catarina, nunca. Petrucchio, não! Eram iguais. Ela dinamite. Ele explosão. E viviam se odiando, com muita paixão!  

Eles não perderam um só capítulo no Vale e Pena Ver de Novo das tardes quentes daquele verão. Sentavam-se, cada um na sua casa, em frente à televisão. Feito a nona e o nono. Cada um no seu canto, solitários. Relembrando a juventude e os erros do passado. Mas torciam juntos por um final feliz... 

Na novela aconteceu! O cravo ficou com a Rosa. Felizes para sempre. Mas com meus pais, foi diferente. Continuaram separados e reclamando até o fim. 
Por isso, hoje, não tenho cravos e rosas nos vasos e janelas. Tenho lírios e bromélias. Vivendo juntos e em paz. 
Nunca gostei  de novelas. Mas tenho uma saudade daquelas... Justo daquela!  



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