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sexta-feira, 24 de setembro de 2021

EU TÔ NA LANTERNA...

                                                                                            
Penha fica no litoral catarinense. Sua singeleza encanta. Praias belas e rústicas. Recantos de pescadores. Simples e boa vizinhança. Foi lá, num pequeno farol noturno, que um misto de música e solidão apertou meu coração feito as cordas de uma embarcação. Eu repetia como um mantra suave e delicado, o refrão de uma das minhas letras favoritas... lanterna dos afogados! 

Por anos naufraguei na dúvida se o local cantado por Herbert Viana era real ou uma metáfora usada com beleza e inspiração, simbolizando uma luz no fim do túnel para alguém perdido num mar de incertezas e solidão. Mais tarde descobri que a “lanterna dos afogados” é nome de um bar, no livro Jubiabá de Jorge Amado. Lugar onde as mulheres dos pescadores esperavam seus maridos com suas lanternas em punho na ânsia de ajudá-los a achar o caminho de volta.

Dizem que algumas em desalento há muito tempo, vagavam chorosas, mas sem expressão de revolta. Outras, ainda em desespero e aprisionadas pelo tempo, mantinham acesas as luzes e a esperança de ver seu amor voltar depois de meses, até anos. Triste mar de enganos. Eles nunca voltavam. Talvez a ideia da canção tenha surgido do livro. Não duvido.

Eu me vi assim, por alguns minutos, naquele farol noturno esperando uma embarcação que não vem. Um tempo que demora e não chega. Vendo uma tempestade próxima, num mar que desassossega. Só o refrão da canção veio me consolar...                          

Continuei no farol com o pensamento além do mar... Tocar o barco? Esperar? Pedir a Iemanjá para nos ajudar? Sei lá. Eu estava em Penha. No farol de águas calmas. Noite bonita. Sem viúvas aflitas. O que balançava era o instante imaginário dentro da alma aflita.

Olhei com doçura a luz do farol e reacendi a esperança nas águas renovadas que vinham do mar.  Como Herbert ou as viúvas em Jubiabá, cantei baixinho, pra eu mesma escutar... Eu tô te esperando... vê se não vai demorar!!!.

  

            

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segunda-feira, 6 de setembro de 2021

NO ALTO DA TORRE!

Eu tremia feito vara verde no alpendre, me esgueirando entre a parede branca e uma grade fininha que dava na minha cintura. Era o meu limite. Minha dose razoável de loucura. Havia mais dois ou três giros na escada em caracol para chegar ao topo. Eu dispensava. Queria só a parte suave. Sem sentir o fantasma que rondava dentro de mim, prestes a saltar. Além do frio na barriga e a falta de ar. 

Nasci com vocação dos pés voltados para o chão. No máximo, levo um tropeção. Mas tem gente que não afina. Busca o última gota de adrenalina. O voo mais alto. A viga mais fina. Vivem na vertigem. Amigos do perigo. Destemidos e devoradores de emoção.

Eu me contento com voos da imaginação. É em pensamentos que cruzo grandes penhascos. Mares e vales surreais. Nesse universo, os medos terrenos são  banais. Gigantes são os medos da alma. Invisíveis e abissais.

No topo da torre alta, de bela vista, abandonei os meus planos de conquista. Zero de heroína bacana. Covarde feito uma banana! 

E não é que um fedelho chegou correndo e sem medo foi até o último degrau? No alto e com os pés na grade, gritou feito Bonaparte... Eu sou o Rei!
Sorri e acreditei.         
A vida é um grande brinquedo para quem não conhece o medo.


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 KIT DOIS LIVROS INESPLICANDO MAIS A CANECA!

NO SITE PAPALE'S EDITORIAL