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terça-feira, 20 de julho de 2021

O FEITIÇO DA LUA!

Vinte de julho, bem no meu aniversário, um fulano americano fincou a bandeira na lua como se fosse sua! A lua foi vista nua e crua. Pálida e empoeirada. Sem ar na atmosfera. E com um tecido enrugado de crateras.

O astronauta impiedoso desalmou a lua dos nossos sonhos, Vimos na tevê o vazio abandono. Uma lua metade escura, sem sinal de água e de vida, ainda que branca e linda, vista de longe no escuro do céu.

De criança, deitada num pedaço de chão, eu ia até a lua e voltava num foguete imaginário. Pensamento aéreo, solitário. Gratuito. Expresso-rápido. Desviando de asteroides, deuses e pássaros. Eu chegava perto da lua, sem nela pisar. Bastava me aproximar. Sentir o brilho e a energia que encantavam as noites de luar. Lua amiga e antiga. Dona de raios e feitiçarias.

Depois que o homem pisou na lua, algumas canções perderam a magia. São Jorge e seu dragão partiram pra outro planeta. Não vemos mais a menina do anel de lua-estrela. E a Lua da Luiza, que boiava na estrada nua, não mais flutua. O homem do foguete, desencantou friamente a lua!

Não temos mais o que esperar. O homem faz bate e volta de lá pra cá! Tem até uma estação pra estacionar com taxi-lunar! Esqueçam as quimeras. Ir à lua, virou viagem de férias. Resort de ricos. Puro capricho.

Mas cuidado, astronautas, não sabem do feitiço e o altíssimo custo que terão de pagar.

“Quem na lua pisar, poderá dormir. Mas não mais sonhar”


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 ATENÇÃO LEITORES! 

AGUARDEM... NOVIDADES INESPLICANDO

PARA A PRIMAVERA!

terça-feira, 13 de julho de 2021

O PINTOR DA AURORA...

Um grande autor se diverte por detrás do planeta. Pinta o céu com ondas róseas. Outras vezes azuis, verdes ou violetas. Névoas que dançam e se espraiam num jogo de luzes no céu. Curvam-se como se valsassem, livres de linhas e pautas musicais. Quem acende aquelas luzes na escuridão polar? Quem é o pintor da aurora boreal?  

No meu telhado imaginário crio os mais lindos e gelados cenários. Alasca, Noruega, Escócia, Finlândia, Canadá. Dizem os cientistas que o sol manda elétrons raivosos em tempestades de ventos. Mas eles se chocam com o campo magnético da Terra que manda tudo pra escanteio. Eu creio! As auroras aparecem nos pólos e não no meio. É tamanha a beleza que deve ter alguém por detrás com certeza....

E o arco-íris, com suas sete cores, saindo das montanhas e mares feito um compasso, fazendo um semicírculo fantástico até o chão. Quem bolou? Quem pintou? É o sol depois da chuva o seu autor. Água, luz, cor, refração.

O rastro do navio na lua cheia também fascina. Caminho prateado cortando a imensidão. Trilho iluminado rasgando o mar em duas metades maciças. A lua é a solitária artista.

Quanto à aurora boreal... Jogo de luzes que pintam o céu em liberdade fria e serena. Deve ser Deus, brincando, com sua lanterna multicolorida... e todas suas luzes de leds acesas!   

 

 

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  "INESPLICANDO"

 Viaje na leitura...

 


 


terça-feira, 6 de julho de 2021

AS BALINHAS DO PADRE...

      
Era mágico e amedrontador entrar naquele prédio antigo e bem conservado do Colégio do Carmo. Portas maciças, grandes colunas e andares amplos onde os padres de batina preta cruzavam as alas com semblantes fechados e austeros. Meus irmãos estudavam lá!

Todos os padres eram sérios. Menos um. O Irmão Martinez! Quando me via, colocava a mão no bolso da batina e voltava com um punhado de balinhas. Ardidas. De hortelã, as minhas preferidas! Depois, com o indicador frente a boca, pedia o meu silêncio. Era doce o nosso segredo...

As aulas de exatas e ciências eram as mais fortes do colégio. Mas havia música e arte. E a peça dos alunos no fim de ano, um capitulo à parte! Eles mesmos criavam, produziam e ensaiavam. Geralmente escolhiam uma comédia cheia de graça ou uma sátira de terror. E rezavam para passar pela censura dos padres e do reitor.

No dia da apresentação, os mais velhos de batina assistiam na primeira fila, com muito orgulho e atenção. Logo atrás, os amigos, as famílias e eu, que não entendia quase nada, mas me divertia com o riso esparramado dos adultos... 

Quando eu cansava, o irmão Martinez percebia. Sentava do meu lado e tirava do bolso as balinhas santificadas. Tudo ficava mais doce e o meu medo de padre passava mais longe...  

Meu irmão confessou, certa vez, que sentiu muito medo ao falar com o temido e encurvado Padre Pedro. Foi na primeira missa de sábado, dentro do confessionário. Não tinha feito nada errado, restou inventar um pecado. Pecadinho. Bem levinho. Só pra não ficar chato... 

Depois, voltou com sua pena de sete Ave Marias e um pai nosso! Meu irmão disse que não pecou. Não sei se acredito. Ele voltou muito feliz com o castigo...

Pra mim, foi merecido!



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