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quarta-feira, 21 de março de 2018

DEVORANDO O PASSADO...

                        
Fotos antigas mexem comigo. Em especial, as do século passado.
Muito mais do que os carros e as construções centenárias, o que mais me fascina é olhar as pessoas perpetuadas nas imagens. Ficarão por lá. Eternamente nas fotos! Congeladas em papeis fotográficos. Enquanto eles resistirem ao tempo...
Muitas das pessoas flagradas, certamente já se foram. São fantasmas nas fotos. Sobrevivem apenas ali, na imagem capturada. O curioso é que a maioria delas, registradas ao léu, usava chapéu!
Homens e mulheres de chapéu. Até as crianças usavam chapéu. Meninas com casaquinhos de tricô, vestidos de renda e chapéu. Meninos de terno, lenço e chapéu! Pequeninos homens, tamanha seriedade de seus rostos. Nem pareciam garotos. Tinham a elegância dos antigos moços...
E nas fotos de praia, a rigidez de sempre. Nada que saltasse muito à vista. Retratos de uma sociedade pra lá de machista. Mulheres comportadas e inteiramente vestidas. Em países vizinhos, havia uma espécie de fiscal que media a altura entre os joelhos e o traje de banho( foto). Passando de quinze centímetros, multada pelo assanho! Já os homens podiam mais. Alegres e animados, com seus maiôs pretos ou listrados. Todos, igualmente, congelados!
E como devia ser difícil tirar foto naquele tempo... Tinha que ter um bom equipamento. Máquina profissional. E cara! Kodak era coisa rara. O fotógrafo tirava as chapas. Os negativos iam pro laboratório. E depois de minutos no quarto escuro, mergulhados numa bacia com um produto químico e luz vermelha, os fantasmas iam aparecendo no papel, lentamente...
Mal sabiam que ficariam presos ali, eternamente!  Ou até que as traças da gaveta os encontrassem. As traças adoram as fotos antigas...
E se fartam, comendo um a um, os fantasmas e seus chapéus!

*                                            *                                               * 
No link abaixo, a interessante matéria que mostra um fiscal, na praia, medindo a altura das roupas das mulheres, no século passado.

 
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quarta-feira, 14 de março de 2018

ENTRE DOIS PONTOS

Eu estava sem carro. Resolvi ir de ônibus. Logo no ponto seguinte, ela entrou. Cara gorda. Rosto redondo. Com um vestido largo e florido. Cambaleante. E carregando quatro sacolas cheias e semi-transparentes. Duas em cada mão.
Com muito esforço e ajuda, passou pela catraca para sentar ao meu lado, me espremendo junto à janelinha. O meu sorriso amável foi o ponto de partida...
 “Agora eu pego essas fraldas de graça lá no postinho. A moça já me conhece... Também! Alguém tem que ajudá. Já falei até com o bispo. Não posso pagá. O véio lá em casa ( imaginei, de cara, que fosse o marido...) tá morrendo na cama há uns três anos. Até xixi e cocô faz na fralda. Toma dez remédio por dia. Deve dá uns quinhentos conto. Eu posso? Posso não. E sabe de uma coisa? Não resolve nada. Você nem imagina o que tá dando jeito nele. Depois eu conto, (e continuou sem pausa) porque o menino não ajuda mais em casa. Foi morá com a coroa dele na casa dela ( imaginei que fosse o filho). E pra piorá, fez uma criança que tem problema...”  
Que problema ? ( interferi pela primeira vez, depois da interminável avalanche de fatos).
“Não sei não, minha filha. O menino não anda, não come, não fala. É uma doença de nascença aí. Pego leite de graça pra ele ( mostrando um dos pacotes). Mas o meu filho não liga muito não. A mulher cuida do filho sozinha e quando faz uns bico pra ganhar dinheiro, na segunda e na sexta, ainda me deixa o menino pra cuidá. Eu é que seguro tudo mesmo. Cuido do véio e do novo! Haja fralda pra tanto mijo... ( rindo alto no ônibus lotado).  Eu acho é que o meu filho tá de enrosco é com outra. A mulher diz que ele se perfuma todo nos fim de semana e sai de carro pra trabalhá. Ele é instalador de som. Vai instalá o que de noite? E o pior, é que ele sai com o chefe dele. Ou é gay ou tão atrás de mulher. Eu nem tô ligando se for. Só não quero que engane a coitada. Mas vou te contá... a mulher dele também não é santa não. Já namorou Deus e todo mundo. Até gente famosa! Sei lá de quem é esse filho...”
E antes que eu pudesse sugerir um exame de DNA ou dar um pitaco qualquer sobre toda aquela vida derramada em cinco minutos, ela olhou para o ponto na rua... “É o meu! Fui!” E saltou ligeira, arrastando todas as sacolas enormes com fraldas, remédios e latas de leite e saiu esbarrando em tudo e em todos.
Agora, eu não sei que doença tem o marido dela. Nem o que está curando o “véio!” Não sei porque o neto bebê não fala, nem anda. Nem sei se o filho dela é gay ou mulherengo. Muito menos quem é o famoso que saiu com sua nora...
Como é duro andar de ônibus.                                                             ******

NA UNIVERSIDADE UNIMONTE 

 EM SANTOS...


UM BATE PAPO COM ESTUDANTES ... "DO RÁDIO AO BLOG"...

 ABERTO AO PÚBLICO!

COM SESSÃO DE AUTÓGRAFOS NO FINAL!