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terça-feira, 29 de novembro de 2022

O SOL BRILHA... NO FINAL


Não era sol e chuva. Era chuva e sol. Eu sempre botava  a esperança no final. Assoprava as nuvens escuras com o pensamento e esperava o momento do astro rei voltar. Coisas de criança que a gente traz na alma feito as canções infantis. E a brincadeira tola de menina, hoje é a luz que me anima.

Vivemos tempos de contrastes. Nuvens escuras e poucos raios de ternura. Um vai e vem de esperança danado num universo todo bagunçado. Dias que viram noites. Chuvas gigantes. A gente balança. O coração se cansa. Nossa alma é castigada.

Nessas horas eu converso com as plantas e as árvores nas paisagens. Olho os pássaros que continuam parados, cantando sobre os galhos. O vento ventando carregando as folhas escuras. Flores novas despontam fortes e lindas. A vida segue sem guinadas. Amanhece no final de cada madrugada. E um grilo sozinho rompe o silêncio de uma noite inteira.

Recebi uma foto do céu emburrado e cinzento no fim de tarde paulistano, clicado da  janela. Entre nuvens e trovões, raios de sol alegres despontavam. Olhei a imagem que me provocava... Chuva e sol? Ou sol e chuva?

Primeiro a chuva. Deixo o sol pro final. Dispenso a viúva. Vou sem capa e guarda-chuva no casamento do Espanhol! 

E quando a humanidade me desanima com suas maldades e loucuras... eu procuro as árvores, as flores e os pássaros.                   A natureza me cura.


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domingo, 6 de novembro de 2022

A MENINA ESCONDIDA...

No meio de tudo. No lugar mais fundo. Num canto do mundo. Eu sentava junto à janela numa poltrona velha, com uns livros sem muito interesse pra ler...

A menina dos olhos de interrogação chegou do nada. Parou na minha frente, me olhando fixamente, com ar de preocupação...

O que você quer? Ela não respondeu.

De certo reparou meus cabelos grisalhos mal pintados. Meus óculos desaprumados. Há tempos tenho que ajeitá-los. Deve me achar velha, sessenta e poucos anos, meio matusquela, largada em pensamentos numa casa ainda caiada. Deve estar aqui para alguma empreitada...

Quer alguma coisa, menina?

De certo ela gosta de bolos de nozes, sorvetes, pudins... Eu não tenho feito estas bobagens. Ando comendo coisas ruins. Sem sabor, Nada de mel, pimenta ou sal. Não tenho delícias, não faz mal? A menina olhou sem reagir.

Quer ler comigo? Tenho estes livros repetidos. Os melhores emprestei ou devo ter perdido. Quer um copo d’água sem gelo? Isso ainda tenho para sobreviver...

Quer então um bom conselho ?

Cuide do joelho. A idade chega. E depois dos quarenta, evite o espelho. Todo dia ele assusta. O que não se diz, vira ruga. Mágoa, doença aguda.

A menina dos olhos de interrogação se aproximou...

Você quer é saber de mim? Seu olhar se abrilhantou.

Ando sonolenta, aborrecida. Já fui mais leve e atrevida na infância. Mas tenho ainda uma carinha de esperança lá no fundo que me lembra tanto você...

Quer me dar a mão, sair de casa e brincar no jardim?

A menina enfim sorriu, e correu novamente... pra dentro de mim!


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terça-feira, 1 de novembro de 2022

CARTA AO MEU IRMÃO...

Caro anjo, irmão. Eu prometi que não seria triste. Uma carta simples. Sem pieguices. Acabo de olhar sua foto de infância. Você abraça duas crianças. O primo e o irmão. Você abraçava todo mundo. Nosso porto seguro. Ainda me protege nessas bandas angelicais onde andas. Talvez, campos de lavanda? Casa entre nuvens? Atmosferas que não faço ideia. Continuo com meus pés aqui na Terra. Mas ouço daqui o bater do seu coração...

Olho suas orelhas. Eram de abano? Ou me engano? Com a idade melhorou. O nariz é que se curvou. Rinite alérgica. Você pingava duas gotas de remédio em cada narina. O lenço dobrado no bolso de trás era Presidente! A tia Zilda dava no Natal uma caixinha de presente.  

Eu prometi que não seria triste. Só levezas, lembranças banais, sem as partes que doem mais.

Toquei ontem o disco do James Taylor que você comprou com o seu primeiro salário. Capa branca. Ouvi por inteiro. Depois você deu o dos Beatles. Hard day's night! Você cantava alto demais. Às vezes, imito sua voz e desafino. Você não seria um bom cantor, mas batia um bolão, admito.

O uniforme do Paulistânia ficou comigo. Aquele verde e branco com meião encardido. Não lavo de jeito algum. Ficou com o formato do seu pé. O direito, torto de fazer gols. Você descrevia o lance por inteiro. Talvez fosse um bom narrador.

E aquela minha foto pequena que você levava na carteira, com rabinho de cavalo e um pintinho nas mãos, eu perdi. Ouvi um pio de tristeza aí de cima? Ou foi cisma? Prometi que não seria triste. Sem pieguices...

Você viu meus livros publicados? Dois só de crônicas como a mamãe e você gostavam. Em breve vou pro terceiro. Se der, mando um exemplar por um pombo ou anjo mensageiro.

O que está ruim mesmo é o mundo que você, sem desejar, nos deixou. Vírus, política, intolerância e guerra, em proporções estratosféricas. O ser humano vendo o mundo acabar e postando memes no celular. O que são memes? Não vale a pena explicar...

Eu prometi que não seria triste. Vou terminar a carta. Ou por aí tem email? Sei que essa foto sua, no meio da tarde... no campinho da rua, me atropelou de um jeito... 

Qualquer hora lhe vejo.... no meio das estrelas e lhe sopro um beijo!

 

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VEM AÍ... CRÔNICAS FALADAS INESPLICANDO. AGUARDE!