Entre as páginas amareladas e o cheiro de papel envelhecido encontrei a flor presa e amassada.
Era um arremedo de flor, aparência seca e desmontada, mas ainda flor, embora o tempo lhe tivesse roubado a cor.
Passei a mão com cuidado, como se acariciasse um pássaro frágil. Tentei lembrar por que a guardei. De quem era? Em que momento da minha vida ela se tornou importante o suficiente para ser preservada? Um silêncio alto na memória me incomodava.
Aquela flor sem história não me dizia nada e carregava uma aura de possibilidades. Lembrança de um encontro no passado? Onde as palavras foram sufocadas e nas páginas, lacradas? Uma paixão breve que se perdeu no tempo, mas deixou seu rastro leve?
Quem sabe, um presente da natureza! A flor caída no caminho se dissolveria num jardim vizinho eu não a deixaria para trás. O livro, então, tornou-se um cofre. Um abrigo onde o tempo não iria tocar.
Ou simplesmente por nada. Eu, criança, tentando esconder a flor roubada. Maldade infantil para ver, um dia, suas pétalas amassadas.
Seca, prensada entre as palavras, a flor guardou sua história dentro de outras histórias. O dia em que foi colhida, o calor e o 3sol que brilhava no dia que dentro do livro sumiu e hibernou.
Eu continuo olhando a flor dormente. Nós, humanos, somos assim. Guardamos coisas sem motivo aparente e esquecemos as mais importantes.
Fechei o livro. Deixei a flor onde estava. Quieta e deitada, sem interferir.
Não quis movê-la do lugar, como se respeitasse sua missão... de me fazer sentir.
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