O Parque era um labirinto. Ao invés do musical de
sereias cantantes, paramos num mini Zoológico com animais sonolentos e aborrecidos.
Era um espaço grande e todos, alimentados. O sol a pino e o calor escaldante deixavam os bichos mais lentos e entediados.
Os grandes, jogados
por sobre as pedras, como o urso e o leão, tinham um ar de melancolia. Eu os observava enquanto apertava meus passos e meu coração naquele enjaulado dia.
Avistei os flamingos, os macaquinhos e os nada pacatos suricatos. Muito alegres, um
barato! Quem me encantou de fato foi a elefanta, ou aliá. Eu
prefiro “elefanta”, o som do “anta” parece combinar com o movimento
alongado da sua enorme tromba. Bem longa. De grande e boa milonga. À procura de água para encher a tromba e se refrescar.
A estrela oversize começou seu lento caminhar em nossa direção. Havia um fosso, mas não era distante e
pudemos acompanhar o seu desfile exuberante. Uma massa grossa de fina graça que caminhava mansamente, desfilando suas centenas de quilos e pele enrugada. Balançava a tromba e a pênsil cauda. Parou em frente ao grupo e vaidosa, ajeitou-se para posar.
Cabeça
enorme. Olhinhos pretos e miúdos. Virou para um lado e
para o outro, moveu a tromba coçando delicadamente suas patas, esfregando a direita
na esquerda, num movimento leve feito balé. Senti ali a poesia de Drummond, quando dizia se fantasiar em frágil elefante de papel crepom e sair às ruas, desmoronando todos os dias.
Meu coração de algodão também se desmanchou ao ver no olhar daqueles bichos o desalento e a solidão. Na elegante elefanta, uma tromba colossal de calor.
E veio de repente, no
meio daquele mini zoológico escaldante, uma vontade nada poética e delirante de prender ali, ao invés dos bichos, os responsáveis pelo malefício.
Seguimos pelo Parque, mais perdidos do que antes, em direção às sereias cantantes.
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