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segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

AS SETE ONDAS...

Janeiro. A primeira onda veio. Olhei aquele mar imenso, senti-me lá dentro. No ondular tenso do ano inteiro. Vaivém de esperanças e incertezas. De janeiro à dezembro. Brasil das queimadas, alagamentos. Maré no começo. Pulei a onda sem receio.

A segunda onda chegou, com águas que vinham do outro lado do mundo. Trazia os mesmos sentimentos. Onda de extremos. Guerra por céu e por terra, triste atmosfera. Chorei na Ucrânia, Palestina. Mas não sabia hebraico, nem russo ou mandarim. Pulei rapidim.

A terceira onda chegou. Trouxe as queixas e o troco da natureza. Vieram nas águas, plásticos, tampinhas, além de flores brancas e garrafas. Não gritei, nem me indignei. E de tanto que me calei, me envergonhei e pulei essa onda também.

A quarta onda veio e era virtual. Entrei na rede e naveguei, mas presa, felizmente não fiquei. Preferi olhar o real e a natureza. Apenas postei, curti e pulei.

Na quinta onda vieram peixinhos. Trocamos olhares rapidinho. Era raso. Dei um aceno abrindo os meus braços e os cardumes ligeiros partiram com receio. Pulei também.

Na sexta onda eu entrei de corpo inteiro. Queria sal grosso limpando o corpo e a alma. Tirando o ranço desse ano de muitas desgraças.

E a última onda, enfim, foi chegando. Era onda pequena. Miúda. Mas foi crescendo. 

Tinha uma crispa branca de espuma. Dobrei os joelhos. Olhei para as estrelas. Fiz o meu pedido e voltei pulando feito criança. 

Ah, essa onda chamada esperança.

Ainda hoje recomeço. Novinha em folha. Com força e sem muito celular.

Temos um mundo real pra consertar! 

 

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quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

AS RABANADAS DA VOVÓ...

Alguns itens nas receitas vão se perdendo no tempo, aqui e acolá. Outros ingredientes são danados, incorporados em certo momento, se perpetuam no lugar.

Eu continuo fazendo as mesmas rabanadas portuguesas que minha mãe fazia nas tardes quentes próximas do Natal. Separo as fatias grossas de pão velho, o leite açucarado num prato raso e os ovos batidos na velha tigela. Depois frito em óleo quente, salpicando levemente açúcar e canela. Faço assim há décadas. De olhos vendados. Reproduzindo a velha cena, de um doce passado materno.

Foi uma surpresa provar na casa de uma portuguesa autêntica uma rabanada diferente, oferecida gentilmente para todos à mesa. Mais dura e com o pão escurinho, por conta de um creme com vinho. 

Eu que nunca usei vinho! Minha mãe também não. Será que a vovó subverteu a receita e não nos contou?

A origem das rabanadas aguçou minha curiosidade junto com  minhas papilas salivadas, de tal maneira que fui pesquisar as primeiras rodelas servidas nas ceias de Natal. Seriam minhas rabanadas réplicas simples e abrasileiradas?

A origem é mesmo europeia. E muito antiga. As entregas? Talvez com charretes, em meados do século dezessete! Foi criada para aproveitar pães velhos e amanhecidos e se tornou alimento sagrado no Natal por representar para os católicos, o corpo de Cristo. Alguns dizem que a origem é francesa e não portuguesa. Prefiro crer ser lusitana.

Fui aos risos ao saber que lá são chamadas de fatias paridas ou fatias douradas. 

Pode-se usar cacetes ou bengalas amanhecidas. E nas receitas portuguesas mais sofisticadas, usa-se o vinho! Achei o danadinho. Acho que a vovó usava e a mamãe cancelou sem dizer nada.

Seja qual for a receita original,  sempre respinga na gente um ingrediente ancestral, além daquele pingo de óleo quente no braço que é fatal.   

É a lembrança das tardes doces e quentes. O meu coração,  embebido em leite, respingou no meu peito uma saudade de dar dó.

Rabanada. É o açúcar da mãe. E  sabor da vovó!

 

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segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

AUSENTES PRESENTES



A saudade é, na alma, uma leve lanterna. Ilumina os cantinhos escuros, quando a gente menos espera.
Feito uma criança malcriada que passa e abre a gaveta trancada. Depois sai correndo deixando escorrendo a saudade e as lembranças guardadas, ainda machucadas.

Meu irmão mais velho gostava dos Beatles e nos Natais ele cantava. Com notas semitonadas. Soava lindo aos meus ouvidos. Agora, é uma saudade desafinada.

Do meu pai, lembrei ontem no almoço pedindo um pedaço de pão. Seu sotaque italiano insistia em falar “pon”.  Deu um nó na garganta e no coração. E assim a saudade vai pegando a gente no caminho. Pega no cantinho. Pega pelos olhos. Pelos colarinhos.

Este ano, foi no canto final da sala, montando a árvore de natal. Com as mãos hesitantes e a voz meio rouca. Em cada bolinha presa, uma lembrança solta. 

O sorriso da vovó e seu vestido florido. O presente repetido que a tia reembrulhava todo ano. O drink azul da cunhada, com curaçao e açúcar. A mãe com seus abraços de ternura. A gente não se dava conta como era boa aquela quentura.

No final da montagem, a árvore ficou pronta! Mas antes de ligar as luzes,  um suspiro profundo veio da alma e um instante de calma e a constatação... dolorida e reticente.

A cada ano, mais lembranças, menos entes. 

Estão ausentes. Mas, ainda tão presentes!


 *                 *                   *    

                                                                              
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segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

NUM PISCAR DE OLHOS



Foi numa quinta de manhã. Na hora de ler a minha receita preferida naquela página toda amarrotada, com marcas de gordura de chocolate em barra. A folha mais manuseada do caderninho, guardado com carinho e à sete chaves na gaveta da cozinha. 

Olhei firme para a página e todas as letrinhas, tal qual os ingredientes do bolo, haviam se misturado no liquidificador. O texto todo, repleto de medidas, itens e pequenos parágrafos se transformou num único bloco. Nebuloso e compacto. Ilegível e incompreensível, feito um tratado em aramaico.

Esfreguei os olhos e afastei a mão que segurava o papel. Afastei mais. Mais um pouco. Fui perto da janela. Quase peguei uma lanterna. Veio então a constatação. Não conseguia ler! De um dia pra outro. Num piscar de olhos. Eu não enxergava mais as letrinhas e coisinhas miúdas. E elas eram tantas... nos rótulos. Nas bulas. Nas tampas. Contratos e boletos à pagar.

Dr Luciano, meu oftalmo, disse que é assim, um grauzinho por ano depois dos quarenta. Ele está certo. Meu olho esquerdo já passou dos três. A coisa é rápida. Mas o que é rápido mesmo? Relativo, diria o grande cientista judeu-alemão, mostrando a sua língua na foto, com toda razão. 

Por trás de cada mudança, um processo interno e particular de perdas e transformações já vem engatinhando. Muitas vezes, silencioso e invisível. Porém contínuo e implacável. Inevitável com o correr dos anos.

Nascemos, crescemos, criamos filhos. Escolhemos caminhos. Acertamos. Erramos. Duvidamos. Voltamos e recomeçamos. Assim, seguimos cambaleantes e exaustos. Com a alma cheia de sustos e sobressaltos.

Então, feito fruta madura, numa tarde dura, a gente amadurece e cai. Não dá pra saber quando vai. É o ponto xis. O piscar de olhos! 

É quando de repente nos percebemos mais velhos. Mais feios. Mais arqueados. Mais sábios, talvez.

Porém ingênuos. Acreditamos que tudo foi... num piscar de olhos! Ah vai...

 

 

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foto: cromossomosblog 
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quarta-feira, 20 de novembro de 2024

ACORDANDO COM PASSARINHOS...


Avistei, sonolenta, pela janela... Biquinhos, saltitos e penas! A felicidade plena. Ao nível de um habitante do Butão. Aquele país próximo ao Nepal, onde as pessoas não desejam quase nada. Não há muito mais o que desejar. Onde a brevidade das coisas está sempre presente. Onde a mente, simplesmente, repousa serena e feliz.

A felicidade tinha asas e pousou junto com os dezoito passarinhos que avistei. Logo de manhãzinha, na grama do jardim do pequeno paraíso verde onde me recolho aos finais de semana. Dezoito! Contados. Um a um. Capitão do mato, pardal, sabiá, bem-te-vi! Sem contar os colibris. E as borboletas azuis e amarelas que rodeavam alegres e belas, o mini-flamboyant vermelho em frente à janela. Aérea pintura. Leve aquarela! 

Outros bichos também moram lá. Donos do pedaço. Um casal de quero-quero que insiste em nos tocar de lado quando atravessamos sua área, bem no meio do caminho que leva à casa. São bravos os danados. Um tanto mal-humorados. Temos sempre que lembrá-los que adquirimos o terreno legalmente. Que eles tem o direito de lá morar se quiserem e nos derem a mínima chance de um convívio pacífico. São tão ariscos!
     
Nos afeiçoamos também a mais dois estranhos bichos. Um saruê feio e meio pelado. Espécie de gambá do mato que dorme largado entre dois ou três galhos da árvore. É tranquilo, gordo e folgado... E um lagarto que cruza lentamente a área verde e segue em direção ao vizinho. Um terreno de mato fechado com arbustos e espinhos. Talvez prefira o solo rude e natural. Denso matagal. Como devia ser o local antes da chegada da minha casinha branca, com pergolado, deck de pedras e cascata artificial! O lagarto passeia por lá, exibindo seus tons marrons de outono. Sabe que não vamos enxotar o legítimo dono...

Tudo nesse paraiso é calmo e reconfortante. Mas no final do ano, por conta do trabalho, não deu pra passar as festas nestas terras verdejantes. Tivemos que ficar na cidade, em clima bem diferente. Espocar de fogos, gritos e gente! Pedidos e desejos evocados ansiosamente. Novos planos. Desafios. Metas exigentes! 

Péra lá! Por que raios alguém que já tem o que precisa, quer mais o que conquistar? Quero é ficar parada. Sentada no meio do jardim. Olhando os passarinhos e o mini-flamboyant vermelho....
Por meses... O ano inteiro...  Quem sabe, milênios...



*                              *                                *                         



Para saber mais sobre o Butão * um país localizado no sudeste da Ásia, ao sul da China. O país é famoso por ser minúsculo, e pela genuína felicidade de seus habitantes. Qual é o segredo deles?...   leia em:
https://www.contioutra.com/10-coisas-que-o-povo-butao-faz-diferente-e-que-faz-dele-o-povo-mais-feliz-mundo/



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quarta-feira, 6 de novembro de 2024

AS VELHAS BOLINHAS AZUIS...


Todo ano é igual. Nunca sei ao certo o dia de montar minha árvore de Natal. Vinte de novembro? Um mês antes? Primeiro de dezembro? Ainda bem que alguém estabeleceu o dia seis de janeiro para o seu desmonte. Aí é moleza. Sem incertezas. Sem muito pensar.  Quanto às bolinhas velhas dos anos que passaram, para mim continuam sendo um dilema. Não consigo me desvencilhar.

Não sou de acumular coisas. Guardar papeizinhos, caixinhas, vidrinhos e coisinhas materiais. Pra ser sincera, nem documentos importantes eu guardo. Muitas vezes, somem e nem dão sinal. Mas com relação às bolinhas de Natal, bate uma coisa, sei lá, sentimental. 

Tenho seis ou sete bolinhas azuis muito descoradas. Desbotadas. Feias de fato. Mas que não consigo desprezar. Todo ano é o mesmo movimento. Armo a árvore. Compro bolinhas novas. Modernosas. Com glitter. Purpurina. Laços de fita. Mas na hora de jogar fora as azuizinhas... Velhas e desbotadinhas. Vem aquele aperto.O coração encolhe, vira bolinha dentro do peito. E me rendo às recordações.

Estiveram em tantos Natais com a gente. Ouviram canções em coros estridentes. Viram nossos olhos brilhando a cada presente. E à meia noite, os abraços mais quentes. Como posso jogar fora por estarem velhinhas e desbotadas? Que santa desalmada!

Um ano até tentei. Coloquei no cesto da lixeira. Mas logo resgatei. Que loucura! Jamais desta maneira.Vou dar para minha mãe. Ela enxerga pouco, quase nada. Não iria se importar com as bolinhas desbotadas. Que nada! Rejeitou de cara. Oras, filha. São tão baratinhas. Troca todas as bolinhas! 

E lá trouxe eu de volta, as bolinhas feinhas e azuizinhas para casa. Este ano, pensei em não colocar na árvore e deixá-las na caixinha. Mas é discriminar do mesmo jeito. O meu dilema continua. E antes que eu tenha que fazer muita terapia... 
Alguém quer ficar com as minhas bolinhas?


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sexta-feira, 1 de novembro de 2024

FINADOS, MAS NÃO!



Olho com ternura e delicadeza as fotos da família espalhadas por sobre o velho piano. Consigo ver o nariz aquilino da avó, na bisneta já crescida. As duas tão lindas! E os olhos verdes da tia avó? O mesmo da prima distante. Preciso visitar urgente aquela gente. Saber se tudo está bem. Quantos filhos eles tem... 

Vejo agora, a testa alta e a calva acentuada do avô, no meu pai. Do meu pai, no meu irmão. Eles não gostam dos sinais. Ficam todos iguais. Avô, neto, filho e pai. Carimbo da geração. Carecas, com muito bom humor...

Paro um pouco mais na foto do meu irmão mais velho. Já foi tão pequeno um dia. Está ali, criança miúda. Roupa de batismo! E que sorriso... 

Ah, as fotos antigas, desfiam um enorme novelo. Tristes e alegres enredos. Importantes e agora, inúteis segredos. Histórias de descendentes imigrantes. Uns sobreviventes. Outros vivos e ausentes. Muitos, já partiram. Mas continuam nas fotos, altivos e sorridentes.

Estranho. A enorme e silenciosa paz que me invade quando olho com saudade as fotos de família sobre o velho piano, agora desafinado. Castigado pelo tempo e pelos dedos cruéis dos bisnetos levados. Sinto nas fotos uma espécie de perdão coletivo. Dos erros cometidos. Dos gestos sem sentido. Das mágoas sufocadas. Que ainda embaçam e deixam mais triste a imagem de alguns personagens. Bobagem! Estão mortos. Eu é que viajo nos parentes idos e suas marcas de passagem. Parecem ainda presentes. Dentro e fora de mim. Numa espécie de tatuagem que salta nas asas dos querubins. 

Minha mãe e seu vestido de noiva com enchimento e tecido de cetim. Meu pai com o filho nos ombros, no jardim. Meu querido irmão que já se foi... Paro nele alguns minutos. A morte não dói. Nas fotos, ninguém mais sente.

A  saudade é que dói... ela é presente.  


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quinta-feira, 31 de outubro de 2024

O SAPATO DA MARIA...

A criançada se juntava debaixo da velha escadaria. Não havia lugar melhor para ouvir histórias de medo contadas em segredo pela tia Zilda.                                   

O sapato da Maria era a nossa preferida. A luz na saleta, sempre fraquinha. Só a lâmpada da cozinha dando um tom amorcegado ao ambiente escuro e pálido.

Tia Zilda contava a história da pobre Maria, empregada por uma mulher rica e de miserável coração. Era quase escrava em sua mansão. Ganhava muitos insultos e pouco tostão.

Maria não desistia. Tirava dali o sustento para cuidar dos seus pais doentes. Um enredo triste demais que se desenhava em nossas mentes. Uma megera impertinente, de verrugas peludas, cheirando a mofo e resmungando contra as paredes.

Certo dia, a cruel senhora foi enxotar um cãozinho que lhe pedia comida e carinho. Ao sair correndo atrás do cão, atravessou a rua sem atenção e foi colhida por um caminhão. Era horror e tragédia. A criançada vibrava, sem piedade, com a ideia.

No enterro da mulher, a família agradeceu à Maria tamanha dedicação. - É justo que leve uma recordação! Maria lembrou da festa da família e que só tinha um chinelo de dedos remendado nas tiras. Pegou de presente um fino sapato de salto alto e levou para casa, colocando-o debaixo da escada.

Passados três dias, Maria dormia, quando ouviu o som de passos se aproximando. Encolhida nos lençóis, tremeu todos os dentes já imaginando em prantos quem era. O fantasma da patroa queria de volta o que era dela! 

Tia Zilda então mudava o tom da voz e tremulava feito fantasma, soltando a frase que a gente tanto esperava... - Maria, me dá meu sapato! - Maria, me dá meu sapato! Maaariaaaa...  

E um par de sapatos caia bem no meio da roda, jogado do alto da escada. Tudo orquestrado. Era criança pulando pra tudo que é lado.

Todos previam o momento. A hora de soltar o grito que vinha de dentro. 

A história se repetia. A gente sabia de cor, mas pedia e pedia: 

- conta de novo, tia... a do sapato da Maria!

 

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quarta-feira, 23 de outubro de 2024

A GRAÇA, DO JINGLE.


A ideia nasceu pronta. Como se soubesse desde sempre o caminho e esperasse o momento certo de acontecer.

Às vezes é assim. A gente tem a sensação que a criação foi feita nas nuvens e a gente trouxe aqui pra Terra.

O jingle da Graça telefones, o mais famoso e sem medo de errar, o mais tocado nas décadas de 80 e 90 no rádio santista, nasceu assim. De bate pronto.

O Boka era o meu amigo músico da faculdade. Foi ele que me convidou para fazer a peça publicitária. Tínhamos vinte e poucos anos. Curtíamos as mesmas músicas e bandas. Ele já tocava bem o violão e eu ainda arranhava uma ou outra canção. Às sextas feiras, havia música no corredor da faculdade. Sexta Super. Lá começou nossa amizade.

Que tal fazer um jingle, loira? Você bola a letra e eu coloco a música. Não tem ninguém aqui em Santos produzindo jingles. Topa?

O convite foi mágico. Cheguei em casa com um pedacinho de papel escrito à mão com caneta Bic... Graça Telefones. Instala em três dias. 378537. Repete. Peguei o velho violão herdado do meu irmão da época da faculdade de Medicina, que conservava como prova da sua trajetória vários esparadrapos grudados na tampa e comecei a dedilhar na cozinha da casa, sem ninguém pra ouvir ou palpitar.

Meu gosto musical sempre foi pop rock. Mas ideia que vem fácil a gente não rejeita e me veio à cabeça um samba de breque. Surpresa!

Imaginei um cliente querendo comprar uma linha telefônica (na época era cara à beça uma linha) e mandei um dó maior...  

– ALÔ! EU PRECISAVA DE UM TELEFONE!

Daí pra frente a sequência veio vindo. Alguns acertos aqui e ali e em meia hora eu já tinha dado à luz na folha de papel, à letra que viralizou.

No dia seguinte mostrei para o Boka. O jingle tinha o lance comercial e ele deu toques refinados no instrumental. Ficou redondo. Fácil de cantar. E o telefone repetido duas vezes, como pediu o cliente, tinha tudo pra grudar nas mentes.

Agora só faltava gravar. Mas onde?

Na rádio Tribuna não deu certo. Partimos para o Heavy Metal, casa de shows que sacudia a cidade com o rock nacional do momento.

Foram horas de ajustes nos equipamentos. Fios invertidos, microfonias e dez versões gravadas. No final da noite, um ruído indefinido apareceu do nada e o trabalho foi desperdiçado.

Vamos gravar no Estúdio do Blow Up. Ou vai ou racha!

Lá fui eu e o Boka, com a ajuda da banda amiga, para a nova empreitada.

O Luigi, um cara tranquilo, cheio de filhos e que tinha uma livraria no Gonzaga, dividia comigo a cantoria. Tinha que gravar tudo junto numa só gravação, voz, instrumentos e locução. Sem cortes. Sem erros. Sem discussão.

O saudoso *Robson pediu silêncio. Um, dois, três... gravando! Numa só levada, o jingle saiu por inteiro.

-"ALÔ! Eu precisava de um telefone. Quando um amigo indicou seu nome. Quero saber qual a ligação, muito prazer, satisfação! Pra colocar você na linha, eu tenho um plano que é uma gracinha. Financiado e com garantia, pra instalar leva só três dias. Seu telefone vai fazer assim... tirrim tirrim tirrim tirrim! 378537. Repete... 378537. Promete. Não desligar de mim. Promete, não desligar de mim! GRAÇA TELEFONES, com você sempre na linha!"

Jingle pronto. Em pouco minutos. Ficou com quarenta e cinco segundos. Era longo, mas na época era fácil negociar com as emissoras.

Não tinha quem não cantasse. Até hoje, encontro por aí alguém que lembra da letra e do refrão. Anunciantes mais antigos usam o jingle como referência na hora de fazer suas peças publicitárias.

Simples. Simpático. Artesanal. Coisas que acontecem. Sorte, ou acaso?

Sei não. Só sei que virou Hit! ALÔ!...


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*Robson Melo, querido amigo, guitarrista e backing vocal da Banda Blow Up.

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QUER RECORDAR O JINGLE?

ouça aqui no CANAL INESPLICANDO  You Tube.

https://youtu.be/OwAlkaDVGaY?si=0hbXqpeSrx4KS8DO

 

 

 

 



 


quarta-feira, 16 de outubro de 2024

CASA EM CONSTRUÇÃO

 

Nada se parece mais com uma casa em ruínas, do que uma casa em construção. Essa frase, repetida alegre e diversas vezes pelo Dr. Pio, velho amigo da minha família, levei comigo para a vida adulta e hoje posso cravar que ele estava certo! Concordo plena e profundamente.  

Vítima de várias reformas e construções, às vezes mais duradouras que os profissionais que contratei, percebi que sempre é preciso destruir mais um pouco. Quase sempre é preciso destruir tudo, para erguer o novo.  

E como é duro olhar para os tetos arrebentados, os forros arrancados, pisos destroçados e dividir com o que restou e os pedaços de lembranças e o mesmo espaço. São caquinhos, pó, aborrecimentos. Tempo, dinheiro, cimento e cal. Ruínas. 

Sem falar nos ajustes que temos que fazer. Dormir em outros lugares. Criar outros espaços. Cozinhar na sala. Dormir no corredor. Sair do alto da cama para deitar humildemente no colchonete, jogado num cantinho qualquer do chão. A casa, em construção.

Tão sucateada que foi com o tempo e as intempéries. Desabamentos. Desalinhos. Fendas. Corrosão. A tinta fraca, feito alguns sonhos, a chuva foi quem levou.  

Mas chega, então, a hora de reformar. Construir algo novo. Sem adiar. Chama o engenheiro. Chama o pedreiro. Chama o encanador! Uma nova empreitada vai começar. 

E como tudo, a reforma é também passageira. Um belo dia, o cimento rejunta, o piso se emenda, a tinta seca e a casa fica fantástica! Raros, os vestígios do que ela já foi. Só a sombra na parede, de um prego que machucou mais fundo. 

E o Dr. Pio estava certo. Nada se parece mais com uma casa em ruínas do que uma casa em construção. Falou com a sabedoria de quem reformou muitas vezes a sua casa. 

E a vida!

 

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terça-feira, 15 de outubro de 2024

O TOQUE DO MESTRE


 A Avenida Paulista era um mar de gente às sete da manhã. Eu, com a pressa dos meus dezessete anos, carregada de livros, cadernos e planos entuchados numa mochila azul marinho, corria para chegar a tempo na aula do cursinho. O "Vaticano" era a aula na sala de maior tamanho, onde eu me juntava a cento e cinquenta vestibulandos sonolentos como eu e que iam acordando lentamente, à medida que a aula ia passando.

Eu não sabia ao certo porque tinha escolhido o curso de biológicas. Talvez, por ser o mais forte. Ou por influência da professora de ciências. Uma japonesa brilhante em quem eu me inspirava na época do colégio. Aprender com ela foi um privilégio.

Naquela sala gigante, eu ficava com meus sonhos, espinhas, colinhas, letras de canções americanas e algumas tarefas estranhas. Física, matemática e a mais terrível de todas... a química orgânica! Eu detestava química orgânica. Meu Deus, para que serve o benzeno? Sei que tem seis ligações, ao menos.   

Foi num dia de Vaticano que o toque iluminado de um anjo ou arcanjo aconteceu. Ele nem percebeu. Foi um toque de mestre. Toque divino dado com carinho, no meio da aula de português...- o que faz aqui, cara Inês?

Era o professor Arlindo que descia do púlpito e vinha até a minha cadeira mexer com minhas certezas e mudar uma vida inteira. Parado ao meu lado, enquanto todos se preocupavam com os textos de interpretação, ele segurou o meu caderno em suas mãos. Olhou as folhas soltas. Rabiscos pelos cantos. Letras dos Beatles. Frases importantes que eu guardava e nem sempre lia. Coloridos celofanes e poesias.

O mestre foi direto, com sua voz literária de velho conhecedor...     - Tens alma canceriana! Nesta sala de biológicas? A quem enganas? Você é de humanas! E apontou meus rabiscos, meus textos e os inclinados traços artísticos.

Ainda hoje sigo escrevendo, rabiscando, inventando, contando histórias e crônicas do meu tempo... Culpa do toque certeiro. 

Valeu, Mestre Arlindo! Eu não gostava, mesmo, de benzeno.


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quinta-feira, 26 de setembro de 2024

A SANTINHA DO RELÓGIO

Foi uma breve caminhada, passando em frente à Igreja Coração de Maria na Avenida larga e movimentada.

Junto ao poste, no meio de entulhos amontoados, portas e armários quebrados, eu vi o belo oratório. Madeira escura. Detalhes em barroco. Agonizava entre os trecos e objetos largados. Dispensados pela igreja sem chance de restauração. Dei quatro passos adiante sem pensar no resgate. A ideia de revirar toda a tralha, no meio das pessoas na avenida ensolarada era impensável.

Não pensei. Fiz. Feito um cãozinho farejador e voraz fui revirando a coisarada até puxar a peça cobiçada sem olhar para os lados, levando pela mão por três ou quatro quarteirões até chegar em casa.

A peça era quase perfeita. A embúia, com entalhes frontais sem nenhum dano. E na parte de dentro, ao invés da santa que julguei ter quebrado ou sido roubada, uma espécie de corda de alumínio enrolada. Corda de relógio! Santo engano. Mas com um pouco de arte e fé, um oratório poderia ser criado.

Retirei a corda do fundo e saí para encontrar uma santinha que coubesse lá dentro. Que santa é essa, azulzinha e de olhos pretos? O vendedor não soube dizer... É a Santa do relógio? Brinquei. Ele concordou, interessado em vender. É sim. Dizem que é milagreira.

Nesse instante ela virou a santa do relógio. Ficou na parede no seu novo oratório num cantinho especial da minha casa. Algumas visitas perguntavam como ela agia. É senhora do tempo! Adianta o que tem urgência de ser e faz retardar o que precisa de mais tempo pra se resolver.

Assim foi por anos o nosso segredo. Amigos ligavam pedindo ajuda pra minha santinha do Tempo. Talvez tenha sido um pecado. Mas se ela fez algum milagrezinho, já está pago.

Angela não conhecia a história e cuidava da casa quando derrubou o oratório que quebrou em duas partes. A santinha do tempo partiu em mil pedaços. Nunca mais achei uma imagem parecida.

Hoje o oratório está no sítio da família. Restaurado por meu irmão que lhe deu novos contornos, tintas e uma pátina rosada com efeitos. Colocou um terço e uma Nossa Senhora de Lourdes dentro.

Até quando vai durar? Não sei. Quem sabe é o Deus do tempo. Sei que entra santa e sai santa e o relógio abandonado continua um oratório. E boto fé... é milagreiro!

 

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sábado, 21 de setembro de 2024

PASSARINHOU, FLORESCEU, FLORIU...



Abelhinhas fartas e meladas entraram valsando pela janela aberta como se tivessem cumprido seu grande papel. E pelas asas de alegria, devem ter produzido um ou dois baldes de mel. Chegaram as borboletas azuis, amarelas e pretas. Sabiam de alguma novidade. Largaram, amarrotadas, seus escuros casulos e pela primeira vez, experimentaram voos mambembes e inseguros à luz da liberdade.  
      

Os curiós, curiosos, foram os primeiros a saber. Não deram um pio. Um deles fingiu que não me viu. Comecei a desconfiar de alguma notícia mais quente. Os bem-te-vis bem-te-viram bem antes de todos que as paisagens estavam diferentes e entoaram notas de terças numa eloquente harmonia sertaneja.

 

A grama estava mais verde. Sapos pulavam. Insetos voavam. Nos cantos, bichinhos doidos se embolavam. E sem pudor se amavam. Que raios acontecia ao redor? Quem espalhava esse tanto de amor? E sacudia poléns afrodisíacos nas florações?

 

O bem me quer não bem me quis estragar a surpresa. Melhor perguntar à mãe natureza. Fui até o pé de milho. Sussurrei ao pé do seu verde-amarelo ouvido... quem é que arrancou o terno cinza e vestiu todo mundo com traje florido? 

O milho pipocou e não falou. O dente de leão rugiu, mas não contou. Nem o vento quente que bateu, me soprou. Alguém pode dizer o que foi que rolou? Tudo desabrochou. Explodiu de amor...


E debaixo da janela, a Maria sem vergonha, tagarela não se segurou... ainda não sabe?

A primavera... que chegou!



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quarta-feira, 28 de agosto de 2024

A TRAVESSIA DAS CAPIVARAS...

Uma grande família, em fila e muito comportada, atravessava a pista de asfalto da perigosa estrada. O motorista se desculpou da brusca frenagem mostrando a placa: - Pare para as capivaras!

Antigas habitantes de Itaipu, as capivaras foram despejadas do local durante a obra da usina monumental. Uma gigantesca manobra para desviar o rio que feriu gente e desinstalou centenas de espécies e animais silvestres.

Hoje, as poucas capivaras que sobraram são prioridade. Quase santidade. Uma espécie de reparação tardia. Os bichos pacíficos parecem sempre lembrar do triste desfecho familiar e passam altivos pela estrada que já foi sua casa, agora sem medo. Às vezes param para um descanso ou um clique de algum turista no meio do passeio. Sem constrangimento.

Terminada a travessia dos bichos, seguimos até o destino, a Usina de Itaipu. Buracos feitos por tatus, de aço. Imensos. Dentados. Detonadores, tratores e explosões a todo tempo.

Milhares de ajudantes, engenheiros, pedreiros e boias-frias unidos pela coragem e o cansaço dos intermináveis dias. 

Assim as barragens foram erguidas. Usina construída. Abastecendo o país. Não mais abrigavam os animais gentis.

O espetáculo das luzes às sextas feiras para os visitantes de Itaipu é poderoso. Pouco a pouco, cada ponto da barragem é iluminada, ao som de uma música forte e orquestrada.

Os motores da usina estavam desligados no dia de nossa visita. Maior seria o impacto se estivessem jorrando os milhões de litros de água. A plateia aplaudiu no final, energizada, diante da tecnologia apresentada.

A usina gigante iluminada deixou nossas sensações mega ativadas. 

Voltei impressionada. Mas nada, nada se comparou... 

à travessia tranquila... das mansas capivaras. 


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quinta-feira, 1 de agosto de 2024

O CONTEMPLÁRIO...


Sempre imaginei o paraíso em azul e branco. Um imenso oceano com  águas tranquilas, esparramando espumas na areia  fina de uma praia deserta... Isso foi até visitar o Contemplário! Acho que me enganei todo esse tempo. As almas voam mais livres por aqueles campos...        
Sem falar do cheiro fresco das quatro estações que estão todas ali reunidas  e espalhadas no ar. Eu me perdi naquele lavandário na Cidade de Cunha, como quem se esquece no tempo. Eu, que nem sabia o que era um lavandário. Nem a cor e o cheiro das lavandas. Azuladas, mais para violetas! Vivas, com o balançar do vento.  
Foi no meio da plantação que um visitante perguntou quem era o dono daquilo tudo. - Henry! Veio a resposta. Um homem que se encantou com as terras onde o por do sol era o mais fantástico daquela região de montanhas. Resolveu plantar as lavandas e diante de tamanho presente da natureza decidiu dividir com todas as gentes aquela riqueza. Além de dar chance para os locais oferecerem seus produtos de lavanda numa espécie de loja-cafeteria que fica no alto do campo com vista para o grande espetáculo. 
Ah, e havia o biscoito de lavanda com uma pequena xícara de café fumegante vendo o sol se por. E o melhor ainda estava por vir...  
O Contemplário mesmo, onde a mirada é de paraíso, é um simples trapiche de madeira onde o vento bate no rosto e os olhos se enchem de cor. Campo dos sonhos e coisas santas. Paraíso azul-violeta onde moram as lavandas! 
Mas no fundo eu sabia que o Henry não era o dono daquilo tudo.  
Quando eu estava indo embora, olhando as lavandas ao sabor do vento, o sol batendo nas flores, realçando suas cores, descobri a quem pertencia.
Àquela que beijava as flores todos os dias. Que via o sol se levantar... e o sol se por. Que percorria o campo saudando as lavandas de um lado para o outro, livre, como as almas no paraíso.
Era uma abelhinha. Uma pequena abelhinha... que piscou para mim!


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quarta-feira, 31 de julho de 2024

A SAIA CINZA...



A saia cinza chumbo era tão curtinha que as garotas subiam as escadas, engraçadinhas. Segurando firme, com uma mão de cada lado. No corredor, risos abafados. E os garotos, eram só garotos. Olhando as meninas e suas saias curtinhas. Enfeitando o pátio. Colorindo as esquinas.

Logo vinha a campainha. As meninas e suas saias entravam na sala de aula, cada qual no seu lugar. Eu sentava na carteira da janela. Virando as pernas para o lado. Bem juntinhas, com medo de um lance mais descuidado. 

A aula de História passava voando. A de matemática, durava cem anos. E vinha a campainha do meio. Intervalo. Recreio! As sainhas se alvoroçavam. E as pernas das meninas corriam ligeiras e finas, rumo à cantina. Entre lanches e lances. Canções e romances. E na hora de sentar nas escadas. Mãos nos joelhos, meninas! Alguém olha lá de baixo, se não está aparecendo nada! Todas aliviadas... Ajeitam os cabelos, trocam confidências, sorriem por nada. 

As saias eram a nossa cara. A preocupação despreocupada. O vacilo que não dá em nada. Só risos e apostas. Quem sabe, uma ou outra calcinha à mostra. Os garotos eram só garotos. Com olhares de rapina. Devorando as pernas das meninas. Com aquelas saias curtinhas. Saia de prega. Cinza Chumbo. Cinto vermelho, de fivela. 

No dia seguinte, a educação física era um desafio de fato. Botar um shorts vermelho, meio elástico por baixo. Então, a saia subia de vez. Hora de amarrar a jaqueta jeans na cintura e proteger a formosura. Escondendo com malícia e timidez, a saia curta, outra vez.

Que saudade das saias.... dos olhares marotos e dos garotos, nas aulas de português...



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