O jingle da Graça telefones, o mais famoso e sem
medo de errar, o mais tocado nas décadas de 80 e 90 no rádio santista,
nasceu assim. De bate pronto.
O Boka era o meu amigo músico da faculdade. Foi ele
que me convidou para fazer a peça publicitária. Tínhamos na época, vinte e
poucos anos. Curtíamos as mesmas músicas e bandas. Ele já tocava bem o violão e
eu ainda arranhava uma ou outra canção. Às sextas feiras, havia música no
corredor da faculdade. Sexta Super. Lá começou nossa amizade.
Que tal fazer um jingle, loira? Você bola a letra e
eu coloco a música. Não tem ninguém aqui em Santos produzindo jingles. Topa?
O convite foi mágico. Cheguei em casa com um pedacinho de papel escrito à mão com caneta Bic... Graça Telefones. Instala em três dias. 378537. Repete. Peguei o velho violão herdado do meu irmão da época da faculdade de Medicina, que conservava como prova da sua trajetória vários esparadrapos grudados na tampa e comecei a dedilhar na cozinha da casa, sem ninguém pra ouvir ou palpitar.
Meu gosto musical sempre foi pop rock. Mas ideia que
vem fácil a gente não rejeita e me veio à cabeça um samba de breque. Surpresa!
Imaginei um cliente querendo comprar uma linha
telefônica (na época era cara à beça uma linha) e mandei um dó maior... – ALÔ! EU PRECISAVA DE
UM TELEFONE!
Daí pra frente a sequência veio vindo. Alguns acertos aqui e ali e em meia hora eu já tinha dado à luz na folha de papel, à letra que viralizou.
No dia seguinte mostrei para o Boka. O jingle tinha
o lance comercial e ele deu os toques refinados no instrumental. Ficou redondo.
Fácil de cantar. E o telefone repetido duas vezes, como pediu o cliente, tinha tudo pra grudar nas mentes.
Agora só faltava gravar. Mas onde?
Na rádio Tribuna não deu certo. Partimos para o Heavy
Metal, casa de shows que sacudia a cidade com o rock nacional do momento.
Foram horas de ajustes nos equipamentos. Fios invertidos, microfonias e dez versões gravadas. No final da noite, um ruído indefinido apareceu do nada e todo o trabalho foi desperdiçado.
Vamos gravar no Estúdio do Blow Up. Ou vai ou racha!
Lá fui eu e o Boka, com a ajuda da banda amiga, para uma nova empreitada.
O Luigi, um cara tranquilo, cheio de filhos e que
tinha uma livraria no Gonzaga, dividia comigo a cantoria. Tinha que gravar tudo
junto numa só gravação, voz, instrumentos e locução. Sem cortes. Sem erros. Sem discussão.
O saudoso *Robson pediu silêncio. Um, dois, três... gravando! Numa só levada, o jingle saiu por inteiro.
-"ALÔ! Eu precisava de um telefone. Quando um amigo
indicou seu nome. Quero saber qual a ligação, muito prazer, satisfação! Pra
colocar você na linha, eu tenho um plano que é uma gracinha. Financiado e com
garantia, pra instalar leva só três dias. Seu telefone vai fazer assim...
tirrim tirrim tirrim tirrim! 378537. Repete... 378537. Promete. Não desligar de
mim. Promete, não desligar de mim! GRAÇA TELEFONES, com você sempre na linha!"
Jingle pronto. Em pouco minutos. Ficou com quarenta
e cinco segundos. Era longo, mas na época era fácil negociar com as emissoras.
Não tinha quem não cantasse. Até hoje, encontro por
aí alguém que lembra da letra e do refrão. Anunciantes mais antigos usam o
jingle como referência na hora de fazer suas peças publicitárias.
Simples. Simpático. Artesanal. Coisas que acontecem.
Sorte, ou acaso?
Sei não. Só sei que virou Hit! ALÔ!...
****************************
*Robson Melo, guitarrista e backing vocal da Banda Blow Up.
**********************
QUER RECORDAR O JINGLE?
ouça aqui no CANAL INESPLICANDO You Tube.
https://youtu.be/OwAlkaDVGaY?si=0hbXqpeSrx4KS8DO
Nenhum comentário:
Postar um comentário