Dentro e fora do Mercado. Na caçamba dos caminhões. Pelos corredores, aos montões. Caixas com frutas nordestinas desconhecidas. Além das uvas, melancias. Laranjas. Acerolas. Limões.
quinta-feira, 11 de dezembro de 2025
NA CAIXA, POR FAVOR...
Dentro e fora do Mercado. Na caçamba dos caminhões. Pelos corredores, aos montões. Caixas com frutas nordestinas desconhecidas. Além das uvas, melancias. Laranjas. Acerolas. Limões.
quinta-feira, 4 de dezembro de 2025
AS RABANADAS DA VOVÓ
Alguns itens nas receitas vão se perdendo no tempo, aqui e acolá. Outros ingredientes são incorporados em certo momento e se perpetuam no lugar.
Eu continuo fazendo as mesmas rabanadas
portuguesas que minha mãe fazia nas tardes quentes próximas do Natal. Separo as fatias grossas de pão velho, o leite açucarado num prato raso e os ovos batidos na velha tigela. Depois frito em óleo quente, salpicando levemente
açúcar e canela. Faço assim há décadas. De olhos vendados. Reproduzindo a velha
cena, de um doce passado materno.
Foi uma surpresa provar na casa de uma portuguesa autêntica uma rabanada diferente, oferecida gentilmente para todos à mesa. Mais dura e com o pão escurinho, por conta de um creme com vinho.
Eu que nunca usei
vinho! Minha mãe também não. Será que a vovó subverteu a receita e não nos
contou?
A origem das rabanadas aguçou minha curiosidade junto com minhas papilas salivadas e fui pesquisar as primeiras rodelas servidas nas ceias de Natal. Seriam minhas rabanadas réplicas simples e abrasileiradas?
A origem é mesmo europeia. E muito antiga. As entregas? Talvez com charretes, em meados do século dezessete. Foi
criada para aproveitar pães velhos e amanhecidos e se tornou alimento sagrado no
Natal por representar para os católicos, o corpo de Cristo. Alguns dizem que a
origem é francesa e não portuguesa. Aposto nos lusitanos.
"Fui aos risos" ao saber que lá são chamadas de fatias douradas ou fatias paridas. Pode-se usar cacetes ou bengalas amanhecidas. E nas receitas portuguesas mais sofisticadas, usa-se o vinho. Achei o danadinho! Acho que a vovó usava e a mamãe cancelou sem dizer nada.
Seja qual for a receita original, sempre respinga na gente um ingrediente ancestral, além do pingo de óleo quente no braço, fatal.
É a lembrança das tardes doces e quentes. O meu coração, embebido em leite, respinga no peito uma saudade de dar dó.
Rabanada. É o açúcar da mãe. E o sabor da vovó!
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domingo, 23 de novembro de 2025
AS VELHAS BOLINHAS AZUIS...
Alguém quer ficar com as minhas bolinhas?
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quinta-feira, 20 de novembro de 2025
NOSSA QUERIDA TRALHA
segunda-feira, 17 de novembro de 2025
CARTA AO MEU IRMÃO...
Caro anjo, irmão.
Eu prometi que não seria triste. Uma carta simples. Sem pieguices. Acabo de olhar sua foto de infância. Você abraça duas crianças. O primo e o irmão.
Você abraçava o mundo. Nosso porto seguro. Ainda me protege nessas bandas angelicais onde andas. Talvez, campos de
lavanda? Casa entre nuvens? Atmosferas que não faço ideia. Continuo com meus
pés aqui na Terra. Mas ouço daqui, o bater do seu coração.
Olho suas orelhas. Eram
de abano ou me engano? Com a idade melhorou. O nariz é que se curvou. Rinite alérgica.
Você pingava duas gotas de remédio em cada narina. O lenço dobrado no bolso de trás era Presidente!
A tia Zilda dava no Natal, numa caixinha com fita, de presente.
Eu prometi que não
seria triste. Só levezas, lembranças banais, sem as partes que doem mais.
Toquei ontem o disco do
James Taylor que você comprou com o seu primeiro salário. Capa branca. Ouvi por inteiro. Depois
você deu o dos Beatles. Hard day's night! Você cantava alto demais. Às vezes, imito
sua voz e desafino. Você não seria um bom cantor, mas batia um bolão, admito.
O uniforme do
Paulistânia ficou comigo. Aquele verde e branco com meião encardido. Não lavo
de jeito algum. Ficou com o formato do seu pé. O direito, torto de fazer gols.
Você descrevia o lance por inteiro. Talvez fosse um bom narrador.
E aquela minha foto de pequena que você levava na carteira, com rabinho de cavalo e um pintinho nas mãos, eu perdi. Ouvi um pio de tristeza aí de cima? Ou foi cisma? Prometi que não seria triste. Sem pieguices.
Você viu meus livros
publicados? Dois só de crônicas como a mamãe e você gostavam. Em breve vou pro terceiro. Se der, mando um exemplar por um pombo ou anjo mensageiro.
O que está ruim mesmo
é o mundo que você, sem desejar, nos deixou. Vírus, política, intolerância e guerra,
em proporções estratosféricas. O ser humano vendo o mundo acabar e postando memes
no celular. O que são memes? Não vale a pena explicar...
Eu prometi que não seria triste. Vou terminar a carta. Ou por aí tem email? Sei que essa foto sua, no meio da tarde — no campinho da rua — me atropelou de um jeito...
Qualquer hora lhe vejo.... no meio das estrelas e lhe sopro um beijo!
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terça-feira, 28 de outubro de 2025
O FANTASMA DO PIANO
Eu não imaginava que a nascente do Rio Tietê ficasse na cidade de Salesópolis. Muito menos que ele era pequeno e limpo, até ir ganhando volume e sujeira, à medida que vai adentrando a grande São Paulo.
Também não imaginava que meu irmão, médico formado, e com grande talento para cuidar não só de gente, como também de patos, marrecos e faisões, iria comprar terras no bairro de Remédios, vilarejo próximo a Salesópolis.
E era uma aventura chegar lá. Duas ladeiras saiam da estrada de asfalto e iam dar na pracinha com uma pequena igreja e mercearias de balcões antigos. Depois, três quilômetros de terra batida, com direito a capelinhas, santos sem cabeça e mata-burros. Clima de interior.
A casa foi erguida em poucos meses e chegou, enfim, o dia da visita da família. Logo na entrada, um pergolado com primaveras vermelhas e uma placa de boas vindas: Sítio do Zeca Pireba! Ninguém sabia quem era Zeca Pireba. Ninguém perguntou.
Mais à frente, a casa, sorridente, com janelas e portas pintadas de laranja e amarelo. Na cozinha, panelas de cobre penduradas nas paredes. E na sala, um velho piano, com a foto dos parentes que se foram. Ainda bem que não estavam de sobrecasaca, o que dava um aspecto carinhoso e menos soturno.
E como se dorme cedo no sítio! Acorda-se cedo. Dorme–se cedo. E quando deu nove horas, depois da janta, todos foram para seus quartos. Adultos em camas e beliches. As crianças amontoadas em colchonetes pelo chão. E se de dia a natureza nos encanta e alegra, à noite, ela nos intimida, desentocando medos e mistérios.
E foi perto das onze da noite que se ouviu, nitidamente, o som do piano vindo da sala vazia. Notas graves e agudas. Descompassadas. Dava para ouvir em todos os aposentos.
Mas logo veio o silêncio e ninguém disse nada. Absolutamente nada. Na hora do café da manhã, os olhinhos das crianças se procuravam, à espera de algum comentário. Nada foi dito. E o dia seguiu com risos...
Na noite seguinte, onze em ponto, a cena se repetiu. O som do piano ecoou mais uma vez na sala vazia. Foi nessa hora que o menor da turma, inocente, perguntou... - Ué? Quem tá tocando piano?
Os adultos e as crianças,
juntos e tomados de uma coragem até então desconhecida, correram até o final do
corredor e se depararam com o assustador visitante: um pequeno ratinho que se distraia pra lá e pra cá
no teclado do velho piano.
O riso tomou conta da sala. Enquanto meu irmão botava o roedor pra correr. Era só um ratinho. Quem diria! Um ratinho... Voltaram, cada qual para o seu quarto, tranquilos, e foram dormir.
Enquanto, no canto da sala vazia, o fantasma do Zeca Pireba se divertia,
mais uma vez...
A BUSCA DE UM OUTRO OLHAR...
segunda-feira, 6 de outubro de 2025
PÉ SUJO
Quem não dormiu com pé sujo uma vez na vida, não sabe o que é bom. Pé de infância cascuda. Pré-digital. De jogos com bola, amarelinha, mãe da rua. Rolimã, bola de gude ou bafo na calçada. E a bicicleta entre os carros, num ziguezague perigoso e acelerado. Um risco danado.
Na chuva então, chapinhando de poça em poça. Nem parecia uma moça! E o pé cada vez mais sujo... - Menina, moleca! Vem se lavar! E a gente por fim obedecia. Mas era um pé de gostosura. Aventura. Inocência. Poeira pura.
Hoje as crianças tem pés com rodinhas. Tênis com luzinhas. E a sola do pé bem lisinha. De quem não pisa no chão, no quintal, na areia... e nem na grama do vizinho!
youtu.be/zs1J7CLG9ss
terça-feira, 30 de setembro de 2025
A LÁGRIMA NA JANELA...
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QUE TAL VER ESSA CRÔNICA FALADA NO YOU TUBE, AGORA?
quinta-feira, 18 de setembro de 2025
PASSARINHOU, FLORESCEU, FLORIU...
Os curiós, curiosos, foram os primeiros a saber. Não deram um pio. Um deles fingiu que não me viu. Comecei a desconfiar de alguma notícia mais quente. Os bem-te-vis bem-te-viram antes de todos que as paisagens estavam diferentes e entoaram notas de terças numa eloquente harmonia sertaneja.
A grama estava mais verde. Os sapos pulavam. Os insetos voavam. Nos cantos, bichinhos doidos se embolavam e sem pudor se amavam. Que raios acontecia ao redor? Quem espalhava esse tanto de amor... e sacudia poléns afrodisíacos nas florações?
O bem me quer não bem me quis estragar a surpresa. Melhor perguntar à mãe natureza. Fui até o pé de milho. Sussurrei ao pé do seu verde-amarelo ouvido: quem é que arrancou o terno cinza e vestiu todo mundo com traje florido?
O milho pipocou e não falou. O dente de leão rugiu, mas não contou. Nem o vento quente que bateu, me soprou. Alguém pode dizer o que foi que rolou? E tudo desabrochou. Explodiu de amor?
E debaixo da janela, a Maria sem vergonha, tagarela não se segurou... ainda não sabe?
A primavera, que chegou!
segunda-feira, 15 de setembro de 2025
PONTO NA IMENSIDÃO...
terça-feira, 9 de setembro de 2025
A CASINHA NA ÁRVORE...
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VEM AÍ... NOVIDADES E NOVAS PLATAFORMAS INESPLICANDO!
quarta-feira, 3 de setembro de 2025
O CASACO CARMIM...
Tá na hora... do seu casaco carmim se aposentar...
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Exposição “ Mulheres, o poder além das imagens”, na Pinacoteca de Santos!
Muita honra e alegria de ter sido uma delas!
Inês e Isabela/ Pinacoteca de Santos
quarta-feira, 27 de agosto de 2025
HOJE EU SAIO NA CHUVA...
Eu saía na chuva. Brincava no meu quintal, colhendo com as mãos os pingos grossos que caiam feito patacas esfriando o chão. Era a alegria que vinha do céu nas tardes de verão. As gotas desciam pela minha cabeça até os meus pés descalços. No piso liso, um pouco de sabão. Eu deslizava em engraçadas lambanças e escorregões.
Eu saía na chuva. Lembro dos pés encharcados dentro do sapato de couro alemão. A meia empapuçada. Eu batia os pés nas poças do chão. Chegava do colégio em total desalinho. Secava na toalha, guardando no coração o cenário alagado e festivo do caminho.
Eu saia na chuva, sim. Em especial no jardim. Quando a chuva cessava eu abaixava os galhos das árvores para me molhar um pouco
mais. Eu era flexível como os galhos finos. Feliz como o mato molhado,
nutrido e saciado. Era a menina ainda verde, buscando água para amadurecer.
Eu saia na chuva até pouco tempo atrás, no meu entardecer.
Hoje, sob um guarda-chuva barato, ando pelas ruas com sapatos apertados. Vejo a secura das pessoas que seguem com passos acelerados. Seguem rápido para voltar rápido. Os anos pesam. Meu caminhar é cansado.
Mas o verão continua, com suas chuvas vigorosas. O céu chora e a natureza se descontrola. A água vem forte do céu, caudalosa.
Hoje vou sair na chuva! Vou dançar de novo, chapinhando nas ruas. Vou rodopiar e subir no poste feito a cena da Broadway.
O que salva minha alma da secura... é essa gota interna, livre, louca... e sem censura.
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quarta-feira, 13 de agosto de 2025
O ÚLTIMO TOQUE...
Tarde de sol quente. A Rua da
Liberdade fervilhava feito um vespeiro. O recém- aposentado não esquentava como o tempo. Não estava preso à mais nada. Nem emprego, nem mulher ou
namorada. Mas alguma coisa ele ainda procurava.
Entrava e saia das lojinhas, subindo e descendo as ruas- artérias que alimentavam o coração da cidade. O centro comercial de tantas glórias, tinha uma espécie de circulação extracorpórea. Indo e vindo de ambulantes, pedestres, pedintes e suas histórias...
Primeiro pensou em comprar roupas e calçados. Desistiu no ato. Não precisava mais de sapatos. Nem de ternos, gravatas e nós enforcando o pescoço. Poderia viver de moletom e um tênis velho que durasse até o osso.
Não queria livros. Nem relíquias em vinil. Tinha tecnologia suficiente para baixar o que bem entendesse nas redes. Também não queria nada esportivo. Seu time em baixa. Barriga em baixa. Pressão, colesterol e triglicérides em alta. O melhor era correr. Para um médico assim que possível. Talvez, no ano que vem!
Queria se dar um presente. Entrou rapidamente numa lojinha de importados e comprou um despertador. O melhor e mais barulhento que havia. Pagou cem pratas e foi pra casa.
Na véspera do novo ano. Colocou-o para despertar as cinco em ponto. Compromissos não tinha. Nem peru para colocar no forno. Era o Reveillon do abandono.
Queria o prazer imensurável de acordar no velho horário de trabalho e interromper o alarme diário, malvado e intermitente que havia destruído seu labirinto e alugado sua mente.
O alarme tocou. Esticou as mãos e deu o último toque. O certeiro e definitivo, naquele pontual e irritadiço torturador suíço.
Depois, tateou sonolento, e mergulhou-o num copo d' água, virando-o de castigo contra a parede.
Aposentado — e finalmente vingado — saiu da cama e foi dormir numa rede.
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terça-feira, 5 de agosto de 2025
O ANJO QUE ME OUVE
Vó Emília virou uma espécie de anjo em minha
vida. Eu tinha só seis aninhos quando ela se foi. Tão pouco. Tão muito.
- Vó entrei na escola! Seu sorriso se abriu naquela
hora. Quando a mente já não lhe dava mais entendimento e direção, entendeu com o coração.
Não falou meu nome. Apenas me acolheu e eu segurei sua mão. Isso nos bastou.
Depois da sua partida, uma presença volátil me rondava. Nas horas de angústia, em silêncio, eu lhe falava. Na água do banho, sob o chuveiro. No vão dos pensamentos. No arrepiar dos medos. Eu imaginava seu colo e o meu repousar sereno. Era a paz que acalmava. O sopro que me empurrava.
Da vó Emilia herdei muita coisa, sem muito entender. Ela gostava de comprar casas e depois vender. Comprei algumas. Coisa de português. Segurança, talvez.
Com os anos fui me desprendendo. Vendi
as casas, apartamentos. Agora me basta um lugar pequeno. Herdei
seu queixo, sua força e o alto grau de dureza. Vó
Emilia trabalhava sem tempo de sossegar. Também tenho esse veio de ferro. Difícil
relaxar.
No entanto, eu dormia suave em seu colo quentinho. Sentia seu perfume. Ouvia baixinho o seu cantar.
Hoje ouço sussurros no vento. É na voz dos anjos que ela sopra seus conselhos.
Eu tinha seis anos. Tão pouco. Tão muito.
Não sei se a estrada é longa ou breve até lhe encontrar. Mas passe o tempo que passar, nossa conversa vai terminar.
- Porque aquele dia, vó, eu só queria contar como foi o meu primeiro dia de escola.
- Posso te contar... no meu silêncio, agora?
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