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terça-feira, 6 de dezembro de 2022

HOJE EU SAIO NA CHUVA...

Eu saía na chuva. Brincava no meu pequeno quintal, colhendo com as mãos os pingos grossos que caiam feito patacas esfriando a quentura do chão. Era a alegria que vinha do céu nas tardes de verão. As gotas desciam pela minha cabeça até os meus pés descalços. No piso liso, um pouco de sabão. Eu deslizava em lambanças e adoráveis escorregões.

Eu saía na chuva. Lembro dos pés encharcados dentro do sapato de couro alemão. A meia empapuçada. Eu batia os pés nas poças do chão. Chegava do colégio em desalinho. Corpo e alma lavados. Secava na toalha, guardando no coração o cenário alagado e alegre do caminho. 

Eu saia na chuva, sim. Em especial no jardim. E quando a chuva cessava eu abaixava os galhos das árvores para molhar um pouco mais. Eu era flexível como os galhos finos. Feliz como o mato molhado, nutrido e saciado. Era a menina ainda verde, buscando água para amadurecer.

Eu saia na chuva até pouco tempo atrás. No entardecer da juventude.

Hoje andei pela cidade no fim de tarde. A calçada empoeirada. Nos meus olhos, a secura. Nas pessoas, pouca ternura. Meus pés caminhavam rápido para voltar rápido. Fui cimentando aos poucos minha coluna. Os anos pesaram sobre meus ombros.                                                                    

Mas o verão continua, com suas chuvas vigorosas. Olhei novamente o céu. Os pingos recomeçaram. A chuva veio forte. Caudalosa. Desaguando na alma em versos e prosas. 

Eu hoje vou sair na chuva! Retirei do armário as velhas blusas. Vou dançar na rua. Rodopiar e subir no poste feito a cena da Brodway.    

O que me salva da secura é essa gota interna, livre... sem censura.


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