Nunca havia presenciado uma cena parecida. Até hoje não sei
se foi um desejo, um sonho ou uma rara experiência de EQM (experiência de quase
morte). Mas estava ali, na minha frente, aquela mesa gigante repleta de personagens
notáveis, alguns nem tanto, sentados, lado a lado, com semblantes sérios e
preocupados. Reunião urgente. Em pauta: o Brasil!
De um lado da mesa eu podia ver os vultos de Niemeyer,
Cazuza, Carlos Drummond, Ayrton Senna, Renato Russo, Paulo Francis, Don Helder,
Médici e o último a chegar, Carlos Alberto Torres. Do outro lado, Hebe Camargo, Chico Anísio, Volpi, Adib Jatene,
Ulisses Guimarães, Ronald Golias, Araci de Almeida e um grupo enorme de motoboys recém chegados. O primeiro problema apontado foi a violência. Muitas soluções
apareceram...
A colocação de milhares de anjos da guarda de plantão nas esquinas
dos grandes centros foi sugerida. Mas o contingente seria imenso e o
problema não era só urbano, disse Niemeyer, com uma vozinha tão baixa que não dava
quase pra se ouvir. Jatene com seu jaleco branco, lá na ponta, disse que a
saúde estava pior que a violência. Ulisses citou que mais grave era a corrupção. E Drummond concordou com os dois, dizendo que, com certeza, mais de uma pedra havia
no caminho.
Cazuza então levantou e acusou a burguesia e suas piscinas cheias de
ratos. Renato Russo colocou a culpa em Brasília e nos cavalos marinhos. E num
canto isolado, Don Helder rezava pra que tudo acabasse bem.
A reunião começou a ficar chata mesmo quando Paulo Francis levou
quarenta minutos para descrever o panorama político brasileiro. Foi quando
Ayrton Senna pediu mais rapidez, enquanto Volpi rabiscava bandeirinhas e Hebe
ria das piadas de Golias.
Até Pedro Alvares Cabral, que não havia sido convidado,
sentiu-se no direito de participar e sugeriu que os portugueses é que deveriam “de
voltar cá nestas terras” e resolver as questões, pois o que se vê hoje são
problemas de criação.
Foi vaiado e retirado a tapas por Médici. Alguns minutos
depois da briga, chegou Tim Maia que deveria ser o presidente da reunião, mas a
pedido do "Capita" foi substituído da posição, por conta de mais um atraso.
A reunião rolava tensa. Nada se resolvia. Grupos se desentendiam. Os da direita faziam barulho e não
davam soluções. Os da esquerda acusavam os da direita que atiravam papeizinhos, muito embora ninguém soubesse mais quem era esquerda e quem era direita. Os da
ponta, menos conhecidos e os motoboys apenas tiravam selfies.
Quando a discussão atingiu seu grau máximo e os militares já
tentavam tomar conta da situação, Araci de Almeida mostrou a que veio, batendo
na mesa e pondo ordem na casa, gritou com a voz da boa malandragem: -Dá pra gente ter mais educação?
Todos levantaram e aplaudiram, concordando finalmente com a
solução do país.
Será que dá?
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