Vejo meu irmão, menino, correndo. Pés descalços. Rua de terra. Com um
bando de moleques alvoroçados, atrás das pipas azuis, verdes e amarelas.
Uma delas se desgarrava. Ou algum menino, que de propósito cortava. Lá se ia a
pipa rodopiando, caindo em giros tresloucados, por sobre as casas e telhados.
E todo o trabalho perdido. Jogado... ruas abaixo.
Lembro da bagunça na mesa da cozinha. Papeis de seda. Tirinhas. Tesoura. Varetinhas.
Goma arábica nunca tinha! A cola era água e farinha, que grudava, deixando
pelotinhas. A rabiola era a parte que eu mais gostava. Naquela lembrança eu voava.
Voltei os meus olhos novamente para a varanda. Agora olho para o outro
lado. Vejo Amir e Hassan. Os dois amigos afegãos pelas ruas de Cabul. Também
corriam atrás das pipas, sorrindo contentes. Não havia separação. Nem empregado, e patrão.
Cruzaram a esquina do meu prédio e olharam o arranha céu. Amir teve
medo. Hassam escalou rapidamente os três andares, catando a pipa e descendo.
Feriu os joelhos. Feliz e sangrando, entregou a pipa ao amigo, dizendo: - Por
você, eu faria mil vezes!
As lembranças das Pipas do escritor Khaled Hosseine “Viviam dentro dele como um pedaço gostoso de passado, perfeitamente
encapsulado. Uma pincelada de cores naquela tarde cinzenta.”
Sai do livro e voltei o olhar a varanda. Nem meu irmão. Nem os amigos afegãos! Apenas eu e a pipa na
mão.
Devo guardar? Consertar? Sair correndo e empinar?
Se o maior presente ela já me deu... Voar!
Saudades....voltei ao passado bjs
ResponderExcluirObrigada Denise.. por estar aqui, no blogue!
ExcluirAmei....tbem soltava pipa e voltei no tempo.
ResponderExcluirObrigada!
ExcluirLindo, muito lindo!
ResponderExcluirObrigada, Fernando.. é sempre bom tê-lo por aqui...
ExcluirNOSSA! pQ ME EMOCIONEI TANTO?
ResponderExcluirParece q eu estava lembrando e vendo tudo q vc descreveu Inês.
Me deu tantas saudades ...
Lindo.
Que bom... adoro isso...
ExcluirSonhei...relembrei....emoçăo pura! Reli o Caçador de Pipas por causa de vc! Muito grata a ambos os textos!
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