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quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

A PIPA NA VARANDA...

Dei com uma pipa na minha varanda! Presa no vaso de planta. No alto do terceiro andar! Olhei para a rua. Para o fim da calçada. Para o céu. Para o nada. Nesse instante, a mente voa...

Vejo meu irmão, menino, correndo. Pés descalços. Rua de terra. Com um bando de moleques alvoroçados, atrás das pipas azuis, verdes e amarelas.

Uma delas se desgarrava. Ou algum menino, que de propósito cortava. Lá se ia a pipa rodopiando, caindo em giros tresloucados, por sobre as casas e telhados. E todo o trabalho perdido. Jogado... ruas abaixo. 

Lembro da bagunça na mesa da cozinha. Papeis de seda. Tirinhas. Tesoura. Varetinhas. Goma arábica nunca tinha! A cola era água e farinha, que grudava, deixando pelotinhas. A rabiola era a parte que eu mais gostava. Naquela lembrança eu voava. 

Voltei os meus olhos novamente para a varanda. Agora olho para o outro lado. Vejo Amir e Hassan. Os dois amigos afegãos pelas ruas de Cabul. Também corriam atrás das pipas, sorrindo contentes. Não havia separação. Nem empregado, e patrão.

Cruzaram a esquina do meu prédio e olharam o arranha céu. Amir teve medo. Hassam escalou rapidamente os três andares, catando a pipa e descendo. Feriu os joelhos. Feliz e sangrando, entregou a pipa ao amigo, dizendo: - Por você, eu faria mil vezes! 

As lembranças das Pipas do escritor Khaled Hosseine “Viviam dentro dele como um pedaço gostoso de passado, perfeitamente encapsulado. Uma pincelada de cores naquela tarde cinzenta.”  

Sai do livro e voltei o olhar a varanda. Nem meu irmão. Nem os amigos afegãos! Apenas eu e a pipa na mão. 

Devo guardar? Consertar? Sair correndo e empinar? 

Se o maior presente ela já me deu... Voar! 


*                          *                                                                            

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