Páginas

quarta-feira, 31 de julho de 2024

A SAIA CINZA...



A saia cinza chumbo era tão curtinha que as garotas subiam as escadas, engraçadinhas. Segurando firme, com uma mão de cada lado. No corredor, risos abafados. E os garotos, eram só garotos. Olhando as meninas e suas saias curtinhas. Enfeitando o pátio. Colorindo as esquinas.

Logo vinha a campainha. As meninas e suas saias entravam na sala de aula, cada qual no seu lugar. Eu sentava na carteira da janela. Virando as pernas para o lado. Bem juntinhas, com medo de um lance mais descuidado. 

A aula de História passava voando. A de matemática, durava cem anos. E vinha a campainha do meio. Intervalo. Recreio! As sainhas se alvoroçavam. E as pernas das meninas corriam ligeiras e finas, rumo à cantina. Entre lanches e lances. Canções e romances. E na hora de sentar nas escadas. Mãos nos joelhos, meninas! Alguém olha lá de baixo, se não está aparecendo nada! Todas aliviadas... Ajeitam os cabelos, trocam confidências, sorriem por nada. 

As saias eram a nossa cara. A preocupação despreocupada. O vacilo que não dá em nada. Só risos e apostas. Quem sabe, uma ou outra calcinha à mostra. Os garotos eram só garotos. Com olhares de rapina. Devorando as pernas das meninas. Com aquelas saias curtinhas. Saia de prega. Cinza Chumbo. Cinto vermelho, de fivela. 

No dia seguinte, a educação física era um desafio de fato. Botar um shorts vermelho, meio elástico por baixo. Então, a saia subia de vez. Hora de amarrar a jaqueta jeans na cintura e proteger a formosura. Escondendo com malícia e timidez, a saia curta, outra vez.

Que saudade das saias.... dos olhares marotos e dos garotos, nas aulas de português...



*                     *                      *                                                     




PEÇA O LIVRO "INESPLICANDO", AGORA MESMO!


PELO WHAT'SAPP  13 997754072


 E RECEBA EM CASA, PELO CORREIO...

 COM DEDICATÓRIA!






sábado, 6 de julho de 2024

O BARULHO DA ÁGUA DO RIACHO...

Riacho. Acho que ri. Acho que corre. Acho...

Acho que riacho é um gotejar fresco de barulho delicado. Vai levando intermitente o passado. Pois é água corrente. É sempre presente. Um agora sem fim.

Acho a felicidade um riacho que corre em gotas. De alegrias pequenas, serenas. Um café sobre a mesa. Um pio de ave na natureza. Um beijo macio de delicadeza. 

Riacho, eu acho, é um existir tímido e tranquilo.  

O oceano é intempestivo. Rítmico e mítico. Tem nome e sobrenome. Atlântico, Índico, Pacífico. O riacho nem nome tem. Ele vem, continua e some. Vai pra onde ninguém vê e se mistura sem ego, num maior ser. 

Mais jovem fui um oceano rufando. Com águas revoltas e Júpiter evocando. Acho que hoje, diacho, hoje sou um riacho. Acalmei as marés cheias e as ondas crespas do passado. Está tudo mais calmo. Serpenteio maleável em cada curva do leito, ao som de uma leve música que acalma meu peito.

Olhar o canal e a ponte de madeira trouxeram de volta a imagem do riacho que eu acho que corre. Acho que ri. Acho até que canta. Ouço o barulho do seu gotejar inundando a lembrança. 

Hoje, mais humilde e mansa, brinco e me alegro em pingos. Todos os dias são domingo. Vou saboreando a beleza da natureza e dos bichos. Conservo poucos e bons amigos. 

Sou um fio de rio. Flor que boia. Não para o oceano aberto, mas para um lago manso que eu sinto mais perto. Lago da maturidade. Lago com um banco branco e jardim.

O riacho, hoje, passa lento... dentro de mim.


*******