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quarta-feira, 12 de outubro de 2016

RESENHA DO MÊS: "O POETA DA MADRUGADA"

         
 
                    Tu vens! Eu já escuto teus sinais...

Foi com essa melodia na cabeça e a secura de quem espera água no sertão, que aguardei o “Poeta da madrugada” chegar em minhas mãos, rasgando o envelope do correio com o carimbo e a "anunciação": Alceu chegou!     

Não veio numa manhã de domingo. Nem ouvi o anúncio nos sinos das catedrais. Chegou numa segunda. Veio de Portugal. E inspirada no poeta, aproveitei a noite de lua cheia e devorei feito onça pintada, folha por folha, a poesia Valenciana em forma de música que encantou e ainda encanta o Brasil.

Conheço a maior parte da obra musical de Alceu Valença, afinal foram trinta anos de trabalho em rádio e confesso que não me surpreendi. Seus poemas soam como música. Tem melodia interior. Às vezes, um galope leve e elegante nas areias do agreste. Às vezes, cavalo sedento em disparada. Alceu impõe ritmo aos versos e passeia por diferentes universos. Vai do popular ao erudito. São recorrentes temas como o vento, a saudade, a solidão e o tempo.

Uma constante travessia, do real à utopia. Cantando amores e seus dissabores. Versos com ritmo pulsante. Dá vontade de ler cantando! 

A primeira parte do livro é quase biografia.  A estrada, sua sina...

        “ Aonde é que tu vais, senhora estrada/ Companheira fiel do meu destino...

Depois, retratos da terra natal, São Bento do Una, de Recife e Olinda... O amor às suas raízes...

         “O sol acorda São Bento/ De modo tão desatento...

         “Minha Recife adorada/ Ficaste em mim incrustada
          Como jóia que se guarda...

         “Olinda/ Tens a paz dos mosteiros da Índia...

          "Tu és linda pra mim és ainda/ Minha mulher”...    

E Alceu segue viagem. Rio, Paris e Lisboa...

         “Morena de Copacabana/ E meu olhar estrangeiro

          Toda cidade no cio/ Ah, meu Rio de Janeiro”...

          “Dizem que moro em Paris/ Quase chego a acreditar

          Aqui moro e não moro/ O meu verbo é transitório”...

          -“Ah Lisboa, tua noite me comove!!!/ O meu berro cruza o Tejo

           e o Atlântico.... Chega a bares de Recife e de Olinda...

Na segunda parte do livro, o poeta que cantava as cidades, fala agora sobre o tempo e as horas. E nos arrebata com a solidão que devora...

          “... é prima irmã do tempo/  que faz nossos relógios caminharem lentos”...

No final do livro, um presente de Alceu:  Romance da Bela Inês, um poema, que eu tola, pensei que fosse meu!

O livro de Alceu Valença deixa os seus sinais.

          “escrevo sobre o nada, pelo simples prazer de escrever...

Suave e gostosa leitura, Poesia pura derramada em setenta e três poemasescritos de 1967 até 2014. Vale a pena se entregar ao Poeta da Madrugada! Porque tem a cara de Alceu Valença. Poesia com baião e embolada. Pernambuquice desenfreada. Frevo com forró, bumba meu boi e mulher amada... 

Tudo no livro é poesia e melodia ritmada. Tudo Alceu! Ou, ao nosso... dispor! 

            *            *         *         *


               

Obra: O Poeta da Madrugada – Editora Chiado Books

            Autor: Alceu Valença

            Data de publicação: Janeiro de 2015

            Número de páginas: 108

            Coleção: Prazeres Poéticos

            Gênero: Poesia

           https://www.chiadoeditora.com/

           https://www.facebook.com/ChiadoEditora

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6 comentários:

  1. Haja pernambuquice e poesia. Vamos ler o poeta.

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  2. Haja pernambuquice e poesia. Vamos ler o poeta.

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  3. Considero o Alceu Valença um artista completo. Seu canto com sotaque pernambucano vem encantando várias gerações de brasileiros. Infelizmente, seu valor não é reconhecido pela mídia como acontece com esses popstars fabricados, de sucesso efêmero, que perambulam por aí.

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  4. Uau, descreveu o livro com os olhos da alma, do coração!

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