Foi com essa melodia na cabeça e a secura de quem espera água no sertão, que aguardei o “Poeta da madrugada” chegar em minhas mãos, rasgando o envelope do correio com o carimbo e a "anunciação": Alceu chegou!
Não veio numa manhã de domingo. Nem ouvi o anúncio nos sinos das catedrais. Chegou numa segunda. Veio de Portugal. E inspirada no poeta, aproveitei a noite de lua cheia e devorei feito onça pintada, folha por folha, a poesia Valenciana em forma de música que encantou e ainda encanta o Brasil.
Conheço a maior parte da obra musical de Alceu Valença, afinal foram trinta anos de trabalho em rádio e confesso que não me surpreendi.
Seus poemas soam como música. Tem melodia interior. Às vezes, um galope leve e elegante nas areias do
agreste. Às vezes, cavalo sedento em disparada. Alceu impõe ritmo aos versos
e passeia por diferentes universos. Vai do popular ao erudito. São recorrentes temas como o vento, a saudade, a solidão
e o tempo.
Uma constante travessia, do real à utopia. Cantando amores e seus dissabores. Versos com ritmo pulsante. Dá vontade de ler cantando!
A primeira parte do livro é quase biografia. A
estrada, sua sina...
“ Aonde é que tu vais, senhora estrada/ Companheira fiel do meu destino...
Depois, retratos da terra natal, São Bento do Una, de Recife e
Olinda... O amor às suas raízes...
“O sol acorda São Bento/ De
modo tão desatento...
“Minha Recife adorada/ Ficaste em mim
incrustada
Como jóia que se
guarda...
“Olinda/ Tens a paz dos mosteiros da Índia...
"Tu és linda pra mim és ainda/ Minha mulher”...
E Alceu segue viagem. Rio, Paris e Lisboa...
“Morena de Copacabana/ E meu olhar estrangeiro
Toda cidade no cio/ Ah, meu Rio de Janeiro”...
“Dizem
que moro em Paris/ Quase chego a acreditar
Aqui moro e não moro/ O meu verbo é transitório”...
-“Ah Lisboa,
tua noite me comove!!!/ O meu berro cruza o Tejo
e o Atlântico.... Chega a bares de Recife e de Olinda...
Na segunda parte do livro, o poeta que cantava as cidades, fala agora
sobre o tempo e as horas. E nos arrebata com a solidão que devora...
“... é prima irmã do tempo/ que faz nossos relógios caminharem lentos”...
No final do livro, um presente de Alceu: Romance da Bela Inês, um poema, que eu tola, pensei que fosse meu!
O livro de Alceu Valença deixa os seus sinais.
“escrevo sobre o nada, pelo simples prazer de escrever...
Suave e gostosa leitura, Poesia pura derramada em setenta e três poemas, escritos de 1967 até 2014. Vale a pena se entregar ao Poeta da Madrugada! Porque tem a cara de Alceu Valença. Poesia com baião e embolada. Pernambuquice desenfreada. Frevo com forró, bumba meu boi e mulher amada...
Tudo no livro é poesia e melodia ritmada. Tudo Alceu! Ou, ao nosso... dispor!
* * * *
Obra: O Poeta da Madrugada – Editora Chiado Books
Autor: Alceu Valença
Data de publicação: Janeiro de 2015
Número de páginas: 108
Coleção: Prazeres Poéticos
Gênero: Poesia
https://www.chiadoeditora.com/
https://www.facebook.com/ChiadoEditora
Haja pernambuquice e poesia. Vamos ler o poeta.
ResponderExcluirHaja pernambuquice e poesia. Vamos ler o poeta.
ResponderExcluirConsidero o Alceu Valença um artista completo. Seu canto com sotaque pernambucano vem encantando várias gerações de brasileiros. Infelizmente, seu valor não é reconhecido pela mídia como acontece com esses popstars fabricados, de sucesso efêmero, que perambulam por aí.
ResponderExcluirVontade se ler.. Inês e Alceu.
ResponderExcluirSensacional
Uau, descreveu o livro com os olhos da alma, do coração!
ResponderExcluirAdoro o Alceu e vc
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