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quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

MINHA CARA... GELADEIRA!

 

Ela é de meia idade. Cinquentona. E continua linda, mesmo com as marcas do tempo acentuadas no frágil retoque da pintura. É o xodó da casa. Mas ela dá um trabalho...

É daquelas que sobreviveram aos modismos. Também não é “retrô". É velha mesmo. Bacias de ágata. Porta não aproveitável. Pés de porcelana. E um "N" de National na porta que lembra National Kid, marca tão antiga quanto a histórica série. Mas ela dá um trabalho...

Já foi pintada. Repintada. Transportada. Mal transportada. Ficou dois anos num guarda móveis à espera da compra de uma nova casa. E basta uma simples conta para perceber que o dinheiro gasto com o aluguel daria pra comprar umas cinco geladeiras novinhas em folha. Mas soubemos resistir. 

Ficou linda naquele canto da nova casa. Objeto de arte! De respeito. Destaque “vintage” na cozinha moderna. E não há quem não se encante com o charme da sua singela simplicidade. Mas ela dá um trabalho... 

Neste ano, a borracha ressecou. E o gás que era pouco, se perdeu. Mas quem iria consertar uma National? O Sérgio veio lá em casa. Disse que o tubo era ainda de alumínio e não dava para soldar. Sugeriu o seu triste fim.

Pobre Sérgio, não sabia o que estava propondo. E diante do nosso olhar fulminante de censura, decidiu tentar um remendo à altura. Um stent, cateterismo, superbonder... Sabe se lá o quê, mas ele conseguiu! 

Agora faltava a borracha. Só em São Paulo. Partimos. 

No local do conserto, vimos geladeiras novinhas. Leves e com muitos compartimentos. Espaços luxuosos. De plástico, e sem coração. Não!

A nossa National tem alma! É membro vitalício da família. Guardou tantas cervejas para os amigos. Carnes para os churrascos alegres de verão. Vinhos e frutas para as noites de amor.

Só um coração de gelo para querer trocar. Ela vai continuar com a gente, sim senhor! 

Mas ela dá um trabalho...


*                        *                         *                                                                                 
                         
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7 comentários:

  1. Uau, muito legal, me fez lembrar da máquina de costura da minha mãe!

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  2. Gostei muito, eu ao contrário me desfaço de tudo. É um desapego total e, por vezes, exagerado. Gosto desses relatos... nos emocionam...

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  3. Cara Tecris, não se culpe não... este seu desapego total tem um toque evolutivo... bjs!

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  4. Adorei....lembrei da GE que minha mãe tinha...

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