Ela é de meia idade. Cinquentona.
E continua linda, mesmo com as marcas do tempo acentuadas no frágil retoque
da pintura. É o xodó da casa. Mas ela dá um trabalho...
É daquelas que sobreviveram aos modismos.
Também não é “retrô". É velha mesmo. Bacias de ágata. Porta não
aproveitável. Pés de porcelana. E um "N" de National na porta que lembra National
Kid, marca tão antiga quanto a histórica série. Mas ela dá um trabalho...
Já foi
pintada. Repintada. Transportada. Mal transportada. Ficou dois anos num
guarda móveis à espera da compra de uma nova casa. E basta uma simples conta
para perceber que o dinheiro gasto com o aluguel daria pra comprar umas cinco geladeiras
novinhas em folha. Mas soubemos resistir.
Ficou linda naquele canto da nova casa.
Objeto de arte! De respeito. Destaque “vintage” na cozinha
moderna. E não há quem não se encante com o charme da sua singela simplicidade.
Mas ela dá um trabalho...
Neste ano, a borracha ressecou. E o gás que era
pouco, se perdeu. Mas quem iria consertar uma National? O Sérgio veio lá em casa.
Disse que o tubo era ainda de alumínio e não dava para soldar. Sugeriu o seu
triste fim.
Pobre Sérgio, não sabia o que estava propondo. E diante do nosso
olhar fulminante de censura, decidiu tentar um remendo à altura. Um stent, cateterismo,
superbonder... Sabe se lá o quê, mas ele conseguiu!
Agora faltava a borracha. Só em São Paulo. Partimos.
No local do conserto, vimos geladeiras novinhas. Leves e com muitos compartimentos. Espaços luxuosos. De plástico, e sem coração. Não!
A nossa National tem alma! É membro vitalício da família. Guardou
tantas cervejas para os amigos. Carnes para os churrascos alegres de verão. Vinhos e frutas para as noites de amor.
Só um coração de gelo para querer trocar. Ela
vai continuar com a gente, sim senhor!
Mas ela dá um trabalho...
* * *
Adorei.. Engraçado, mas bem sério..
ResponderExcluirAdorei.. Engraçado, mas bem sério..
ResponderExcluirUau, muito legal, me fez lembrar da máquina de costura da minha mãe!
ResponderExcluirGostei muito, eu ao contrário me desfaço de tudo. É um desapego total e, por vezes, exagerado. Gosto desses relatos... nos emocionam...
ResponderExcluirCara Tecris, não se culpe não... este seu desapego total tem um toque evolutivo... bjs!
ResponderExcluirAdorei....lembrei da GE que minha mãe tinha...
ResponderExcluirA G.E. era linda também.... e durava muito... rs beijos!
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