Havia um
tempo que eu não ia à uma feira livre.
Ela continua livre. Com suas cores e
humores. De ponta a ponta. Dos peixes às flores.
De pronto, um sujeito
tocava jazz no saxofone. Na placa não tinha seu nome, mas a frase: “Vivo de
arte!”. Parei uns instantes, em respeito e solidariedade.
Caminhar
pela feira foi visitar a infância. Grudada na saia de alguém, para não me
perder. Lembrar onde estava o melhor preço, voltar tudo lá do começo. Bater com o
calcanhar na rodinha do carrinho de uma senhora. Vir carregada de frutas saltando da sacola.
Lembro do
cheiro doce da cana moída, da laranja descascada pelo moço do
facão, das mãos de minha mãe escolhendo abacate com um critério que só ela
entendia. O barulho dos pregões me assustava e encantava ao mesmo tempo. Cada
banca parecia um palco, cada feirante, um personagem. Eu, pequena plateia,
caminhava com olhos atentos.
Tinha um
moço que vendia queijos e fazia piadas com as clientes. Dizia que queijo
bom era igual abraço de mãe: firme por fora, macio por dentro.
E tinha a
barraca das fitas de cabelo e das miçangas coloridas, onde eu parava para olhar.
Às vezes ganhava um mimo de criança. Noutras, voltava apenas com
a lembrança.
Tanta
coisa de magia a feira ainda tem. Mandioca cortadinha. Melancia em pedaços.
Bananas em dúzia num cacho - e mais duas de presente! - grita alto o feirante, alegremente. E tem pano de prato de algodão, tampa de boca de fogão. Alho
descascado. Raízes, condimentos e extratos.
Muita
coisa vem em saquinho. Verduras e legumes já cortadinhos. Três por dez reais! No
final, se leva um a mais. Dez é o pastel também. Parei para reabastecer.
Um homem
de pernas arqueadas precisou sentar em dois banquinhos. E num espaço pequeno, dois
namorados comiam juntinhos. Um de carne e um de queijo. Misturavam sabores.
Davam beijinhos.
No final da festa, um feirante com pinta de artista cantou alegre e bem alto uma
versão do sucesso de Bruno Mars...
- Alface lisa, alface crespa... couve flooooorrrr!
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