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quinta-feira, 17 de abril de 2025

ELA VENCEU!



Tem um bonde que passa no Centro turístico da cidade. No último passeio pude ver, com tempo e detalhes, as velhas casas e armazéns do século passado. Paredes fortes e espessas. Algumas frontarias azulejadas. A maior parte desses imóveis, abandonada. Só vestígios do que já foram. Pedaços de antigas paredes e partes de telhados desabando. 

No meio do desalento, mudas de plantas saltavam das paredes de concreto. Com seus caules verdes eretos. E no chão, uma flor amarela me olhava com alegria e espanto!

A vida surgia das entranhas da rua. De cor viva e pura. Delicadeza que fura. Raízes fortes que romperam  estruturas e pelas frestas, espertas, chegaram à luz. Até nas ruas de trilhos, no vão dos velhos paralelepípedos, as flores heroicas saltavam do chão, feito primavera em explosão. 

Lembrei da minha lágrima de cristo... Tentei por diversas vezes plantar trepadeiras no canteiro da casa onde morava. Nenhuma delas vingava. A tumbérgia não resistiu. Tão pouco, o sapatinho de judia. Até o maracujá foi se agarrando e cresceu, deu dois frutos e feito a camélia caída do vaso, morreu.

Num dia inesperado, num pequeno buraquinho entre o cimento e a madeira da pilastra ela surgiu... Primeiro, um broto pontudo despontou. Depois uma folhinha. Mais outra. E outra mais vingou. Em poucos dias, alegres florinhas brancas de pistilo vermelho já se enroscavam no telhado cinzento e descorado. 

De onde veio a lágrima, silenciosa e persistente? As plantas são mais fortes que a gente, de certo. Suas raízes rasteiam. Volteiam. Não desistem. E se embrenham furando o concreto. Rompendo o asfalto e o vazio como no velho centro, em seu quase mortal esquecimento. 

Foi naquele buraquinho do meu canteiro, estreito e pequeno, que surgiu e cresceu exuberante a minha lágrima de Cristo. Bela. Singela! Regada e nutrida com tudo que precisa.
Água. Luz. E o sal... da terra!






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sexta-feira, 11 de abril de 2025

A FEIRA, CONTINUA LIVRE

Havia um tempo que eu não ia à uma feira livre. 

Ela continua livre. Com suas cores e humores. De ponta a ponta. Dos peixes às flores. 

De pronto, um sujeito tocava jazz no saxofone. Na placa não tinha seu nome, mas a frase: “Vivo de arte!”.  Parei uns instantes, em respeito e solidariedade.

Caminhar pela feira foi visitar a infância. Grudada na saia de alguém, para não me perder. Lembrar onde estava o melhor preço, voltar tudo lá do começo. Bater com o calcanhar na rodinha do carrinho de uma senhora. Vir carregada de frutas saltando da sacola.

Lembro do cheiro doce da cana moída, da laranja descascada pelo moço do facão, das mãos de minha mãe escolhendo abacate com um critério que só ela entendia. O barulho dos pregões me assustava e encantava ao mesmo tempo. Cada banca parecia um palco, cada feirante, um personagem. Eu, pequena plateia, caminhava com olhos atentos.

Tinha um moço que vendia queijos e fazia piadas com as clientes. Dizia que queijo bom era igual abraço de mãe: firme por fora, macio por dentro. 

E tinha a barraca das fitas de cabelo e das miçangas coloridas, onde eu parava para olhar. Às vezes ganhava um mimo de criança. Noutras, voltava apenas com a lembrança.

Tanta coisa de magia a feira ainda tem. Mandioca cortadinha. Melancia em pedaços. Bananas em dúzia num cacho - e mais duas de presente! -  grita alto o feirante, alegremente. E tem pano de prato de algodão, tampa de boca de fogão. Alho descascado. Raízes, condimentos e extratos.

Muita coisa vem em saquinho. Verduras e legumes já cortadinhos. Três por dez reais! No final, se leva um a mais. Dez é o pastel também. Parei para reabastecer.

Um homem de pernas arqueadas precisou sentar em dois banquinhos. E num espaço pequeno, dois namorados comiam juntinhos. Um de carne e um de queijo. Misturavam sabores. Davam beijinhos.

No final da festa, um feirante com pinta de artista cantou alegre e bem alto uma versão do sucesso de Bruno Mars...
- Alface lisa, alface crespa... couve flooooorrrr!


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QUERIDA, ENCOLHI OS CHOCOLATES!


                                      

Não é só uma impressão. Amarga. Os chocolates diminuíram. Foram reduzidos e tornaram-se maldosamente pequenos. 
Quem não lembra das barras antigas? Gordinhas, com vários gomos? O Lingote de chocolate que vinha num papelzinho de seda dentro da embalagem amarela? Já era. Agora é uma casquinha magrela.  
E as moedinhas de chocolate? Eram da largura das patacas de cinquenta centavos.  Agora, não passam das de cinco! Coisa de sovina. Mesquinhez de Tio Patinhas.  
Os bonbons também encolheram. O meu cerejão, virou cerejinha. E os chocolates de marcas famosas foram humilhados e cortados impiedosamente pela metade. Que maldade!
Temos menos cacau e mais beleza. Ovos lindos, enormes e cheios de latex e leveza! A parede de chocolate cada vez mais fina lembra uma parafina. E tem sempre um brinquedinho lá dentro para dar mais peso. Até os coelhos ameaçaram greve geral! Não são obrigados a transportar brinquedos. Isso é coisa pro Natal. 
A culpa pode não ser dos chocolateiros, nem tão pouco dos cacaueiros. Talvez a falta de dinheiro da população... A indústria sacou e tudo miniaturizou. A gente não percebe e paga ainda mais caro, levando a metade da tentação. Os ovos mais pesados com nozes e castanhas recheados? Só para filhos de abastados.
Os chocolates diminuíram e ninguém bate panela. 
Por isso, nesta Páscoa farei diferente. Comprei um panelão gigante. Vou derreter chocolate branco e preto, sem usar conservante. Farei um ovo caseiro gigante de uns cinco ou seis quilos e meio! Vou me lambuzar por inteiro, sem gastar muito dinheiro.
Vou avisando... é só um devaneio. 
Tem gente já encomendando pelo whatsapp o meu ovão de chocolate. 
Novos tempos!
 
 
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quarta-feira, 2 de abril de 2025

QUEM BEBE DESSA ÁGUA...



Um jarro de água e goles de calmaria. O interior de Minas é assim. Minas verte suas águas naturais. Algumas, medicinais. Uma bica em cada canto. Nas praças, nos parques das águas em São Lourenço, Poços de Caldas e Monte Sião. Delícia de região!

As minas d'água possuem milagrosos efeitos. Dizem os moradores satisfeitos, só para nos provocar. Estendo a mão. Provo todas. Porque não? Água boa pra pele, pros cabelos. Água pra curar reumatismo, diabetes, dor nos joelhos. Para curar o estresse. E acalmar o coração. Bebo à exaustão. Vai que cura tudo de uma só vez? Fui com cinquenta anos e volto com uns dezesseis! 

Experimento as alcalinas, suaves e leves. A seguir, as sulfurosas, mal cheirosas, quase não descem. As ferruginosas, com o gosto final de metal. Cabo de guarda chuva mineral. E meu Deus, quanta chuva havia! Era àgua por todos os lados. Nos lagos, riachos, nas bicas e por toda a chuvosa viagem apreciando a mineira paisagem.

Lavamos a alma e o corpo pro ano inteiro. Circuito das águas em fim de fevereiro! Minas em sua essência. Boa prosa, café, bica d'água e pão de queijo! E em cada momento, uma canção de Milton Nascimento. 

No meio do caminho, um desafio sem muito sentido: o poço dos desejos! Escrito na madeira num poço de pedras da velha fazenda. E podiam ser três! Três desejos para satisfazer.

Interrompi minha paz e refleti em silêncio. Pensei em ser jovem outra vez. De melhor? Só o corpo, talvez. Ou, ganhar milhões em dinheiro e ter andar com seguranças, sem poder caminhar em paz pela vizinhança.

Antes do terceiro desejo, parei. Apenas estendi a mão e bebi a água pura que vertia da fonte. Sem pedidos, nem desejos. Apenas entendendo o valor do momento. 

A riqueza, de quem bebe da mãe natureza!



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