quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025
TROMBA DE CALOR!
domingo, 9 de fevereiro de 2025
A PLACA DA VILA FLOR
O nome
está na gravado.
A pequena e antiga Vila Flor conserva suas casinhas de pedra e ruas estreitas que parecem guardar o passado. Foi ali que
Henrique nasceu. Em meio aos campos verdes, sob um céu azul intenso, outras vezes, cinza modorrento de Portugal. As vinhas de Vila Flor serpenteiam as colinas e as oliveiras centenárias escondem os segredos de muitos casais.
Maria Emília era de Vila Real, não muito distante, onde as montanhas do Douro molduram o horizonte e o vinho é agua corrente.
Para Henrique a distância não existia. O coração dele escolheu Emília, ainda
que ela nunca tenha facilitado esse amor. Ela trazia a dureza das pedras
do Porto e a teimosia de quem queria trilhar o próprio caminho.
Partiu num domingo, no grande navio, cruzando o oceano rumo ao Brasil. Levou consigo o coração fechado, sem olhar o passado.
Henrique não se deu por vencido. Seu sexto sentido dizia que ela seria sua. Por amor ou loucura decidiu trocar as ladeiras pequenas de Vila Flor pelas esquinas de um enorme Brasil.
Encontrou Maria Emília um ano depois, já dona de uma venda, comerciante próspera e independente. Henrique, insistente, lhe jogou a semente da flor do amor, que veio da Vila Flor!
Casaram-se e tiveram três filhos. Todos os dias, Henrique se sentava à porta da vendinha, a cadeira virada ao contrário, dedilhando seu bandolim. Espantava a clientela assim, com melodias que nem ele sabia de onde vinham, mas, aos poucos, amoleciam o coração de Emília. Para as crianças, contava histórias criadas na imaginação. Era um português sonhador.
Com trabalho duro e madrugadas sem descanso construíram juntos uma história sólida como as paredes de Vila Flor. Henrique teve netos e "Henriqueceu" com esse amor. Até que a memória partiu sorrateira. E aquele que nunca esqueceu Maria Emília passou a esquecer dos seus dias e das memórias de uma vida inteira.
Partiu cedo, num domingo, dormindo ao lado de seu único amor.
Hoje, Vila Flor está tombada, preservada, como um quadro antigo no museu. Seus habitantes ainda descem as ruas de pedra nos dias de festa, carregando tradições que resistem ao tempo.
Quando vi as imagens do cortejo municipal, feito um triste
carnaval marcado por um tambor ritmado, senti como se Henrique estivesse ali,
descendo com eles, tocando seu bandolim desafinado.
Aquele amor que cruzou o oceano veio bater em mim. E corre nas minhas veias.
Na parede da minha casa, coloquei a placa que leva o nome: Vila flor. Também é seu o meu lugar, meu avô.
Porque, de certa forma, a sua viagem não terminou...
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