Ela saiu das
minhas mãos. Redonda. Na altura exata para ser tocada pela ponteira e morrer
suavemente na quadra adversária. Última bola. Último ponto. O ginásio vibrava com os gritos dos
estudantes loucos. A faculdade de Comunicação vencia pela primeira vez. Em cima
da Educação Física. Deu no Jornal, Davi venceu Golias!
No vestiário, a festa das meninas. Entre gritos, sutiãs e calcinhas. Banhos de água fria, gritos e gargalhadas. Ah, as meninas ficam assanhadas...
Num certo torpor e
sozinha, as lembranças me pegavam na curva do vestiário. Chegavam em flashes do
jogo, ponto a ponto, de mansinho. Dos treinos suados. Das manhãs perdidas de
sábado. As derrotas que me puseram no chão. Alguma dor. Contusão. As voltas por cima com a força e a
paixão dos meus vinte anos de músculos e explosão. Tudo gritava em silêncio no
meu peito em meio aos ruídos da multidão.
Com o suor grudado ainda quente e os lances cortantes na mente, acolhi a medalha dourada feito filho no peito. Fim de jogo. Fim da noite. Fim de festa. E aquele gosto de vitória retumbante e tênue que nos resta.
Vitória que vem e passa. Como tudo com o tempo. Que faz grandes e pequenos feitos deslizarem pela fresta como vento. Uma volta de carro pela orla da praia foi suficiente para baixar a adrenalina e voltar para casa sozinha. Com a medalha e o cansaço no corpo, olhei minha mãe, que me amaria do mesmo jeito, ganhando ou perdendo. Ela descansava há tempo num sono profundo e gostoso. Não menos vitorioso, de quem arrumou a casa, fez comida. Sem medalha, nem torcida. Em sua anônima lida.
Acordei-a
com um beijo e um leve sorriso... - Campeã, mãe, eu não disse?
-Eu sabia.
Amanhã você me conta tintim por tintim. E assim, eu fui dormir, com a exaustão
de quem venceu uma batalha e a dose de solidão que acompanha todo campeão...
depois da medalha.
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