Páginas

domingo, 23 de julho de 2023

MULHERES, SAIAM DA GARRAFA!

Eu gostava da geniazinha que entrava na garrafa e se confinava entre carpetes e almofadas rosa-lilás. A sala cheia de mimos e conforto. Ela poderia trazer livros, presentes caros e tudo que quisesse num cruzar de braços. Mas ficar presa com uma rolha no topo da garrafa era inaceitável. Muitas vezes, de castigo pelo amo! Que gênia atual quer um amo? Eu gostava da Jeannie. Não pensava naquele argumento insano.        

Se os personagens das séries antigas saíssem para um bate-papo hoje em dia, quanta discussão daria... Daniel Boone amigo, curto você e seu rancho. Suas frases antigas são tão puras... - te encontro no paiol, daqui a seis luas! Mas esse seu chapéu de pele animal. Que ideia cruel. Anos na sua cabeça que até cheira mal. Tire o chapéu, Daniel. Sua virilidade continua. Os bichos agradecem. Continue seguindo a lua.

Eu vibrava com os Pofs, Zapt, Vupt, Boing do Batman e Robin. Sabia que a luta era fajuta. Mas daria um conselho. Todos sabem quem é Bruce Wayne. Cara de um, focinho do outro. Arranja outro óculos ou uma cicatriz no rosto. Em verdade, Batman, até minha vó sem lentes sabia sua identidade!  

Para Samantha, a feiticeira, também daria uns toques práticos. James é chato. De vez em quando, faça um feiticinho inofensivo e barato. Um prato pronto pro almoço, sem ter que cozinhar. A casa limpinha sem ter que arrumar. E aquela orquídea seca no vaso, faça num torcer de nariz, novamente florescer. James não precisa saber.

As mulheres estão saindo da garrafa! Jeanny e Barbie tem novos formatos. Anti modelos. Mais diversos. Mais libertários. Nenhum major poderá mais prender. Há um mundo mudando lá fora. Ressurgimos mais humanas e sem escolta. 

Só se a gente quiser... pra garrafa a gente volta!

 

 *                                  *                                *

 

PEÇA O COMBO DOS LIVROS  INESPLICANDO VOL1 e 2 

E RECEBA EM CASA, COM DEDICATÓRIA...

PRESENTEIE COM LIVROS! 

chame no 13 997754072

 



sexta-feira, 21 de julho de 2023

O BIFE!



O casarão era enorme. Como tantos na Avenida Paulista. Muros brancos e um portão alto de ferro trabalhado, no estilo dos grandes palácios. 

Um funcionário abria o portão e seguíamos por um caminho que cortava todo o jardim até a escada de mármore da entrada. Havia um brasão da família na parede rosada. De metal, com uma coroa e duas espadas. Embaixo escrito, Barão do café. Eu não sabia o que significava aquilo. Não me impressionava. Achava o desenho bonito. Depois, vinha outra porta de madeira e estávamos na sala, com poucos móveis espalhados, quase vazia, que ecoava...   
                               
Tia Clarice ao fundo tocava lindamente seu piano branco. Olhos fechados, nem percebia os netos que cruzavam do seu lado com risos altos. Quando dava a última nota, ela voltava à tona. Abria seus olhos como quem acordasse de um sonho, ressurgindo para a vida real. Temos visita! Que lindas. 

Minha mãe sorria e elas se abraçavam no meio do salão. Logo seguiam para a copa tomar um café. Eu despistava, demorava um pouquinho e sozinha, sem que ninguém me visse, sentava no banquinho ajeitando a saia como fazia a tia Clarisse. Eu tocava... o bife! 
Ninguém me ouvia, nem as crianças no jardim, nem as duas amigas, entretidas em conversas animadas sobre livros e a vida. Eu ali sentada era a maior pianista do mundo. 

O piano foi sempre presente em minha vida. Não por mim, que me dediquei a instrumentos menos clássicos e menores. Mas pela família, como uma espécie de trilha, às vezes feliz, outras vezes melancólica, acompanhando nossas histórias. 

Meu irmão tocava, em casa, as primeiras canções de Tom Jobim. Lembro da graça e a elegância com que ele intercalava as pretas e as brancas. Eu esperava, sempre no final, o convite. Vamos tocar o bife? Quatro mãos! Eu e meu irmão. E junto com as notas duplas e divertidas, minha alma tocada se desdobrava e acompanhava os dois dedinhos que martelavam alegres e pequeninos. 

Minha mãe contou uma espécie de plano. Seus pais e ela foram convidados para ver meu pai, jovem, tocar piano. Era uma valsa, Strauss, se não me engano. Ele tocou e fisgou seu coração. Depois, meu pai dela se esqueceu. Era cena apenas. Minha mãe, com o tempo compreendeu.

O piano continua nas minhas memórias simples de família. 
Saudade do meu pai, do meu irmão, tia Clarice. 
E de mim mesma, quando apenas tocava... o bife!

******


AGRADECEMOS 350 K DE LEITURAS 

NO BLOG INESPLICANDO!

obrigada!

segunda-feira, 10 de julho de 2023

O TERCEIRO AMOR...


Foram anos de convívio. Filhos, conflitos. Rosas, risos, espinhos... Enfim, eles decidiram. O velho casal de amigos com trinta anos percorridos resolveu se casar. Com troca de alianças e uma mesa com toalha branca servindo de altar. Juntos na festa, a família completa, avós, primos, pets e netos e netas. 

Na cerimônia pequena e modesta os convidados teciam longas conversas entre goles de champanhe e licor, quando o locutor, que não era padre, nem pastor, profetizou o amor.  Para mim, eles são três! De onde vem a graduação não sei.

primeiro amor tem a cor da paixão. Feito um bólido. Tórrido. Chega com gana e fúria. Misturando sexo e aventura. É o amor impulsivo. Atração sem juízo que não sossega. Depressa se vai, assim como chega.

O segundo amor, completou, é o amor sólido. Construtivo e concreto. Tempo de comprar o terreno e erguer o teto. Ganhar dinheiro. Lamber a cria. O amor que enfrenta crises, deslizes, noites em branco e solavancos. É amor maduro e sereno. Resiste, se não for pequeno.

Vem o amor terceiro... O derradeiro. Chega na idade da contemplação. Muito já se fez. Muito aconteceu. A dor nos joelhos veio. Os cabelos embranqueceram. Os filhos casaram. O terceiro neto nasceu.

A casa ficou vazia. Os remédios juntinhos, numa vasilha. Sobrou o... você e eu. O último amor apareceu. Maior e mais profundo. O amor que cresceu. Do outro, o incompreensível compreendeu. Nada mais surpreende. Nada mais julga.            
É o terceiro amor...  o amor que cuida!


*   *     *                                    


QUER VER ESTA CRÔNICA FALADA AGORA, NO YOU TUBE?




quarta-feira, 5 de julho de 2023

AVE SOZINHA. AVE MARIA!


Branca e emplumada, ela caminhava sozinha na praia. Fitava o céu e o mar enevoados.

 Deve ter escapado do bando e veio dar umas bandas pelo chão. Pisava delicada nas areias fininhas e em algumas migalhas de conchinhas. Ia devagar, mansinha. Marchando em contemplação. 

Eu era aquela ave solitária na praia. Sorvendo o silêncio e a beleza. Seguia com ela serena e sozinha. Retilínea. Pernas em marcha, esticadinhas. Água e sal entre os dedos, sentindo o prazer egoista em segredo.

Seria uma garça, gaivota, albatroz ou pelicano? Às vezes me engano com as aves que voam sobre o oceano. Era um ser alado somente, na palidez da minha visão, sem maior classificação. Batizei-a Maria. A ave Maria. O divino ali cabia.

Naquele momento sem gente, o vento guiava minha mente por mares distantes e verdes. Eu velejava sem velas na suave atmosfera. Um balanço manso da alma em terra. 

A ave não me via. Eu me via nela. 

O sol ardente de repente apareceu. A ave solitária abriu suas asas, agora aquecidas e mergulhou no mar.  A seguir, num ímpeto aéreo e belo emergiu. 

O seu arrepio de penas me sacudiu.

Cheguei mais perto sem ela perceber. Tinha ar de contente. Vi um bico sorridente.

O breve momento foi suficiente. Desmontou a cena. Voltamos a ver gente, gente e mais gente.

Ela voou. Eu voei também.

 

*************

 

OS LIVROS INESPLICANDO VOL1 E VOL2 

Estão à venda nas grandes plataformas. Peça o seu!

OBRIGADA A TODOS!

domingo, 2 de julho de 2023

ME DÊ UM JARDIM...

Se pensar num presente para mim... me dê um jardim.

Não hesite. Acredite. Um jardim seria o melhor presente. Pode ser pequeno. Mas que tenha flores suficientes. Coloridas. Pode ter orquídeas, sem vergonhas ou margaridas. Um ou dois arbustos, pedriscos e musgos. Mas que venha com boa terra. Pode ter húmus. Adubo animal. Evite aqueles pozinhos artificiais.  Minhas flores costumam usar coisas naturais.

A grama não tem muito que pensar, escolha a São Carlos ou a esmeralda. Fácil de tratar. Basta sol e água. De vez em quando tirar um bocadinho de praga.

Se for me presentear com um jardim... Não pense duas vezes. Vai alegrar meu coração. Se for pequeno, levo na mão. Se for muito grande, eu trato de arranjar um caminhão. Não rejeito jardins de modo algum. Sempre sei onde colocar. E não precisa ter pomar. Bastam as flores e as abelhas já virão. Junto com elas o beija flor, os grilos e muitos insetinhos escondidos na grama pelo chão. Quero o combo completo com tudo que for e flor.

Quando for me dar um jardim. Fique à vontade. E muito tranquilo. Sei da responsabilidade. Rega, poda, conversas ao pé do ouvido. As plantas entendem o que exala, além da fala.

Se for me presentear com um jardim, não esqueça que meu aniversário é em julho. Inverno, de céu cinzento. Um frio intenso de trincar os dentes dos anões do jardim e colocar paletó nos gnomos e querubins. Então aproveita na hora da compra e traz um pouquinho de sol concentrado pra mim. 

E um outro tanto, entre duas nuvens... pro meu jardim!


*************************

 QUE TAL ASSISTIR ESTA CRÔNICA FALADA NO YOUTUBE, AGORA?