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terça-feira, 25 de abril de 2023

PASSOU O ANEL...

Era a minha melhor amiga. Alta e comprida. Eu era mais baixinha. Uma dupla desproporcional. No coração, nosso tamanho era igual. Eu tinha aulas e muitos planos. Ela tinha um menino dos sonhos.

Íamos juntas todos os dias para o colégio. Eu e ela. Na sala de aula, as duas coladas na janela. Eu levava meus livros pesados e encadernados numa mochila azul marinho. Ela só tinha os olhos para o menino.

No recreio, uma grande roda se fez no meio do pátio.  Brincadeira perfeita para se aproximar do garoto e ter um ligeiro contato. Lencinho atrás! Joguei o lenço nela e ela jogou no rapaz.

O milagre acontecia. O menino dos sonhos, atrás dela corria. Mas uma areia fina no chão de cimento deu triste fim ao acontecimento. Ela espatifou-se no chão. A roda se desfez feito furacão. O menino dos sonhos não a pegou nos braços nem tão pouco a socorreu. Peguei uma blusa fina na minha mochila e aliviei com cuidado a sua vergonha e a dor dos joelhos machucados.

Passamos mais um longo tempo juntas. No colégio e nos caseiros encontros. Eu lhe ensinava música e biologia e ela sofria, ainda, pelo menino dos sonhos.

Mas o tempo passa ligeiro. Veio outra brincadeira. O passa anel. Um novo garoto surgiu. Alto e comprido como ela. Passou o anel em sua mão e esquentou seu coração que fácil se derreteu. Um novo menino dos sonhos apareceu!

Coloquei meus cadernos pesados dentro da mochila e voltei pelas ruas sorrindo e feliz, agora sozinha. Éramos meninas.

Os sonhos e os amores mudam rápido. Como  as meninas viram as esquinas.

 

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terça-feira, 18 de abril de 2023

O MAR DA MINHA RUA...


No fim da minha rua mora o oceano. Somos vizinhos de porta. Ou quase isso. Separados por um  amontoado de pedras que antes se aconchegavam juntinhas e que aos poucos foram se espraiando pela força das águas.  

Da minha varanda vejo um belo e líquido recorte do mar. Nos dias azuis, barquinhos e velas cruzam as águas para o sul e para o norte. O toque pontual nessa pintura da natureza, são as cinco ou seis pedras reunidas no meio da linda vista. Equilíbrio presente nas grandes obras artísticas.

Nos dias carrancudos ouço o desabafo do oceano espumando  revoltado. Seu tom mais alto ecoa no silêncio do meu quarto. Águas que batem nas pedras com braveza. Ondas de agonia com os limites que o homem cria. As pedras lhe fazem contenção. O mar detesta o não. Nestas noites de fúria, ele invade e lambe raivoso até o meio da rua.

A garganta estreita que dá saída para o oceano aberto fica perigosa e sombria. Vejo ao longe e aflita um novo cenário que se agita. Ondas gigantes surgem no meio do mar onde antes não havia. Surfistas atrevidos já descobriram. Posso vê-los aos montes, aos domingos.

Andei lendo sem muita profundeza, sobre o mundo líquido de Bauman* e as transformações incessantes da nova realidade. O mundo das incertezas. Nada mais é garantido ou seguro. Tudo se transforma a cada segundo. Vou tentando me adaptar sem muitos danos à esse gelatinoso mundo.  

A areia branca que eu via do lado de lá, sumiu. Uma nova praia do lado de cá, ressurgiu. Será que vai voltar pro seu lugar? Ou está fazendo graça, o maleável mar?

Eu vou mantendo meus antigos planos e boiando nesse novo oceano. Mundo líquido. Digital amplificado. Hologramas e meta-formatos! Meu medo é que um dia eu olhe da varanda e o mar tenha saído de lá! 

Caso aconteça, não esquente a cabeça. Nem tente me procurar.

 Fui atrás da velha onda do mar...

 

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Sobre a teoria de Bauman*

https://www.fronteiras.com/entrevistas/a-fluidez-do-mundo-liquido-de-zygmunt-bauman


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quarta-feira, 5 de abril de 2023

PRISCILA NÃO BOTA OVOS

A dona galinha que é a produtora legítima dos ovos, cansou de reivindicar. Não adianta! O coelhinho é quem faz a festa da Páscoa trazendo os ovos de chocolate. Todo ano, coelho vai, coelho vem e o símbolo da fertilidade se mantém. 

A esperança e o renascimento, às duras penas ou entre pelos macios de pelúcias, começam misteriosamente a acontecer. E olha que nos últimos tempos, tem sido barra renascer...

Tenho morrido constantemente. Morrido nas enchentes. Morrido em aviões. Morrido na Ucrânia, Morrido em Gaza. E morrido às noites na cama, mais por decepção que por medo. Por isso, agora renasço todas as manhãs bem cedo.

Ter esperança é ousadia! E ela sempre ressurge e contagia. 

Faz alguns anos, ela saltou alegremente da cartola! Com suas orelhinhas pontudas e branquinhas. Priscila chegou sem eu esperar. Não é comum ter coelho de estimação. De olhos azuis e delineados. Que pula e gira no ar, come chinelos e faz carinhos aveludados. 

Nossa mascote ainda é filhote. Não sabe que é símbolo de fertilidade. Saberá com a puberdade. Priscila irá me trazer chocolates? Bombons? Cestas e colombas pascoais? Jamais. Priscila traz o bastante. A paz e a inocência dos animais.

Chocolates em  ovos ou em barras, compro quando der vontade. A qualquer momento. 

Páscoa é esperança de renascimento. E que essa doce esperança venha com a velocidade da cruza dos coelhos.

Celebremos!

 

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