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quarta-feira, 25 de agosto de 2021

DESARRUMANDO A CASA...

Derrubei dois livros abertos suavemente sobre o sofá da sala. Joguei a manta sem muitos cuidados. Juntei três cadeiras e espalhei objetos em desordem na mesinha do lado. Pronto. O toque de liberdade, sem perder o conforto.

No escritório, afastei a poltrona abrindo as cortinas da janela convidando o sol a chegar mais perto. Deixei o notebook aberto.

Adentrei o quarto, amontoei os cobertores criando e redesenhando macias montanhas. Empilhei seis travesseiros. Como se as crianças tivessem brincado por lá o dia inteiro. Aventura pura e sem censura.

Na cozinha comecei o recheio do bolo caseiro. Selecionei os ovos, o leite e a manteiga, deixando uma nuvem de farinha salpicada em neve sobre a mesa.

Desci do armário quatro taças de vinho, as preferidas dos amigos. Completei o cenário, abrindo todos os vidros da varanda pra que a brisa balançasse alvoroçando as plantas. Queria o movimento. Alegria, mais que vento.

Depois, liguei o rádio cantando alto um velho e conhecido refrão. Queria o coro, não um solo de violão.

Pronto. Sinais de vida alterando o silêncio das coisas. Movendo as roupas, empilhando as louças.

Enchendo minha alma de presenças e esperanças.      A casa... delicadamente desarrumada.

 

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terça-feira, 17 de agosto de 2021

ATENDE. É O PREFEITO!

 
                    

Passei muitas temporadas de férias na cidade de Itanhaém quando pequena. Graças a um tio que tinha uma linda casinha com uma rampa de pedrinhas, na rua que dava na praia dos pescadores. Da cidade em si, lembro pouca coisa...

Recordo a antiga ponte de madeira. A cama de Anchieta. A estátua de Mulheres de areia e da novela em sua primeira versão, com Eva Vilma, Ruth e Raquel, e Guarnieri como Tonho da Lua. Além de alguns personagens da rua...

Lembro mesmo é do Seo Alcides. Que eu pensava ser o prefeito da cidade. Na verdade, ele dirigia o caminhão da coleta de lixo, mas meu tio insistia em chamá-lo de “prefeito”. Grande sujeito. E tinha a panca e a autoridade do fictício cargo. Moreno, cara redonda. Um homem forte e meio calado. Metia medo na garotada. Morava na rua em frente à casa do  meu tio e tinha uma esposa, cujo nome, minha memória seletiva, deixou escapar...

Passei inúmeras tardes sentada na varanda da casa do Seo Alcides, que tinha um carinho especial por mim, a menor de todas as crianças que passavam férias em Itanhaém. Éramos muito amigos. O prefeito e eu! Depois de anos, eu já adolescente, meu tio contou uma história que surpreendeu...

No meio de uma importante reunião da Fiesp, repleta de diretores e executivos da indústria. Meu tio era pressionado pela queda das vendas, numa calorosa discussão sobre mercado e crise financeira, quando foi interrompido pela nervosa secretária que adentrou a sala com o velho telefone de fio na mão:  -Sei que não devia interromper, mas acho que o Sr. Diretor vai querer atender. Ele disse que é urgente! É o prefeito de Itanhaém...

Meu tio, rápido e astuto, tirou o telefone das mãos da secretária e atendeu prontamente com ares de poder... O que é que há? Diga lá, prefeito! Pode falar...

Era o Seo Alcides, o motorista do coletor, parando a reunião da Fiesp!


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EM BREVE...

INESPLICANDO... COM NOVIDADES!

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quarta-feira, 11 de agosto de 2021

O BONDE E A ESPERANÇA...

A Rua João Pessoa é uma linha reta que vai dar no Porto de Santos, cruzando o centro antigo da Cidade. Zona das bocas e da antiga boemia. Dos famosos Love Story e Fugitivo. Região do cais. Notívago caos. 

De dia, o comércio já não cresce. À noite, quando escurece, as mulheres aparecem feito mariposas. E se espalham pelas casas noturnas, salteando alegres entre clientes e copos de cerveja. Som de forró e música sertaneja. 

São muitas. Algumas, atrevidas. Outras simpáticas e coloridas. Expostas! Com pernas à mostra. Porém, mais discretas que os rapazes da General. Com saltos quinze e meias arrastão. De humor ácido e escrachado. Vozes finas e físicos avantajados. 

Conheci alguns desses personagens na saída do trabalho, no lusco-fusco confuso  das sete da noite. Todo cuidado é pouco no velho centro da cidade. Nessa hora tudo se mistura. Trabalhador e meliante. Policial, vendedores, ambulantes. E as mulheres da noite surgem dos casulos ocultos da avenida. Borboletas esvoaçantes. 

O Centro histórico fervilha. Tem cheiro de gasolina e maresia. É a zona do Porto. Beira do cais, onde tudo começa e termina. Rota de muitas vertentes. Entrada dos esperançosos. Saída dos descontentes. 

Foi no meio de toda essa gente que eu vi uma moça na esquina. Cara de menina. Corpo de adolescente. O que fazia? O que tinha em mente? Queria dinheiro ou presente? Passei com meu saquinho de pipoca doce e quente que ela me pediu com o seu olhar. Queria provar. Como quem quisesse, talvez, fugir e brincar.

Estendi a mão e ofereci a pipoca. Ela pegou e sorriu. Guardei na lembrança. O bonde passou. Ela subiu. Segui com o meu saquinho de pipocas quase vazio. Mas no fundo, lá no fundo, achei um grãozinho ainda puro de esperança. Seu sorriso era de criança. 

 

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VEM NOVIDADE POR ÁI...

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AGUARDE!