
Passei inúmeras temporadas de férias na cidade de Itanhaém quando pequena. Meu tio tinha uma linda casinha com rampa de pedrinhas arredondadas, na rua que dava na praia dos pescadores. Da cidade em si, lembro pouca coisa.
Recordo a antiga ponte de madeira. A cama de Anchieta. A estátua de Mulheres de areia, em sua primeiríssima versão, com Eva Vilma de Ruth e Raquel, e Guarnieri como Tonho da Lua. Além de alguns personagens da rua.
Lembro bem é do Seo Alcides. Que eu pensava ser o prefeito da cidade.
Na verdade, ele dirigia o caminhão da coleta de lixo, mas meu tio insistia em chamá-lo de “prefeito”. Grande sujeito. E tinha a panca e a autoridade do fictício cargo.
Era moreno, cara redonda e um dos olhos semi esvaziado. Um homem forte e calado que metia medo na garotada. Morava na rua em frente à casa do meu tio e tinha uma
esposa, cujo nome, minha memória seletiva, deixou escapar.
Passei muitas tardes sentada na varanda da casa do Seo Alcides, que tinha um carinho especial por mim, a menor de todas as crianças que passavam férias em Itanhaém. Éramos amigos. O prefeito e eu!
Depois de anos, eu já adolescente, meu tio contou uma história que surpreendeu.
No meio de uma importante reunião da Fiesp, repleta de diretores e
executivos da indústria, meu tio estava sendo pressionado pela queda das vendas. Era calorosa a discussão sobre mercado e crise financeira, quando a nervosa secretária adentrou a sala com o velho telefone
de fio na mão: -Sei que não devia interromper, mas acho que o Sr. Diretor
vai querer atender. Ele disse que é urgente! É o prefeito de Itanhaém...
Meu tio, rápido e estratégico, tirou o telefone das mãos da secretária e
atendeu com ares de poder: - O que é que há? Diga lá, prefeito!
Pode falar...
Era o Seo Alcides, o motorista do caminhão coletor, parando a reunião da Fiesp!
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