Ela deve ter uns cem anos de existência. E resistência. Tem os cabelos
armados pelas árvores. Estilo despojado e legal. Juba natural! O nariz e a boca não se vê. Imagino um sorriso triste. Irônico, talvez.
A casa fica no meio do velho caminho que vai dar na Ponte Pênsil, em São Vicente. Tem cara de gente. Os olhos, abertos e atentos. Com uma dose de sofrimento. Deve ter sido linda no passado. Hoje, maltratada, vê tudo ao seu redor, estagnado. Será que acompanhou a construção da ponte? O intenso movimento dos dois lados? E o sangue dos operários que trabalhavam sol a sol, derramado? Alguns morreram por lá. Tristes gemidos dentro da casa ainda devem ecoar. Não ouso entrar.
Hoje, a casa só espia e ouve o tiritar das tábuas de madeira soltas na ponte a chacoalhar. Sempre gostei da sensação do tremular. Mas ela não deve gostar. Difícil deve ser descansar. Carros passam e buzinam. Pescadores, em grupos, chegam pra pescar. Meninos loucos, pulam da ponte pro mar. E a casa a espiar. É a vida que lhe resta olhar.
À sua esquerda vê a velha estrutura pênsil e sua linda arquitetura. Embaixo, os barcos passando fazendo onda e espuma. E o sol se pondo defronte, na linha do horizonte. Mas é bem à sua frente que a casa se desespera. Vê a casa das bananadas. Desde mil novecentos e nada. Ainda útil e movimentada. Ponto certo de parada. Todos entram e a visitam para comer e se deleitar.
A casa fica no meio do velho caminho que vai dar na Ponte Pênsil, em São Vicente. Tem cara de gente. Os olhos, abertos e atentos. Com uma dose de sofrimento. Deve ter sido linda no passado. Hoje, maltratada, vê tudo ao seu redor, estagnado. Será que acompanhou a construção da ponte? O intenso movimento dos dois lados? E o sangue dos operários que trabalhavam sol a sol, derramado? Alguns morreram por lá. Tristes gemidos dentro da casa ainda devem ecoar. Não ouso entrar.
Hoje, a casa só espia e ouve o tiritar das tábuas de madeira soltas na ponte a chacoalhar. Sempre gostei da sensação do tremular. Mas ela não deve gostar. Difícil deve ser descansar. Carros passam e buzinam. Pescadores, em grupos, chegam pra pescar. Meninos loucos, pulam da ponte pro mar. E a casa a espiar. É a vida que lhe resta olhar.
À sua esquerda vê a velha estrutura pênsil e sua linda arquitetura. Embaixo, os barcos passando fazendo onda e espuma. E o sol se pondo defronte, na linha do horizonte. Mas é bem à sua frente que a casa se desespera. Vê a casa das bananadas. Desde mil novecentos e nada. Ainda útil e movimentada. Ponto certo de parada. Todos entram e a visitam para comer e se deleitar.
E para a casa que espia, minguada, ninguém dá nada. Nem tinta, nem reboco. Nem pomar. A casa só espia, espia, espia...
Até que um dia, alguém, mais cruel, venha seus olhos
tampar.
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Foto : Tony Lamers
Atualizando... a casa foi demolida em 2022. R.I.P.
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Meu Deus Inês, passo por lá todos os dias e em nenhum destes dias a casa parei pra reparar.
ResponderExcluirGrata por avisar, a partir de hoje esta senhora casa começarei a comprimentar.
Ass.Delba
Faça isso, Delba... ela irá adorar...bjsss
ExcluirTantas casas pelas quais passamos todo dia, sem olhá-las... E quantas delas nos espiam, com esperança - talvez a última.
ResponderExcluirÀs vezes, aparece alguém que se apaixona por uma delas... Por isso, elas lançam olhares pela janela... muito obrigada, poeta! Muito obrigada pelo carinho da leitura...
ExcluirDe imediato; ao olhar para a foto , vi vida na casa , e isso me fez procurar onde seria o local que ela habita.... Que surpresa, ao ler
ResponderExcluirsua Poesia e sentir que tudo ia de encontro ao primeiro sentimento que tive em relação a ela , e como você foi carinhoso(a) e sensível ao adentrar o interior dela ..! Parabéns ! Lindo!
Obrigada! Visite sempre o blogue!
ExcluirLindo texto.
ResponderExcluirCreio que as casas guardam memórias.
Cada uma tem sua história e esta que você descreve, entristecida e velha, deve saber tudo de cor...
Ah, os poetas... vendo coisas onde ninguém vê.
ResponderExcluirNão a conheço...
ResponderExcluirNem nunca ouvi falar...
Desta tal casa que espia..
Pessoas que lá moram nem tempo tem de reparar..
E assim vão se acabando...
Com suas histórias contadas por pessoas que a viram...n
Não sei de deste seu início...
mas com certeza algums história aperta seu coraçao.
Adilson D. Israel
São Paulo
Que quem sabe um dia
Passará por lá e também espiar.
Abraço, Adilson!
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